Parasita
- Como é isso de parasita alienígena?
Os médicos trocam um olhar como quem jogam jokenpô mental para decidir quem fala. Um deles se prontifica.
- Identificamos esse espécime em seu cérebro.
- Ai meu Deus! No meu cérebro!? Eu vou morrer!?
Após outra troca de olhares o outro médico é que responde.
- Na verdade... Acreditamos que o parasita seja você.
Alan, um dos médicos, mais precisamente o mais jovem, de cabelo quase raspado, o que falara anteriormente, se arrependeria para o resto da vida por não ter fotografado o momento. Por anos se lembraria da expressão do paciente Maciel como uma das expressões faciais mais engraçadas que já viu na vida.
- Vocês... Estão de sacanagem, né? - Maciel pega o celular rapidamente e aciona a tela. Olha pensativo e nem chega a colocar a senha de desbloqueio. - Como é que... Parasita!? Quer dizer agora que eu sou alienígena, é isso?
- É complicado... - Peres, o médico gordinho de cabelo branco deixa escapar num suspiro.
O tempo passa lentamente enquanto os três passeiam os olhos pela sala do consultório, como quem procura alguma coisa para dizer. A estante com duas prateleiras cheias de livros não ajuda muito nessa procura, talvez pela distância...
- Isso não faz nenhum sentido. - Maciel passa a mão nos cabelos angustiado. - Primeiro, eu tenho um parasita dentro de mim.
- Alienígena.
- Depois, eu que sou o parasita!?
- Alienígena.
- E eu estou parasitando o quê!? Nunca ouvi falar de parasita-pessoa.
- Pessoa não, ali...
- Tá! Caramba! Já entendi! Que porra de parasita é esse!?
- Precisamos que você se acalme.
-Tudo bem! Tudo bem. Estou calmo.
- Olha. - Peres tira uma folha da gaveta e coloca sobre o birô.
- O que é isso?
- Seu cérebro.
Maciel olha atentamente. Coça o queixo e olha mais um pouco. Ergue os olhos para ver se Peres e Alan estão rindo da cara dele. Baixa o olhar novamente para aquela imagem de um cérebro dentro de um crânio.
- Tá, e o que é que tem?
- Use isso. - Peres estende uma lupa.
Relutante, Maciel aceita o desafio e coloca a lupa para aumentar seu próprio cérebro.
- Eita!
- Consegue ver?
- Tem uma parte aqui que tem um emaranhado meio diferente. É isso!?
- Sim.
- Tá, e como sabe que isso é um alienígena? Pode ser uma mutação, uma cristalização ou...
- Você é filho de Luísa, não é? Luísa Sóira...
- Sou, você a conheceu?
- Sim, você sabe o que ela fazia?
- Trabalhava num laboratório, no Polo Sul eu acho. Olha, nem conheci minha mãe direito. O que isso tem a ver?
- Ela estudava espécimes alienígenas.
- Tá, vamos parar com essa história. O que você está chamando de alienígena exatamente?
- Formas de vida não pertencentes à Terra.
- E como porra se encontrava alienígena nos anos noventa, cacete!?
- Você faz ideia de como se encontra hoje? - Alan finalmente volta à conversa.
- Não! Como?
- Do mesmo jeito que em 80 ou 90: asteroides, meteoritos...
- OVNIs... - Peres completa.
- É, OVNIS também. Mas são poucos os relatos acompanhados de amostra. De qualquer forma, não importa. Você sabe que sua mãe morreu pouco antes de você nascer.
- Sim, ela teve câncer de... Espera um pouco! Vocês querem dizer que o que matou minha mãe...
- Suspeitamos que o parasita tenha entrado no feto e se mesclado a ele.
- Então eu guardo esse bagulho desde que nasci!?
- Desde um pouco antes, se estivermos corretos.
- E não tem como tirar isso de mim?
- Acho que você não entendeu. É possível que esse parasita alienígena tenha se mesclado de tal forma com seu cérebro que hoje viva em simbiose e, na verdade, a parte central, a que define quem você realmente é, não seja humana. Se você fosse um computador, é como se o processador fosse alienígena.
- Na verdade, seria o HD. - Alan corrige o outro médico. - O HD é onde ficam armazenados todos os dados e o Sistema Operacional.
- Sim, mas antes de ser guardado, tudo existe na memória, não?
- É, mas...
- Gente! Será que dá pra parar de discutir tecnologia!? O que é que faço agora!?
Os dois médicos se olham mais uma vez e é Alan quem responde esta:
- Tem um bar a dois quarteirões daqui...
P. S.: Publicado no Wattpad.