mundo

Da Necessidade da Regulação da Mídia

Quando se fala que a grande mídia brasileira constitui um quarto poder e que eles manipulam a informação descaradamente, sinto como se os mais jovens vissem nisso alguma "teoria da conspiração". Infeliz e tragicamente, não é.

Minha percepção dessas distorções vem da época em que cursei universidade, por volta da virada do milênio. Lembro quando estava envolvido e empolgado com a causa do Software Livre e saiu na Veja matéria para desmerecer a solução. Baseada em opinião, mas opinião de gente "desinformada", apresentada como fato. Daí, temos greves nas universidades e nenhuma cobertura na imprensa. Isso para citar alguns casos, mas o resumo é o seguinte: quando estamos em uma realidade bem específica e a grande mídia trata essa realidade de uma maneira injusta (seja omitindo fatos relevantes ou distorcendo informações) é que percebemos o que acontece com a grande mídia no Brasil. A maioria dos que denunciam essa postura da grande mídia o fazem por ter vivenciado situações assim. Isso não é de agora e nunca parou, pelo contrário, com o medo da Regulação e com o oportunismo em torno do atentado ao Charlie Hebbo, eles estão mais manipuladores do que nunca!

Sobre o Charlie Hebbo, cabe um comentário rápido. A Revolução Francesa foi um evento de enorme impacto na história da França e do mundo. Não gosto da linha de humor do Charlie Hebbo, considero ofensiva e de mal gosto, mas creio que a visão que eles tenham de Liberdade exige que opinião desse tipo seja respeitada. Posso estar errado quanto a isso, mas para mim isso explica tal permissividade. Na minha opinião, o que houve foi a junção de duas "forças naturais". Como censurar a crítica à religião em um país que fundamentou os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade se libertando da Monarquia, da Nobreza e da Igreja? Como evitar que extremistas religiosos revidem a ações que eles consideram insuportavelmente desrespeitosas? Este é um ponto.

A despeito disso tudo, o que está havendo no mundo (principalmente no Brasil) é uma onda oportunista que tenta trazer a comoção em torno do Charlie Hebbo para a bandeira da Liberdade de Imprensa. O que houve na França foi terrível, mas foi um atentado pontual em resposta a uma ofensa, não foi uma "tentativa de calar a imprensa". No máximo, foi um alerta exigindo respeito com o que é sagrado para eles.

Mas voltemos à regulação da mídia. Luis Nassif tem um conjunto de artigos muito reveladores sobre a Veja, que ele reuniu no que chamou de Dossiê Veja. Partindo para a Globo, temos uma emissora de TV que nasceu e cresceu absurdamente na época da (e devido ao apoio à) Ditadura Militar. Quando tive conhecimento dessa parte de sua história, tive resposta para uma dúvida que trazia desde a adolescência: por que a Globo controla tanto sua equipe, de modo que ninguém cita outras emissoras, mesmo em notícias relevantes? É como se eles não reconhecessem a existência das outras. Isso não é apenas curioso, mas assustador: se uma emissora tem controle da informação a ponto de fingir para o seu público que não existem outras, que outro tipo de manipulação/omissão/distorção eles serão capazes de fazer (com maestria) sempre que lhes for conveniente? O documentário Muito além do cidadão Kane é outro material que fortemente recomendo.

Sabe o que é engraçado? Os grandes veículos de mídia esperneiam diante da possibilidade de uma regulação, evocando a liberdade de imprensa, quando são eles que mais movem protestos contra blogueiros. Curioso, não?

Deixando um pouco as emissoras e revistas, temos outro problema sério no Brasil: a Constituição proibe que políticos sejam donos de veículos de informação, mas na prática uma grande porcentagem dos que nos representam em Brasília quebra essa regra. Lembre-se das famílias Magalhães (Bahia), Sarney (Maranhão) e Mello (Alagoas), só para citar alguns.

A grande verdade é que no Brasil não temos liberdade de imprensa, mas sim um "monopólio de informação e opinião", restrito a algumas poucas famílias, que fazem parte das mais ricas do Brasil. E a coisa só piora. Se não conseguirmos aprovar a regulação da mídia, sabe lá onde vamos parar...

Atualização: vejam, num caso mais atual, a cobertura dada pela Globo sobre a falta de água em São Paulo.

Special: 

Paraguai: mais um Golpe de Estado na América do Sul

Era uma vez um bispo que queria ser presidente, mas seu país não aceitava um sacerdote de qualquer religião assumindo um cargo desses (se todo mundo tivesse leis assim não teríamos políticos propondo leis ridículas, que privilegiam suas próprias crenças obrigando todos a seguirem-nas). Enão ele pediu ao Papa para deixar de ser bispo e se candidatou. Venceu e só depois o Papa finalmente aceitou seu pedido.

Foi o primeiro bispo na história da Igreja Católica a pedir (e conseguir) o estado laico para entrar na política.

Com campanhas versando sobre reforma agrária e redução da desigualdade social, esse ex-bispo seguiu. Mas ele tinha um vice de outro partido, que não gostava mais do caminho que sua política estava tomando. E tinha um rival que pensava nas próximas eleições e tinha medo. Um que desejava a presidência e temia o carismático "Bispo dos Pobres".

Assim foi que, num certo dia, o bispo recebeu um processo de Impeachment. A razão foi um incidente entre manifestantes e policiais, nos campos, que levou a quase vinte mortes. Um incidente atribuído ao bispo. E assim, cerca de um dia depois, sem ter tempo para uma defesa, ele é deposto do poder e substituído pelo seu vice.

Essa historinha não é uma fábula. Está acontecendo agora. O bispo se chama Fernando Lugo, o vice é Federico Franco. O país, o Paraguai.

É triste ver como a América Latina se torna cada vez mais um ambiente podre politicamente. Em 2009 houve um golpe militar em Honduras, que até hoje não está solucionado. Agora, temos esse novo golpe de estado bem aqui entre nossos vizinhos.

Sobre o Paraguai ainda é muito cedo mas, assim como houve em Honduras, a posição que se está desenhando é de não reconhecimento pela comunidade internacional ao novo poder estabelecido mediante tal atentado à democracia. Só os EUA, "defensores da democracia" (devidamente entre aspas), é que pediram calma aos milhares de manifestantes paraguais que estão nas ruas pedindo que se desfaça essa lambança.

Aqui no Brasil, por outro lado, essa corja aumenta seus próprios salários sucessivas vezes (e em altos montantes a cada vez) ao passo em que corta direito dos funcionários de serviços públicos (estamos com mais de 50 universidades federais em greve). Onde é que isso tudo vai parar?

Está por fora desse Impeachment? Que tal dar uma olhada nessa matéria da Band?

Quadro Geral de Honduras

#Honduras: El país donde una consulta popular es ilegal y un golpe de estado es "constitucional" #crisisHN #titerecheletti  @jorgeluispaz

Tegucigalpa vive um inferno há alguns meses. Um inferno que se intensificou esta semana, com o retorno de Zelaya. A história me interessou por claramente ser algo relevante na História Mundial, que temos a oportunidade de ver acontecendo. E mais, com Twitter e outros recursos, a "versão do quarto poder" se dilui facilmente e podemos enxergar as coisas com mais clareza.

Trata-se de uma longa história, mas para resumir:

  • Manoel Zelaya foi eleito presidente de Honduras, assumindo em 2006.
  • A constituição de Honduras proibe que se fale sobre reeleição. - Que democracia é essa que proibe tratar de um assunto? Até quem defende a legalização das drogas tem o direito de falar sobre seus pontos de vista, mesmo que o que eles defendem argumentativamente seja ilegal na prática, pelas regras atuais.
  • Zelaya subiu pela Direita e virou Esquerda no poder, desagradando a classe média e alta de Honduras.
  • A imprensa distorcia informações e Zelaya decretou espaço para que ele falasse sua versão dos fatos. Como diziam os Titãs, "Miséria é miséria em qualquer canto".
  • Zelaya propôs um referendo fazendo à população com a seguinte pergunta: Você está de acordo que, nas eleições gerais de novembro de 2009, se instale uma quarta urna para decidir sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que aprove uma nova Constituição política?
  • No dia em que o referendo ia ser feito, houve um golpe militar de tomada do poder. Zelaya foi deposto e expulso para Costa Rica.
  • E assim começou a nova Ditadura, com Roberto Micheletti assumindo a presidência provisória, até as eleições de novembro.

Muita coisa aconteceu. Muitos países romperam laços provisoriamente com Honduras (inclusive o Brasil, Estados Unidos e países europeus). A ONU repudiou o golpe. Honduras já saiu da Organização dos Estados Americanos. O mundo quer que Zelaya seja readmitido no poder, simplesmente por não aceitar mais que um presidente democraticamente eleito seja assim derrubado, num Golpe de Estado. Os golpistas recusam qualquer acordo que envolva Zelaya voltar ao poder. E assim vai, muita gente presa, muitas ações ditatoriais: toque de recolher, quebra de direitos garantidos pela constituição...

Esta semana, segunda-feira, Zelaya apareceu em Tegucigalpa (nome engraçado! parece um nome aleatório gerado por algoritmos meus :-P), capital hondurenha, do nada. Está agora na embaixada brasileira. Desde que ele chegou lá, o governo ditatorial decretou toque de recolher, criou barricadas pra impedir chegada de partidários de Zelaya vindos de outras cidades, usou balas de borracha, gás e água contra partidários de Zelaya que já estavam por lá e prendeu e feriu muita gente. Fecharam o Canal 36. Atacaram a embaixada brasileira. Corte de energia elétrica, bombas, inibidor de sinais, máquina geradora de ruído (que provoca surdez) estão entre as ferramentas utilizadas desde então. Um estádio está sendo utilizado como prisão e mais de 150 "amigos de Zelaya" estão detidos. O toque de recolher somente hoje foi liberado. mas por apenas 4h, no intuito de que as famílias hondurenhas possam reabastecer suas dispensas. Mesmo assim, ficou proibida a reunião em grupos de mais de 20 pessoas. Embaixada brasileira também se reabasteceu, com ajuda da ONU e de diplomatas de outras embaixadas.

Ontem havia rumores de que o Supremo Tribunal de Honduras estava preparando um documento que legitimaria a invasão da embaixada brasileira. Outros rumores diziam que o exército brasileiro estava de prontidão. Felizmente, nenhuma das ações se concretizou ainda.

No Brasil, li que a imprensa não tem dado a devida atenção ao caso. E ao narrar o caso, questiona mais o apoio dado pelo Brasil a Zelaya do que a barbárie de um golpe de estado nos dias de hoje. Como todos devem saber, nossa imprensa se fortaleceu muito na época da nossa própria ditadura, e com ela aprendeu a controlar as massas. Vai ver tem um pouco disso nessa postura da nossa mídia. Ou talvez com o medo de Zelaya ser um novo Hugo Chaves no mundo, quem sabe o que pensa o quarto poder? Incrível como ainda hoje tem gente dizendo que seria bom voltarmos à ditadura... Fala sério!

Os golpistas em Honduras cercaram Zelaya na embaixada brasileira, mas são eles que estão sem saída. O mundo todo está contra eles. A ONU e países isoladamente (incluindo o Brasil) já declararam que não vão nem aceitar um presidente eleito em novembro sob o governo golpista. Então o que eles querem mais? Zelaya contrariou a constituição de Honduras algumas vezes, mas nada como um rival muito mal-caráter pra contrastar com você e fazer você virar santo. Agora é irreversível: ou Zelaya vira mais um herói da américa central, ou um mártir. Os golpistas escolhem.

Estúpida Direita

Ainda sobre a crise em Honduras, é interessante notar a postura de muita gente por aqui. Seria cômico, não fosse o alcance e a influência que têm sobre a nossa população, ver esse povo esperneando.

Defendendo a ditadura hondurenha simplesmente porque temem "um segundo Hugo Chaves". Ora, seja um novo Chaves, um novo Kiko ou o que for, nada justifica o uso da força. Não adianta a direita espernear e defender os militares, nesse papo de que não foi um golpe. Toque de recolher, quebra de direitos como o da inviolabilidade de residências, prisões a torto e a direito: é uma ditadura e todo mundo vê. Uns é que fingem não ver isso.

Mas o que esperar desse povo? É o mesmo que concordou quando FHC inventou sua própria reeleição e depois condenou publicamente Lula, acusando-o de querer se reeleger novamente (coisa que, ao que me lembro, ele nunca havia dito). Não dá pra esperar coerência desse povo.

Falam do erro de o Brasil dar refúgio ao presidente hondurenho de direito, quando há tantos fatos históricos em que embaixadas refugiaram perseguidos. Não que haver um precedente baste, mas é que o ataque parece resumir-se ao ato em si, sem considerar as razões e a forma como está sendo feito.

Criticam a ação do Brasil, quando praticamente o mundo todo está apoiando tal ação, quando Lula abre uma sessão da ONU e se senta com Obama para discutir a situação. Quando Lula ureconhecido como o político mais popular do mundo pela Newsweek. Sinto muito, reacionários, mas é praticamente unânime o desejo de que o direito adquirido por eleição seja restituído ao presidente hondurenho, pelo menos entre as lideranças mundiais. O tempo de ditadura já passou e o mundo está inclinado a rejeitar esse tipo de absurdo.

Mas o que esperar dessa direita mesmo? São os mesmo elitistas de sempre! Com a mídia sob seu poder e sua legião de analfabetos políticos que só assistem a Globo e só leem a Veja, que insistem em chamar Lula de "analfabeto" como se um diploma de nível superior fosse um indicativo único de competência...

-- Cárlisson Galdino

P.S.: O que traço aqui é um quadro geral. Muito mais coisa está acontecendo! Acompanhe as notícias pelos links.

Special: 
Subscribe to RSS - mundo

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo.so' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo.so: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo_mysql.so' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo_mysql.so: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/php_pdo_odbc.dll' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/php_pdo_odbc.dll: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0