O Tio dos Diálogos

Estava revisando Escarlate III quando me deparei com uma inovação estilística de que nem me lembrava mais. Tem a ver com diálogos.

Existerm várias formas de expressar diálogos em um texto, isso é fato. Qual a melhor? Depende. Para texto teatral, por exemplo, é bom o formato com o nome do personagem antes da fala:

A sala está montada com uma iluminação parcial

Clarice: E aí? O que você tinha para me dizer?

Celso: Para quê a pressa? Podíamos aproveitar melhor o vinho antes de entrar nesse assunto.

Para quem não lembra ou não viu, foi a estratégia que adotei para Warning Zone.

Existe a forma das aspas, onde as falas ficam entre aspas. E existe a dos travessões:

A sala está montada com uma iluminação parcial

- E aí? O que você tinha para me dizer? - Clarice encara o recém-chegado Celso

- Para quê a pressa? Podíamos aproveitar melhor o vinho antes de entrar nesse assunto.

Como se vê, uma desvantagem deste método (assim como o das aspas) é que, por não ter na notação um espaço já certo para dizermos quem falou, precisamos complementar o texto com essa informação.

Não gosto de usar aspas porque prefiro utilizá-las para narrrar pensamentos.

Além desta desvantagem, existem outras. A principal que vejo é a continuidade da fala, com ou sem interrupção. Vamos voltar um pouco. Se você utiliza travessão ou aspas, precisa identificar quem falou.

- E aí? - Clarice pergunta.

- E aí o quê? - Celso responde, olhando de lado.

- O que você queria? - Clarice insiste.

- Ah, sim, sabe o Flavio? - Celso pergunta a encarando.

- Não, que Flavio? - pergunta Clarice, tentando puxar pela memória.

- Aquele da praça! - Celso tenta explicar melhor.

Como você pode facilmente notar, fica muito cansativo um texto assim. Por isso, é comum utilizar o mínimo possível de referência a quem falou. A gente tenta deixar claro quem falou primeiro e em segundo então subentende-se que as falas se alternam. Só se torna necessário descrever algum comportamento diferente complementar de algum dos interlocutores. Vê se não melhora:

- E aí? - Clarice pergunta.

- E aí o quê? - Celso responde, olhando de lado.

- O que você queria?

- Ah, sim, sabe o Flavio?

- Não, que Flavio?

- Aquele da praça!

Eu acho muito melhor. Mas isso leva ao problema de que eu falava. O que chamo de fala continuada acontece quando você narra uma fala e logo em seguida narra outra fala do mesmo personagem. Exemplos:

Flavio: Você não vai beber?

Clarice simplesmente não responde.

Flavio: Então eu vou tomar o restante do vinho.

Clarice não comenta nada.

Flavio: Tá, era Otávio e não Flávio. Você está certa!

Clarice: Está vendo? Eu não conheço nenhum Flávio da praça. Agora o Otávio já é diferente. Eu me lembro daquele dia que a gente saiu pra tomar sorvete e passamos na banca de revistas. Ele estava encostado naquela estátua de... Como é que chama mesmo? Daquele político antigo da cidade! Enfim, o Otávio é primo do Juarez, se você se lembra. É, acho que não. Mas ele estudou com a gente no segundo ano. Otávio tinha uma mania de ficar ouvindo conversas dos outros pra depois escrever histórias mudando só os nomes dos personagens, o que eu sempre achei muito inadequado. Expõe intimidades da gente! Mas ele chegou a publicar histórias assim. Quer dizer, não foi em livro, foi em um blog. E... Você não vai falar nada?

Então temos dois tipos de fala continuada. A primeira é a pausa na expectativa de uma fala do interlocutor, que não vem. A segunda é a de uma fala muito grande, que seria de muito mais confortável leitura se apresentada em mais de um parágrafo.

Na notação dos travessões, eu tenho resolvido o problema assim:

- Você não vai beber?

- ...

- Então eu vou tomar o restante do vinho!

Acho que funciona bem para esses casos. Já para as falas naturalmente longas, uma solução pode ser o uso de aspas para a continuação da fala.

- Está vendo? Eu não conheço nenhum Flávio da praça. Agora o Otávio já é diferente.

"Eu me lembro daquele dia que a gente saiu pra tomar sorvete e passamos na banca de revistas. Ele estava encostado naquela estátua de... Como é que chama mesmo? Daquele político antigo da cidade!"

Isso por um lado resolve, mas por outro confunde se você já está utilizando aspas para pensamentos. Se você já vem utilizando aspas para os diálogos, dependendo de como você atribui fala aos personagens pode gerar confusão também. Aí que entra o tio! O tio seria um travessão alternativo (que só funciona para quem, como eu, utiliza o caractere de hífen e não o longo) que representa continuação da fala anterior! A fala vazia (reticências) continua sendo interessante para representar que havia uma expectativa de fala. Veja como fica o exemplo:

- Você não vai beber?

- ...

- Então eu vou tomar o restante do vinho.

- ...

- Tá, era Otávio e não Flávio. Você está certa!

- Está vendo? Eu não conheço nenhum Flávio da praça. Agora o Otávio já é diferente. Eu me lembro daquele dia que a gente saiu pra tomar sorvete e passamos na banca de revistas. Ele estava encostado naquela estátua de... Como é que chama mesmo? Daquele político antigo da cidade!

~ Enfim, o Otávio é primo do Juarez, se você se lembra. É, acho que não. Mas ele estudou com a gente no segundo ano.

~ Otávio tinha uma mania de ficar ouvindo conversas dos outros pra depois escrever histórias mudando só os nomes dos personagens, o que eu sempre achei muito inadequado. Expõe intimidades da gente! Mas ele chegou a publicar histórias assim. Quer dizer, não foi em livro, foi em um blog. E... Você não vai falar nada?

Pois é, esta solução eu bolei quando escrevia Escarlate III, há alguns anos. Hoje revendo, achei uma solução interessante e gostaria de registrar aqui. Vai que mais alguém também tem essas mesmas dificuldades e essa solução pode ser útil.

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Cordel ensinando a fazer cordel

Umas novidades. Publiquei este mês meu título Como Fazer um Cordel. É um cordel que ensina o passo a passo para quem quer entender como funciona e começar a fazer seu próprio cordel também! Além deste, também está lançado o Meu Cordel, um livreto em branco para facilitar a criação de um cordel de até 24 estrofes.

Também foram feitos kits cordelista. Pacotes que incluem 1 exemplar de Como Fazer um Cordel, 1 exemplar surpresa, mais 10 exemplares do Meu Cordel. Esse kit foi pensado para uso em oficinas de cordel e atividades similares.

Breve à venda na Papelaria Central e bancas de revista de Arapiraca!

Quanto ao novo cordel, já está disponível também em formatos digitais, podendo ser adquirido na Xinxii.

Special: 

CP#2 - A Posse de Marcio e Filippi como Membros da ACALA

No último dia 20, durante o II Colóquio Internacional em Educação, Saúde e Cultura, da FERA, a Academia Arapiraquense de Letras e Artes teve solenidade, com posse de dois novos membros efetivos. Fiquei responsável pelas palavras de boas vindas aos dois. Para tal, fiz um cordel de apresentação.

Como a solenidade foi transmitida e gravada pela TV Oops, vocês podem ver a declamação deste cordel no vídeo abaixo (tentei configurar para começar já da minha fala. Se não deu certo, basta pular para 1h 15min mais ou menos.

Aqui segue o conteúdo do cordel:

Eu pergunto pra você
Você conhece a ACALA?
Academia de Letras
E Artes de Arapiraca?
A sigla é quase isso
Ela tem o compromisso
Com nossa cultura, saca?

Criada em 87
Para dar o incentivo
Pra nossa cultura andar
Como um organismo vivo
Hoje ela se apresenta
Com cadeiras, são quarenta
Para membros efetivos

E é nesta bela noite
Que nós vamos receber
Dois artistas que se juntam
A esta casa de Saber
Cada um numa cadeira
Para a Academia inteira
Junto com eles crescer

Um deles já vem chegando
De uma outra academia
De outro tipo, de estudo
E traz na biografia
Mais de cinquenta artigos
Científicos escritos
É cientista que cria

O outro não fica atrás
Também muito produziu
Ele vem do jornalismo
E nos blogs investiu
Sua produção danada
De matéria publicada
Ele tem mais de duas mil!

Este é Marcio Martins
Natural de Canapi
Trazendo uma longa história
De muito contribuir
Com as questões sociais
Veja se não é demais
Vou listar, favor ouvir

Lá para 2003
Foi secretário geral
Em sindicato a favor
Do trabalhador rural
Ajudando o cidadão
Contra toda exploração
Que o deixa sempre mal

Por seis anos pelo menos
Pelo que pude contar
Márcio Martins foi eleito
Pro Conselho Tutelar
Ajudando aquela gente
Que é criança, adolescente
Ao seu direito usar

Já apresentou programa
Em rádio comunitária
Foi professor, palestrante
Censo na Agropecuária
Pra terminar, bem ligeiro
É jornalista e blogueiro
Ele anda em toda área

O seu livro foi lançado
Nos espaços populares
Como a Feira Literária
Também em outros lugares
Quem quiser adquirir
IndignAÇÃO aqui
Deve ter uns exemplares

O outro novo acadêmico
Igualmente interessante
Vem do ramo da Enfermagem
E não é principiante
De um estudo que prospera
Professor daqui, da FERA
É Fillipe Cavalcanti

Pedagogo e enfermeiro
Mestre em Educação
Foi pra Letras e Linguística
Aumentando a formação
Muito artigo publicado
Evento pra todo lado
Até em outra nação

Tem dois livros publicados
Com aparente expertise
A Enfermagem no Brasil
(É o tema, que se avise)
Sua formação (atual)
Diante do Capital
Que se impõe quando tem crise

O segundo livro segue
Bacana igual o primeiro
No mundo neoliberal
Ele trata do enfermeiro
E da sua formação
Preso nessa situação
O enfermeiro brasileiro

E o Fillipe faz questão
Por sentir necessidade
De falar do compromisso
Que leva com seriedade
De levar de forma ativa
Transformação positiva
Para a Coletividade

Depois de falar um pouco
Dessa dupla que é tão cara
Me despeço e concluo
Agora essa minha fala
Vamos festejar depois!
Sejam bem-vindos os dois
Novos confrades da ACALA

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Seu Papai Noel em ebook

Seu Papai Noel foi escrito inicialmente para a Revista Espírito Livre. Este ano, fiz uma revisão e ampliação para publicar em formato impresso, como um livreto de cordel de fato. Agora esta nova versão está disponível também para compra como livro digital sem DRM, disponível em dois formatos para quem adquirir: PDF (diagramado para dispositivos de tela pequena) e ePub.

Cordel de Ronaldo Oliveira sobre Zé do Rojão

E se o pessoal lá no Céu resolvesse montar uma estação de rádio? De vez em quando chegaria artista novo para se apresentar por lá, mas eles precisariam de um bom radialista.

Partindo desse ponto, meu amigo e colega cordelista Ronaldo Oliveira escreveu o cordel A Chegada de Zé do Rojão no Céu ou a Rádio Celestial. O cordel é tão grande que tem dois nomes. Falo isso brincando, mas o cordel tem pouco mais de 100 setilhas.

Na poesia, Ronaldo desenvolve o enredo numa pegada "Auto da Compadecida". Com capa de Fagner Alexsei, revisão de Tania Maria dos Santos e diagramação+impressão do Castelo do Tempo, o cordel pode ser encontrado na Banca Fox, na Bodega do Rojão e na loja de conveniência do Posto Jota Pinto (tudo isso aqui em Arapiraca).

Livros digitais à venda!

Comecei a publicar livros digitais na loja Xinxii, principalmente cordéis. Se você quiser contribuir financeiramente com este autor, pode adquirir um dos livros digitais lá publicados. Todos disponíveis em PDF e ePub, sem DRM.

Os cordéis mais recentes estão publicados apenas no formato impresso e na Xinxii. Quanto ao material mais antigo, que está disponível já sob uma licença permissiva Creative Commons, além da diagramação para boa leitura, tenho acrescentado algum adiciional exclusivo.

Os cordéis estão com capas "colorizadas". As novelas em folhetim foram publicadas inicialmente aqui no blog, um episódio por semana. Este conteúdo estou removendo do blog. Os que já estão publicados sob licença permissiva, coloco em e-book na Biblioteca do Bardo, no Issuu e no Archive. Na Xinxii estou colocando aos poucos, agregando valor com conteúdo complementar.

No dia de publicação desta postagem estavam publicados na Xinxii os seguintes livros:

Espero que você aprecie estas publicações. Foram feitas com carinho para você! E vamos seguindo!

FLIARA - Versos Populares

Esta semana ocorreu a primeira edição da FLIARA - Feira Literária de Arapiraca. Hoje será o encerramento da feira, que já rendeu 3 dias.

Fui convidado a participar da mesa de abertura, onde tive o prazer de dividir espaço com José Inácio, Cosme Rogério, Marta e Igor (além de também poetas, trabalhando na organização), e dos colegas cordelistas Cícero Manuel e Zé de Quinô.

No terceiro dia, no relançamento de obras da ACALA, lancei mais um cordel inédito: Todas as Artes do Mundo. A proposta do cordel é apresentar a numeração das artes. Todo mundo conhece a sétima, mas e as outras seis? E quem sabia que tem mais quatro pra além das sete? Daí, fiz o cordel.

Quem que nunca ouviu falar?
Pois se vê por toda parte
A contagem na cultura
Falando das sete artes
Sem mistério, sem dilema
A sétima é o Cinema
Quem não sabe vive em Marte

Porém quanto às outras seis?
Talvez que ninguém conheça
Pois eu procurei saber
Vou falar, é uma promessa
Dessas sete artes que havia
E as novas, que eu nem sabia
Que tinha quatro além dessas

Mil novecentos e doze
Riccioto, com um gesto
Anotou as sete artes
Lançando num manifesto
Quase depois de cem anos
Apareceu ser humano
Querendo falar do resto

À venda na FLIARA, comigo e, em breve, nas bancas de revista de Arapiraca. (em breve meus cordéis também estarão à venda em formato digital. Aguardem!)

Quanto à feira, é um evento que Arapiraca já devia ter há anos. Tudo correu bem (imagino o trabalho que deve ter dado pra a equipe) e torço para que o FLIARA se torne uma tradição, com novas edições nos anos vindouros. Parabéns à equipe!

Sonetos Cordelares (e Mister Chip)

Já está sendo colocado nas bancas de Arapiraca meu novo trabalho em cordel: Sonetos Cordelares. Trata-se de uma experimentação que mistura o conceito de soneto com os modos do cordel. Este livreto não traz um enredo único como um cordel convencional. Ao contrário, é composto por 15 sonetos deste tipo proposto.

Um soneto é uma poesia tradicionalmente composta com métrica, rima e chave de ouro, em catorze versos. A métrica geralmente é em decassílabos ou alexandrinos. A estrutura dos catorze versos varia a depender da vertente do soneto: o italiano é composto por duas quadras e dois tercetos, enquanto o inglês tem três quadras e um dueto. Há soneto monolítico também. A chave de ouro, para quem não sabe, é o último verso, que dá um desfecho impactante, surpreendente, condensador ou, de alguma outra forma, maneiro.

O soneto cordelar que proponho segue as seguintes regras:

  1. Métrica: escrito em redondilhas maiores, que são os versos de sete sílabas poéticas, a métrica mais seguida na Literatura de Cordel
  2. Estrutura: continuam sendo catorze versos, mas são organizados em duas setilhas (aquelas estrofes de sete versos), diferente das encontradas no cordel apenas em um ponto, na rima
  3. Rima: a setilha de cordel segue o esquema de rima xAyABBA. Traduzindo: os versos 2, 4 e 7 rimam entre si; os versos 5 e 6 também rimam. A do soneto cordelar segue esse esquema e acrescenta uma nova rima entre os versos 1 e 3, que eram livres. O esquema fica sendo ABABCCB
  4. Desfecho: misturando o estilo mote com o de chave de ouro, os dois últimos versos do soneto cordelar têm o efeito de desfecho da ideia toda
  5. Apresentação: para diferenciar das estrofes que compoem uma poesia de cordel maior, proponho o uso de moldura no soneto cordelar.

E é isso! Se você tem curiosidade sobre esse tipo de poesia, aqui no blog já publiquei alguns sonetos cordelares (não necessariamente presentes neste novo livreto), como A Nova Matrix e Meme News.

O cordel Mister Chip também ganhou uma edição impressa. Esta edição conta com uma reestruturação completa da obra, que teve a métrica reajustada e agora está formada por 33 sextilhas (mas a história é a mesma).

Special: 

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