Fracasso 1.0

Este conto foi escrito por mim há mais de 10 anos. Estou republicando com revisão mínima, a título de curiosidade.


Três heróis: dois guerreiros e um mago. As lendas do bardo os exaltavam. Parecia que nada podia dar errado.

Chegam a uma cidade estranha um mago, um guerreiro usando uma simples proteção: um escudo de doze quilogramas e um traje de dez. Chegam acompanhados por um terceiro aventureiro: um homem-de-armas com um modesto treinamento em furtividade. Os três heróis chegam a uma taverna razoável e encontram algo pelo qual não esperavam: todos estavam tristes. O guerreiro meio-ladrão fala com um bardo que estava presente. Ele lhes conta a lenda de uma espada e seu dono:

No início da vida na Terra,
O caos era o mais forte
Pois no alto daquela serra
Havia um ser de grande porte.

Forte, muito por sinal
Heróis de reinos inteiros
Encontraram seu final
Em suas garras em golpes certeiros

Foi quando, ao som de um trovão
Um herói que jamais se esqueceu
Desafiou aquele dragão
Para um combate que ele venceu

Com a espada de um semideus
E a coragem de um avatar
Ao monstro um último adeus
Segundos antes de o matar

Um mar de honras o cobriu
Pois a ordem voltara ao mundo
Porém um futuro sombrio
O aguardava em um local imundo

Ele sabia bem desse perigo
Sabia bem sobre seu fim
Por isso não levou consigo
Sua espada e foi lutar enfim

Morreu, como se esperava
Ao enfrentar o desafio
E o mal que de novo imperava
Recolheu-se em um velho covil

Viveu-se uma certa paz
Por anos por ali ficou
Até bem pouco tempo atrás
Quando algo se modificou

Da caverna a besta saiu
Guerreiros se antepuseram
Mas o monstro se sobressaiu
E matou seres que nada fizeram

E continuam sendo assassinados
Toda vez que o sol de deita
Em nome de tantos finados
Levantou-se então uma suspeita

Encontraríamos vindo da estrada
Heróis de bom coração
Que recuperariam a espada
E findariam essa maldição

Os profetas disseram então
Desde aí nós esperamos
Os heróis que salvarão
Essa terra que tanto amamos

A espada está escondida
Em uma fortaleza bem-guardada
Abant preserva a vida
E mantém a porta fechada

Mas mesmo sabendo onde está
Não pensem que será fácil
Essa espada encontrar,
Pois não está no palácio.

Nele há só a entrada
Para um mundo desafiador
Só lá será encontrada
A chave contra nossa dor

E no morro de Acantron está
Aquele monstro tão profano
Sempre a nos observar
Com sede de sangue humano

Os jovens aventureiros aceitam ajudar aquele povo sofrido e no dia seguinte partem rumo à cidade-fortaleza Abant. Chegando lá, têm que se separar de suas amadas armas, e convencer o rei de que eles eram quem eram se tornou incrivelmente difícil, até mesmo porque o grupo sequer lembrava o nome da cidade de onde vinha. Mas tudo foi resolvido quando a vossa majestade Izaac Boltov resolveu prendê-los até o dia seguinte, enquanto um de seus mensageiros ia a essa cidade misteriosa, pelas instruções dos heróis.

A boa notícia chega ao amanhecer. O taverneiro e mais alguns homens confirmaram as palavras dos corajosos aventureiros. Então eles estavam livres para ir ao subterrâneo. Receberam de volta suas armas e desceram por uma passagem protegida. Parecia que nada poderia dar errado com os destemidos heróis.

Seguiram por um corredor extenso até encontrarem uma sala circular. Graças ao mago todos puderam ver o ambiente. Havia alguns ossos e uma mochila cheia. Foi a partir desse momento que algo começou a dar realmente errado.

- O que tem na mochila? - Pergunta impaciente o guerreiro ladino.

- Calma. Estou abrindo. - Responde o outro guerreiro. - Essa espada será minha e essa capa é sua.

- Não. Eu quero a espada.

- Contente-se com a capa. Faz tempo que tento conseguir uma boa espada e gostaria de testar esta aqui.

- Está bem.

- E para mim? Com o quê eu fico? - pergunta o mago, que até o momento só assistia à cena.

- Sim. Tem mais. Um manto e um papel. Acho melhor você ficar com isso, mago.

- Certo, eu fico.

- E agora, podemos ir?

- Espere. - interrompe o mago. - Esse papel traz uma lista dos materiais contidos na mochila. Aqui diz:

A capa serve para a defesa. Ao comando mental, saem dela vários espinhos. O manto é capaz de resistir a ataques com qualquer tipo de fogo. Ótimo. O bumerangue tem a capacidade de ficar invisível quando arremessado, impossibilitando a defesa. E a espada é muito especial, única. Nimbus, Loja de Armas e Afins de Autho.

Todos, felizes com suas novas armas, resolvem prosseguir. Mas não havia passagem. Após um tempo de procura, Tyron, o guerreiro ladino, encontra um dispositivo que abre uma passagem secreta. Graças a ele, que andou na frente pelo corredor em passos curtos e batendo seu bastão no chão, o grupo não morreu em vários espetos cobertos por uma parte ilusória do solo.

Graças ao outro guerreiro, que usou seu escudo sobre os espinhos, todos chegaram do outro lado. Continuaram andando por bastante tempo. Até verem um feixe de luz vertical, com cerca de trinta centímetros de diâmetro. No seu centro um pergaminho flutuava. O mago prontamente o tomou nas mãos, quebrando a magia que o sustentava: a luz vertical some. O guerreiro de espada e escudo bate a espada algumas vezes no chão onde havia a luz, testando talvez a existência de algum dispositivo místico por ali. As pancadas são interrompidas por gritos.

- Ai! Para!

- Quem está falando? - pergunta Tyron.

- Eu.

- Quem? A parede? O chão? - pergunta o outro guerreiro.

- Quem é você?

- Sou Nilland.

- E o que você faz aqui? - pergunta Tyron.

- Não sei. Vocês me trouxeram! - Responde Nilland. - E, por falar nisso, o que faço aqui?

Os três para um pouco.

- A espada! - exclamam, em coro.

- Você fala? - pergunta Tyron.

- Não, é só impressão sua. - responde a espada.

- Você tem super-poderes? - pergunta Tyron.

- Ai meu saco...

- Me dá essa espada que eu vou quebrá-la. - diz Tyron, tentando tomar a espada das mãos do outro guerreiro.

- Me larga, fuça de porco! - grita Nilland.

A disputa prossegue por alguns segundos, até que Tyron a abandona e se afasta, como se tivesse lhe surgido alguma brilhante idéia. De repente, da sua capa saem milhares de espinhos, acompanhados do grito: Ai!

- Maldita capa! - berra ele, então, quando ela volta ao normal.

O guerreiro armado é famoso por seus constantes acessos de fúria, e por matar. A espada começou a falar coisas como: Vamos brigar; Vamos logo arrebentar as ventas dele. Isso só piora a situação. Segundos depois, esse guerreiro saía correndo empunhando a espada em ataque violento. O mago até tenta usar uma magia para causar sono, mas isso só fez com que o único mago do grupo ficasse inconsciente.

A batalha segue por alguns segundos. Uma luta de via ou morte que só tem um vencedor. E um golpe certeiro arranca a cabeça de um bravo guerreiro.

Tyron. Esse é o nome do glorioso derrotado.

Mas os outros morreram depois. Em uma batalha, o mago morreu queimado por sua própria bola de fogo. O manto? Até agora continua intacto. O guerreiro armado foi o último a sucumbir. Acabou entrando em uma armadilha. Uma sala que se fechou à sua entrada. Poucas horas de discussão com a espada depois, ele morreu por falta de oxigênio, já tão escasso em um subsolo abandonado e semi-lacrado.

A sorte não lhes sorriu. De qualquer forma, na próxima encarnação não cometerão mais o mesmo erro. Pelo menos, assim espero.

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