À Noite pela Praça

Um par de olhos vermelhos e brilhantes, por detrás da moita. E o frio percorre o seu corpo como um tsunami de formigas sobre a mesa. O caderno cai no chão.

- Você está bem?

“Que pergunta estúpida, Lucíola!”

O coração ainda acelerado. A luz da lua pouco ilumina o lugar. Seus olhos procuram mais uma vez a moita, não por desejo, mas por pavor. Nada.

- Que foi? Parece que viu um fantasma!

Ela coloca a mão em sua testa, preocupada. Seu rosto é mesmo de preocupação. É fria a noite.

Ela se abaixa para apanhar o caderno e lhe dá.

- Tá vendo? Não devíamos ter vindo por aqui. Era melhor termos pego a Santos Dumont.

- …

- Ei! Cê tá legal mesmo?

Com o caderno já em suas mãos, seus olhos são puxados para a moita. É magnético. É inevitável. E lá estão eles outra vez. Você somente aponta, em desespero.

- O quê?! Olha, você está me assustando! Sabe o que é isso? Aqueles filmes de terror que você fica assistindo! E fica ouvindo aquele podcast sobre coisas que dão medo.

Não há tempo para defesa. Um urro sinistro ecoa pela praça vazia.

- Ai, agora quem está com medo sou eu! Vamos embora daqui.

Claro! Não é só uma ideia, é a única coisa a ser feita. Você quer ir, mas suas pernas não.

- Vamos!

Lucíola dá alguns passos e olha para você.

- Vem ou não?

Lucíola olha para o seu rosto, desfigurado pelo mais puro pavor, sem perceber a causa. Quando finalmente se vira já é tarde demais.

O som de cortes e gritos; o cheiro de sangue e do corpo aberto ainda vivo e quente. E aqueles olhos vermelhos olham para você com frieza.

O corpo de Lucíola ainda treme, aberto e estraçalhado no chão. Muito pouco. Logo, para.

Você não consegue destinguir forma ou cor, apenas olhos vermelhos. Mesmo sem ver com precisão, você sabe que ali estão dentes. Dentes que você não consegue ver. Dentes que desenham um sorriso.

E some.

Você se senta no chão sob tontura. Ainda ofegante, esfrega os olhos. Precisa de um médico, de um calmante. Pelo menos de um copo d'água e alguém para conversar. A sensação de que tudo voltou ao normal não acalma. Que normalidade é essa com um corpo da amiga de faculdade ali, jogado e destruído, sem vida? Bela normalidade essa, quando você sabe que aquele sorriso indistinguível deixava entender que você é a próxima presa...

-- Cárlisson Galdino

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