Kastin

Special: 

Ela abre os olhos e fita o céu. Somente o vazio se expõe ao seu olhar. Uma lágrima escorrega por sua face tão triste e tão bela. Tão belos cabelos... Deitada no chão, seus olhos ainda não deixaram as estrelas, tão apagadas nesta noite. Em suas mãos, uma carta amassada e triste termina com "Eu te amo". Seus olhos inundados perguntam Por quê?


"Ah, minha amada! Por que Deus te fez tão bela? Se soubesses com detalhes tudo o que se passa em mim por tua causa... Teus olhos são mais devastadores que milhares de vulcões! E teu sorriso? Tão lindo e doce, é-me mais letal que o mais letal dos venenos... Como queria provar o teu beijo... Se fosse para ser apenas uma vez, que assim fosse... Ah, minha amada! A cada segundo estou mais certo de que te amo, e mais certo da minha decisão."

Ele caminha pelas ruas sombrias da cidade Natal. Seu olhar expressa a decisão firme que acaba de confirmar. Com seus trajes brancos e seu escudo ele segue rumo a um destino que decidirá o seu próprio. É noite e ele segue pelas ruas escuras de sua cidade sombria, calçada após calçada. Um menino de meia dúzia de anos, sentado à porta de uma casa lhe olha com ar de pedido.

- Ora, garoto! Como vais? Toma, pega e entrega à tua mãe. O comércio deve estar ainda aberto. É vosso mesmo! Corre e entrega à tua mãe.

O menino entra em casa gritando ''Mamãe! Mamãe!'', com os trocados recebidos do estranho. Quanto a este, feliz segue: era sua última quantia. Do mesmo modo que o menino para com ele, desconhece-o totalmente. Apenas viu a fome em sua face e resolver lhe ajudar a família.

Quase não há pessoas na cidade a essa hora. É tarde para um povo exausto pelo trabalho do dia e os dois poucos que encontra pelo caminho o olham com estranheza. Talvez seja pela espada que traz presa à cintura, talvez pelo seu traje branco, ou quem sabe talvez seja o símbolo das três cruzes cruzadas que traz como um brasão impresso na alva roupa. Provavelmente, os três fatores juntos. Sob uma luz misteriosa ele segue sob o brilho pardo das estrelas. Aproxima-se do objetivo, com seu coração em chamas, em êxtase.

Finalmente chega ao lugar: a residência da senhorita Luana, sua idolatrada senhora. Os portões estão fechados, mas portões não bastam para bloquear quem tem asas.

Em pouco tempo o portão não era mais um portão, mas apenas um adorno do ambiente. Lá estava sua amada, bem ali, diante de seus olhor.

- Dorme?

- Não... - ela se levanta e passa as mãos no rosto, na tentativa de apagar os vestígios de lágrimas.

- Recebeste?

- Sim.

- Sinto... Apenas fui sincero... Desculpe-me se...

- Não! Eu não estou chateada com isso. Também te amo. Não quero que partas. - ela o abraça e chora.

- Eu... - as palavras não saem, nem ao menos surgem.

- Faz tanto tempo... Quantos anos?

- Sete.

- Sete anos longe de ti para descobrir que te amava... Sempre me falaste do teu amor por mim, mas nunca aceitei isso... Agora te tenho aqui comigo... - ela o abraça forte e estremece ao recordar a separação.

- Não imaginas o quanto esperei por esse momento!

Eles se olham apaixonadamente e se beijam pela primeira vez. Sete anos depois da partida de Kastin. Abençoados por uma fina chuva, eles se olham e sorriem, abraçados, como se não acreditassem na cena. Finalmente Luana rompe o silêncio.

- Precisas mesmo partir?

- Sim.

Eles se beijam e vivem sua noite de glória. A felicidade é notável nos dois, felicidade não daquelas falsas e temporárias, mas das que só o amor puro, sincero, verdadeiro, é capaz de trazer. Aos giros dos ponteiros, eles adormecem.

Kastin desperta. À noite ainda e lá está Luana, brilhando com intensidade maior que a de todas as estrelas juntas. Kastin se senta e fita o mesmo céu visto há pouco por sua amada. Sua face expressa a dor de sua decisão, mas ele não teme. Deve fazer isso, sabe que deve. Em voz baixa, começa a falar:

- ''Toma teu filho, teu único, que amas, Isaac, e vai à terra de Moriá, e lá o oferecerás em holocausto...?'' - Lágrimas correm de seus olhos, enquanto toma a arma entre as mãos. O trecho bíblico lhe traz força para concluir. Ele posiciona a espada perto do pescoço de Luana. Esta desperta, mas não grita. Ao invés disso, pergunta sutilmente, um pouco trêmula e quase sem voz, ''Por quê?''.

Um raio corta os céus anunciando uma chuva voraz. Kastin ergue a espada - seu rosto brada uma dor indescritível - e se deita sobre o corpo já sem vida de Luana. Chora, enquanto a forte chuva que se formava durante o sono dos dois lava da lâmina o sangue puro de sua senhora.


Deixando a cidade, ele vai à montanha levando o corpo de sua amada, sob a forte chuva. Ao alcançá-la, enterra Luana e se senta perto, defronte ao repouso definitivo de sua amada, fazendo dali seu templo. Lá, Kastin se ergue e começa a gritar, longe demais do solo urbano para que seja ouvido pelos cidadãos.

- Pai! Recebe esta jovem pura em Teu divino lar! Não permitais que desvie do caminho que leva à Tua perfeita companhia!

Ele se senta e começa a falar mais baixo.

- Meu Pai é poderoso e seu simples nome faz tremer os pilares do além. Meu Pai tem poder de grandeza inimagináveis e deve ser temido por todo mortal. Mas meu Pai me conhece. Conhece o que conheço sobre o Inimigo e há de me perdoar tal ato pois, pelo que conheço do Inimigo... Não, eu não ia deixar isso acontecer a Luana. A nenhum homem foi dado o poder de tirar uma vida mas a mim foi dado o dever de salvar. E eu sou o Sétimo. A luz de meu Pai desceu sobre mim e me disse para ser diferente.

Abaixa a cabeça triste e a chuva começa a cessar para que a floresta possa ouvir sua voz e seus lamentos.

- Purzi... Osoé... Meril... Tetimes... Abgilá... Que o Senhor os tenha em bom lugar... Todos foram bravos, mas não havia como vencerem.

Kastin olha o céu por entre as folhas das árvores. Não tardará o amanhecer, mas ele prossegue.

- Devo salvar Daon... Ele foi fraco e deve estar sofrendo as piores torturas que alguém pode sofrer: o poder do Inimigo. E já sinto sua presença. Não resta dúvida que seu poder mortal e mórbido ronda e planeja aterrorizar esta cidade. Sei o que ele quer na verdade, mas não me terá tão fácil.

Um pássaro branco mergulha da árvore e, quando bem próxima do solo, voa para a cidade, cantando em um vôo magnífico, em direção ao Sol que desponta no horizonte.

- Sim, sim! Devo ir. Já é dia e é meu dever proteger o povo de Deus.

Erguendo-se e retirando com o braço a última lágrima, ele fita o pássaro, que já desaparece ao longe. Abaixa a cabeça e, sob a água que salta de seus cabelos, vê a espada na bainha. Uma espada normal à primeira vista, mas na verdade não tão normal assim, pois é uma Língua de Fogo, uma espada forjada especialmente para ele, assim como já foram feitas delas para Purzi, Osoé... São a marca da sua Ordem, a divina Ordem dos Anjos Guerreiros.

A Ordem fôra fundada há muito tempo. Alguns séculos, na verdade. Foi fundada em torno de uma bênção, um juramento e uma missão. Até estes dias existe, pois a bênção não se foi, a missão não foi cumprida e nisso se baseia o juramento. Ainda há o que se fazer.


Kastin caminha por entre as ruas da cidade. É uma cidade nova, como se costuma chamar por aí afora. Uma cidade baseada em comércio de mercadorias. Trazidas por navegadores ou fabricadas por artesãos locais. Há quem diga que o futuro será por aí e não será preciso mais plantar para sobreviver, mas como acreditar em quem diz prever o futuro e ler as linhas escritas por Deus?

Aqui há casas e pessoas saindo para trabalhar. Cumprimentando os transeuntes, Kastin avança, aguçando os sentidos, tentando ver além da cidade aquilo que procura. Sim, procura o que lhe permitirá cumprir a missão. Aproxima-se da praça agora. Há algumas casas abertas: são casas de negócio. Sim! Ali está! Ele caminha em direção à capela. Não era o que procurava, mas, como de costume, vai fazer suas orações.

- Pai, faça-se Vossa vontade. Dai-me coragem para lutar, vontade para persistir e força para vencer. Descei sobre mim e minha espada o Espírito Santo para que eu possa cumprir o que foi prometido.

"Que minha espada não seja para ferir, mas para curar
Que minha espada não seja para desferir, mas para aparar
Que minha espada não venha a servir para humilhar
Que minha espada venha me servir, quando eu precisar

Que ela nunca caia, nem seja um problema
Que ela não me traia nem perca o emblema
Que ela nunca saia a matar quem a tema
Que ela nunca saia sem lembrar seu lema

E quando disso depender minha vida
Só então ela seja desferida
Mas que depois do golpe, esse corte
Não vá levar meu oponente à morte"

"Senhor,

Cubrí-me com a vossa bênção e guiai Língua de Fogo
Para que o Inominável seja de uma vez vencido.
Para que paz e harmonia sejam dados a esse povo
Que peca, mas que Te ama e não merece tal castigo"

"Amém."

Kastin deixa a capela. As pessoas o olham e certamente acham estranho. Um homem todo de branco com uma espada à bainha. Isso sem falar no estranho escudo das três cruzes cruzadas, que representam o lema da sua Ordem: Fé, Coragem e Amor. Seus cabelos cacheados e seu corpo robusto devem ratificar a estranheza que as pessoas sentem. O mais estranho talvez sejam mesmo suas roupas que, ainda que sujas inegavelmente, não se tornaram cinzas, nem marrons, nem negras, mas, do contrário, continuam brancas e algumas vezes mais brancas até que as vestes de alguns senhores arrumados por quem passa.

Kastin segue e sabe, no fundo do seu coração, que seu coração não está tão certo assim de que o que fez era o melhor a se fazer. De repente, bate-lhe uma tristeza e um vazio oriundos da idéia de que talvez houvesse agido de forma errônea, e que talvez sua linda Luana não seja aceita no reino de seu Pai e muito menos ele. Isso tornaria inúteis e danosos todos os anos que ele passara fora, aprendendo com detalhes os movimentos do seu inimigo.

Ele caminha e persegue o tal com todas as forças de sua alma. Entre pessoas, ruas movimentadas e vazias, praças, no porto... Nada... Então resolve se dirigir à casa de Luana.

Luana era uma jovem linda, filha de gente humilde. Seus pais morreram no mar, na eterna ambição humana de alcançar mais do que aquilo que lhe foi designado. Assim, como filha única, ela viveu sozinha por alguns anos, trabalhando no artesanato com panos e tecidos. Sim, era perigoso morar sozinha, mas algo a protegia do que quer que lhe desejasse mal.

Lá está a casa de Luana. Os muros altos e os portões gradeados trazem grandes recordações, mas não demora e Kastin vê um vulto no final da rua. Um vulto maltrapilho, coberto até a cabeça atravessa apressadamente sem se deixar ver o rosto. Não é impressão: Kastin tem certeza de que se trata dele.

Corre na esperança de encontrá-lo e, quem sabe, resolver isso de uma vez...

- Vocês viram um homem maltrapilho passando por aqui?

- Homem maltrapilho?

- Ora, senhor, um homem vestindo farrapos e escondido nos panos apodrecidos. - ele fala, olhando ao redor, tentando localizá-lo. A rua levava à praça e na praça há a multidão.

- Um homem vestindo... Sim, eu vi um homem assim hoje de manhã...

- E agora? Não o viu?

- Não... Agora não... Tem problemas a resolver com ele?

- Pode-se dizer que sim.

- Ora, deixe-o em paz, meu amigo... Se for quem eu vi hoje de manhã, parece um pobre louco e coitado, que não tem onde cair morto... Perdoe sua dívida...

- É, amigo, quisera fosse apenas dinheiro, ou honra, ou orgulho o que me leva a procurá-lo...

O homem o olha com atenção. É um homem de cerca de sessenta anos, tanto rosto como corpo castigados pelo trabalho no campo, mas ainda dono de sua vida, como se pode ver: vendendo na feira. Montando a barraca sozinho.

- Você, meu jovem, não me parece alguém impulsivo e libertino como os daqui. De onde vens?

- Venho de uns anos fora.

- Você é daqui?

- Sim, sou Kastin.

- Não me lembro, mas... Espere... Filho dos Japhar?

- Isso mesmo!

- Eu o conheci quando ainda era garoto. Era desse tamanho aqui... Devia ter uns cinco anos...

- Pois é...

- Você mudou muito. O que aconteceu? Eu realmente não consigo entender. Parece bem maduro para sua idade, entretanto caminha com uma espada. Sinceramente não consigo entender esse perfil. E esse escudo aí? Que brasão é esse? Onde o arrumou? Não está envolvido em nenhuma seita, está?

- Senhor, é uma longa história e não sei se algum dia poderei contá-la. Não é uma seita, mas uma ordem. E uma ordem à qual todos nós devemos muito.

- Não imagino que tipo de ordem seja essa, mas seus pais ficariam decepcionados ao saber que você caminha armado por aí...

- A lâmina desta espada não é para os homens. - e se lembra da Luana...

- Algum problema? Não me parece bem.

- Não, nada...

- E aquele homem? Ouvi falar que em muitas cidades tem aparecido uma doença que destrói tudo... Ele traz a peste?

- Sim, ele traz destruição. Agora, perdão, mas preciso ir.

- E o que eu faço se ele aparecer por aqui?

- Ore. Ore a Deus por sua proteção. Que Deus esteja contigo.

- Contigo também, meu jovem. Pareces uma boa pessoa, mas acho que tem algum problema. Tendes certeza de que estás bem?

- Pode deixar... Estou bem. Adeus.

- Adeus.

''Língua de Fogo foi corrompida por mim com sangue inocente... E sangue inocente de quem?! Da mais inocente das criaturas que caminhavam na Terra ontem pela manhã! O Inimigo deve ter se fortalecido com isso. Sei que ele faria um mal ainda pior, mas até que ponto um mal menor é permitido frente a um outro maior?''

Ele volta pelo mesmo caminho que o trouxera e, passando diante da casa de Luana, sente um cheiro fúnebre e terrível.

- Isso não estava assim.

Transpondo o muro como antes ele se depara com o mesmo vulto pulando o muro nos fundos da casa, deixando o antigo lar de sua amada. A porta aberta e aquela sensação de morte em todo o lugar.

- Certamente ele não volta. Sua vinda garante que ele, de um modo ou de outro, teria conseguido alcançar seu objetivo caso eu houvesse agido de outro modo.

Ele caminha até o ponto exato onde passaram a noite e lá desembainha a espada e a coloca no chão, deitada. Ajoelha-se, impõe as mãos, fecha os olhos e começa a rezar em voz baixa. Orações com múltiplos sentidos: purificar a casa, purificar a alma, penitência pelo modo como agiu, caso tenha sido errado.


Kastin desperta já no final da tarde com o sopro de um vento suave e gentil.

- Eu adormeci?! Como!? Ah, talvez tenha sido melhor assim. Meu Pai me protegeu enquanto eu descansava. Sem dúvida que acordei mais tranqüilo, porém há ainda problemas a resolver. E o pior é que agora há problemas a resolver dentro de mim e não apenas fora.

O aroma da casa mudara bastante nesse tempo. Já anoitecia e aquele espectro maléfico havia deixado o antigo lar de sua amada. Kastin não se alimentara neste dia, mas era seu objetivo prestar este sacrifício.

Tomando a espada com cuidado, como se houvesse medo de que ela o recusasse, ele se levanta. A espada brilha à luz da lua em um tom positivo, mais que o normal, e ele sorri. Não uma gargalhada, nem mesmo um sorriso aberto e festivo. Apenas um sorriso de contentamento. Um sorriso simples eparte da casa em direção à montanha fora da cidade.

Ao recordar o que deixara na montanha, um terror quase o toma e ele corre apressado temendo o pior.

Já se aproxima do topo da montanha quando vê uma sombra sobre a cova de sua amada Luana. Uma sombra mais escura que a noite e menos brilhante que o vazio sem fim. Nela apenas dois olhos amarelados em formatos hostis - como os olhos de uma serpente - espreitam e aguardam sua aproximação.

Kastin sabe bem o que vê, ou não vê. Esta personificação do Inimigo é realmente como uma sombra que não se pode ver totalmente. Não se sabe se isso é bom ou se é ruim.

Kastin conheceu relatos de aparência do que ele enfrenta. Algumas eram vermelhas e disformes, realmente hediondas. Outras como lobos esguios e cruéis cujo simples olhar é capaz de causar terror insuportável em qualquer um. É bem verdade que todos são capazes disso e Kastin teve o azar de ser pego pelo olhar do Inimigo...

Ele se aproxima em passos firmes, já de espada em punho. Aproxima-se para ver o buraco que o Inimigo cavou. Além do temor insuportável, é possível sentir um sorriso terrível do tal ser.

Kastin está no chão e a espada ao lado. O que houve? Ele olha e vê o Inimigo no outro lado. O Inimigo é realmente muito rápido. Kastin retoma a espada e se ergue com a leveza de uma ave emplumada e trovões cortam o céu, mas não se sabe de que lado vêm.

"Luana levava uma vida reta e, ainda que eu tenha cometido um erro mortal, ela há de ter seu lugar junto ao Pai."

Sua espada corta o ar ao brilho da Lua, mas ao fim de sua tragetória, Kastin é golpeado e arremessado para perto da cova.

"O que!? É Luana! Como ele pôde!?"

Ele se ergue com fúria indomável. Vários golpes cortam o ar e apenas um arranha o braço sem brilho da estranha criatura, que revida arremessando Kastin para longe.

"Mas o que estou fazendo?! Não posso agir assim! Não estou aqui para matar, mas para salvar. Quanto à Luana, é só o corpo. Seu espírito continua intocado. Devo me preocupar agora com Daon. Vou libertá-lo."

Ao se erguer, enquanto limpa o rosto sujando de sangue sua veste alva, a luz o ilumina e sua espada se torna azul e vermelha, leve e metálica, bela e letal. Algo de suave o envolve e o ilumina em contraste ao Inimigo, que é sombrio.

Ele sabe agora o que tem que fazer. O seu Inimigo parece relutar, mas não acredita na possibilidade de derrota para um simples mortal e mesmo que acreditasse nisso já lhe parece tempo de mudar de pele.

Assim é que o inimigo avança e os dois travam um confronto bem mais equilibrado. A vários golpes, esquivas e acertos, eles lutam pela noite. Mais equilibrado porque agora um quer destruir e outro quer libertar. A luta não é fácil.

"Um nome!?" Sim! Kastin reconhece o nome de seu Inimigo no exato instante em que sua espada atravessa o pescoço da criatura das trevas. Há a consciência de que está na Terra e de que tudo o mais é incerto. Há apenas um nome ecoando em sua cabeça enquanto o sangue jorra do monstruoso rival, já desfalecido no chão.

Logo, não há mais árvores, Lua ou mesmo noite. Todo o barulho que se ouve é o ruído do sangue do Inimigo. Ainda pulsa com o brilho e a beleza do poder. O pé de Kastin caminha um passo contra o que deseja seu mestre. É a provação final.

O terror toma conta de seu ser. Sua testa sua como nunca e um frio o atinge de dentro pra fora: seu pé direito, da mesma forma que o outro, pisa em direção à fonte do mal.

Fonte... Sim, o sangue jorra e em sua mente nada jamais ecoou tão forte. Seu peito dói e seus braços estão cansados pela batalha, mas seus pés continuam indo em direção à criatura perversa.

Faltam apenas dois passos e o som do sangue se torna ensurdecedor. O sangue brilha com um brilho dourado e seu aroma lembra tudo o que já tomou.

"Por quê?"

Kastin ouve uma voz distante em sua cabeça... Uma voz feminina e tenta ver desesperadamente alguma coisa que não aquele sangue jorrando. Quando seu pé esquerdo avança, a um passo da perdição, seus olhos vêem a luz.

Uma dor em seu coração lhe anuncia a retirada do sopro da vida. Tudo a sua volta se torna mais uma vez visível. Visíveis são agora suas mãos segurando a Língua de Fogo e a apertando contra o peito. Agora seu sangue começa a deixar seu corpo e sua força começa a se esvair.

Num último esforço, Kastin cai de costas, para ficar tão longe quanto possível do ser derrotado. Uma dor latejante começa a se transforma em dormência e aos poucos sua consciência o vai abandonando.

Seu último suspiro vem com um sorriso que traz a graça da missão cumprida.

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