O Espectro

Buzinas e pessoas desesperadas. O ar está pesado. A cidade suporta o peso do fim do mundo.

Carros parados sem ter como sairem. Caos, fumaça, barulho.

É quando o medo domina a cidade que aparece aquela imponente figura, vindo não se sabe de onde. É Octaville, o grande herói. Com sua roupa prateada e capa azul ondulante. A faixa também azul em sua testa, prende seus cabelos negros, sobre um rosto que expressa pura determinação. Ele para no ar a vários metros do chão para encher de esperança os corações das pessoas. Então parte para enfrentar o grande mal.

O inimigo não parece ter forma ou consciência. É um ciclone negro que devora a superfície da terra. Ele vem vindo em direção à cidade.

Octaville vê o ciclone tragando homens, casas e carros. Pela primeira vez em muitos anos, ele sente medo.

Ele sabe que sua força nada pode fazer contra aquela coisa. Sabe que as lâminas de aço que protegem seus braços não significam nada contra esse mal. Somente o voo lhe pode ser útil, mas não para derrotar a ameaça. Para fugir. Ele sente medo e sabe que nada pode fazer.

Mergulha até um morro, onde encontra uma torre de antena de transmissão. Ele a arranca tenta golpear o ciclone.

A torre não gira, ela simplesmente é sugada, quanse o levando junto. Octaville se afasta e observa assustado.

Seu coração bate forte e ele se lembra dos amigos. Alguns heróis já foram sugados. Esse ciclone, que Magician chamava de "espectro", vem sugando cidades. Magician já se foi.

"O que eu estava pensando quando escolhi esse caminho? Por que ser um super-herói? Agora estou preso entre o povo e o ciclone."

Como parar algo assim? Não é um ciclone comum, é como se fosse uma entidade do além, uma entidade com fome de vida, que devora tudo. E ela vem em direção à cidade.

Octaville faz o que pode. Sentindo-se péssimo como nunca antes na vida, ele voa e se afasta do ciclone. Pessoas o veem se afastando e não entendem o que está acontecendo. Alguns mudam a expressão para raiva, enquanto outros pedem calma, lembrando que heróis às vezes vão em busca de algum objeto especial ou de alguém para terem sua volta triunfal. A volta triunfal não vai acontecer desta vez.

Octaville vai até uma montanha onde vivia quando criança. Ele se senta e chora, olhando o lago e as verdes montanhas ao longe. Com as mãos apoiando a cabeça, ele não é mais um super-herói. Não é mais do que uma criança de cinco anos com medo do monstro do armário.

O que mais doi são as certezas que agora tem. Tem certeza de que o ciclone vai destruir a cidade e todas as pessoas que ele ama. Que o ciclone já matou seus colegas super-heróis. "Só vou sobrar eu?"

Ele sente que não vale a pena viver sozinho. Pensa em se jogar no ciclone para morrer junto com todos, mas não tem coragem disso. Tem medo. E chora.

De repente, ele percebe que o ar também está pesado ali, no seu local de repouso. Ergue a cabeça cheia de lágrimas e vê, em desespero, a face do medo ali, diante de si. O ciclone chegou e o encara,enquanto bebe todo o lago, sem deixar vida.

Ele o quer.

Octaville se levanta e tenta correr do ciclone. Não consegue voar. O ciclone está também do outro lado. Olha para cima e vê aquela escuridão se aproximando lentamente, mas sem chances de fuga.


Ronaldo desperta assustado. Senta-se na cama. Respira fundo e vai até o guarda-roupas. Destrava o compartimento secreto e contempla aquele uniforme prateado e azul.

Ele encosta a cabeça na parede preocupado.

Foi tudo um sonho. Não existe o ciclone.

Provavelmente Magician e todos os outros ainda estão vivos, lutando contra o crime e os perigos que ameaçam a paz.

Mas ele se questiona se é digno de ser chamado de Octaville, de ser chamado ainda de super-herói.

O ciclone não existia, mas suas atitudes existiram, seu medo. Como num sonho, todo aquele cenário de destruição ficou lá, mas esse medo Ronaldo trouxe com ele.

-- Cárlisson Galdino

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