A Prosa de Vlad e Louis

Boa noite ou boa tarde
Ou bom dia, camarada
Hoje vou contar um caso
(ou será boa madrugada?)
Bom, vou falar de um encontro
Uma história inusitada

Era uma noite de chuva
Madrugada, na verdade
Na rua ninguém passava
E perto daquela grade
Eu ouvi naquela praça
Bem no meio da cidade

Eu voltava caminhando
Da casa do meu amor
Quando ouvi uma conversa
Que logo me assustou
Me escondi pra não me verem
E o papo continuou

Era um velho de cartola
Preta como a escuridão
De terno bastante antigo
Que falava com emoção
Com um jovem do seu lado
Com a voz de assombração

- Esse mundo anda perdido
Olha só pro meu estado
Já matei tanto bandido
Desde um antigo passado
Aí vem esses pivetes
E estou desmoralizado

"O meu nome era temido
Na Europa e no planeta
Só de ouvir, nêgo gelava
E hoje, veja só que treta
Me associam com um maricas
Que queria ser borboleta!"

O velho estava enfezado
Andava pra lá e pra cá
Um pouco baixo, mas nobre
O céu já a trovejar
O outro sentou na praça
Também resolveu falar

- Caro mestre do meu mestre
Nem sei o que te dizer
Não queria que voltasse
Só para se aborrecer
Melhor era estar dormindo
Como há anos pôde ser

"Infelizmente, concordo
O mundo está ruim, meu caro
Eu não sou tão nobre assim
Quanto você, honorário
Mas graças a esse moleque
Também eu me sinto otário"

- Devo confessar, meu jovem
Já me achei desrespeitado
Por você e seu amigo
Mas hoje isso é do passado
Nunca pensei num futuro
Assim tão esculhambado

"No meu tempo eu perseguia
Donzelas e sequestrava
Seduzia e conduzia
Depois me banqueteava
Alguns vinham me deter
Mas ninguém me derrotava"

"Hoje vem esse moleque
Que parece retardado
Vive há décadas fazendo
Escola, aquele coitado
Cheio da sua frescura
Só quer ser sofisticado"

"Não caça mais as pessoas
Só se alimenta de bicho
Você já viveu de rato
Foi um grande reboliço
Mas superou e o pirralho
Nunca vai para com isso"

- Aquele tempo eu me lembro
Foi logo que despertei
Foi uma fase, passou
Sofreres que só eu sei
Tudo isso me fez mais forte
Aprendi o que hoje sei

"Mas o drama do moleque
É que está apaixonado
Por uma mocinha bela
Que nada mais é que gado
E nem se alimenta dela
Nem transforma pro seu lado"

"Os dramas lá do meu tempo
Eram matar sem querer
Mulher já com trinta anos
Que não podia crescer
Condenada a ser pra sempre
Menina que não quer ser"

"Era a mão da inquisição
Nos obrigando a fugir
Eram brigas entre irmãos
Foices, o fogo a subir
No desespero querer
Morrer e não conseguir"

- O seu tempo já foi outro
Ninguém passa o que passei
Eu vivia num castelo
Vivia acima da lei
Todo mundo me temia
No meu tempo, fui um rei

"Já te achava avacalhado
Eu, bem mais que Realeza
Você vivendo com outro
E hoje, veja que tristeza
Vem os ventos do destino
E nos trazem essa surpresa"

"Um desgraçado qualquer
Que tem pai, irmã, irmão
como fosse isso normal
Nessa nossa posição
De predadores do mal
De monstros sem coração"

- Coração, eu já o tive...
Mas nunca fui parecido
Com aquele afeminado
Mas lembro do tempo antigo
Sentia falta do Sol
Tão letal a nós tem sido

- Louis, você é um menino
Tem tanto ainda a crescer
O Sol não é mais problema
Frente a todo o meu poder
Se eu controlo as nuvens cinzas
O que o Sol pode fazer?

"Posso sair todo dia
No momento que quiser
Você ainda não consegue
Pois morre se assim fizer
Mas o tempo te fará
Forte como você quer"

"Já reparou o moleque
Que queria ser menina?
Ele nunca sai no Sol
Como tu, mas imagina!
É que se ele for ao Sol
Se banha de pupurina!"

- Vampiros já foram fortes
Temidos pelas pessoas
Hoje é essa presepada
Uns viadinhos à toa
Pro nosso mundo das trevas
As coisas não estão boas

"Outro dia numa festa
Num porão a vela e vinho
Na madrugada perfeita
Quando já estava sozinho
Mostrei a presa à garota
Ela disse: 'Ó que fofinho!'"

"'...Você parece legal
Mas prefiro lobisomem
Vampiros são meio estranhos
E eu quero é ter um homem'
E eu tive que matar ela
Para proteger meu nome"

- A vida não está boa
Só quem não vive que viu
E a pista que nos deixaram
Essa pista não serviu
Acho que não está aqui
Talvez nem cá no Brasil

"Vamos continuar a busca
Um dia ele aparece
Vai sofrer como ninguém
Eternamente sem prece
Uma dor eterna e grande
É menos do que merece"

E eles saíram da praça
Um voando com o vento
Como se fosse de nuvem
E o outro noutro momento
Sumiu da praça também
Ou é meu olho que é lento?

E assim voltei para casa
Que sorte que não fui visto!
Pensando nesses vampiros
Em tudo o que lá foi dito
E torcendo pra encontrarem
Aquele fresco maldito!

-- Cárlisson Galdino

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