Coração Russo, 2018. 23:09. Um jovem careca passa correndo pelas ruas.
No sofá, uma mulher jovem descansa. De cabelos curtos e ruivos, acordada e ainda atenta à conversa dos quatro, que jogam baralho e bebem à mesa.
- Maria? Ainda está acordada? - a única mulher na mesa a chama. De cabelo castanho escuro preso, com um sobretudo, de óculos com armação grossa, contrastando com os traços delicados do seu rosto.
- Oi, Chris... Estou acordada.
- E aí? Quando vai estrear a peça nova?
- Ah, Chris, sei não... Ainda estamos definindo alguns pontos e passando as falas.
- Vai ser sobre o quê?
- Uma tragi-comédia inspirada no Fantasma da Ópera.
- Legal! E seu papel?
- Posso falar não mais que isso.
- Ué, somos amigas! Conta!
- Deixa a Maria, Christinne... Não se pode nem descansar em paz? - O mais velho à mesa é quem fala. Um homem de rosto quadrado e ar bondoso, com alguns cabelos grisalhos e óculos redondos. - Não é porque você é da imprensa que pode ficar assim pegando no pé do povo, né?
- Não seja por isso, Ivan! - Quem fala é um homem de terno surrado, com poucos cabelos, apesar de parecer jovem. - Eu também sou jornalista e não fico no pé das suas visitas.
- Pois dê conselho à sua colega, Aleksandr!
- Só estou curiosa! - Chris responde. - Não posso? Olha, Maria, quando forem estrear me avise! Que eu escrevo na minha coluna e vou lá assistir você, tá?
- Valeu... - Maria responde, fazendo um sinal de Ok sem nem abrir os olhos.
- Vamos jogar? É a sua vez! - O outro da mesa reclama de Chris. Um homem de cavanhaque, vestindo só uma camisa de manga curta. O único na casa vestido desse jeito nessa noito fria.
- Calma, Konstantin! Vou jogar! - Chris responde. - Pronto! Ai!
- Desastrada! - Aleksandr afasta as cartas da mesa, onde Chris acabou de derramar bebida.
- Onde tem um pano?
- Lá atrás no varal. - Ivan responde.
Chris se levanta e corre até a porta do quintal. Vai até o varal e... grita!
- O que houve?! - Konstantin chega primeiro à porta, seguido por Ivan e Aleksandr.
Eles veem Chris apontando para um jovem encostado na parede, de cabeça baixa.
- O que você... - Konstantin fala com raiva, mas Ivan intervém e se aproxima do jovem.
Maria chega à porta esfregando os olhos.
- O que houve aqui?
- Você está bem? - Ivan pergunta, com as costas da mão direita no pescoço do jovem.
- Médicos... E se for um bandido?
- Você devia ser mais humano, Konstantin. - É Maria quem repreende, enquanto se aproxima deles.
Quando o jovem levanta o rosto em lágrimas todos se assustam. O rosto dele é o mesmo do exército de clones que patrulham a cidade noite e dia. Os clones telecinéticos tão respeitados. Seu rosto é a marca da Força Russa.
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