A ameaçadora nuvem negra se aproximava. E rápido. Não havia como escapar dela. Não havia como escapar da fúria dos deuses. Nada podia ser feito. Ninguém poderia salvaro o mundo, poderia?
BS-II, segundo planeta governado por Brian Sallwel, terceiro perímetro percorrido após sua conquista. Meu nome é Skeel. Quem sou? Apenas mais um habitante de BS-II. Isso até pouco atrás, quando descobrimos que algo terrível havia ocorrido.
Aqui já foi um lugar alegre. Havia muitas pessoas, parques, praias. Hoje não há quase nada proveitoso. Pessoas são poucas, os parques desabitados e destruídos. As praias poluidas. Tudo isso depois da guerra em que usaram uma bomba atômica, ou algo assim, no outro lado do planeta. A explosão dizimou toda a população local, de um continente. Agora os vencedores aguardam seu precioso troféu: a nuvem de destruição está vindo. BS-II perde milhares de outras pessoas por dia, graças a ela. Brian Sallwel deve estar sabendo agora do incidente, mas é tarde. Mesmo que quisesse, ele não chegaria a tempo. Não há transporte que o traga aqui. É apenas uma questão de horas para que ela nos alcance.
De acordo com os cientistas, estamos a três horas do grande final. Estou falando de uma base de pesquisas, embora não seja um cientista. Sou um civil que, sem aceitar a derrota, veio aqui em busca de algo que possa ser feito para nos salvar. Nada, foi o que encontrei. Como todos íamos morrer mesmo, eles me convidaram a passar com eles os últimos momentos. As poucas pessoas nas ruas parecem ter enlouquecido. Ajoelham-se, clamando misericórdia a um deus, conforme suas religiões; sentam-se nas calçadas e olham tristemente para os céus, para as casas; enquanto outros expressam sua tristeza com mais violência, invadindo lojas, suicidando-se. É um caos.
Duas horas para o final das nossas vidas. As pessoas se acalmam. Como que aceitando o destino. Os cientistas ainda procuram em suas máquinas alguma resposta, alguma solução. Nada é alcançado. E eu observo pela janela a deprimida população.
A uma hora do grande fim. Uma pancada na porta. Alguém entra muito nervoso, gritando: "Façam alguma coisa! Nós vamos morrer!" Ele tenta alcançar os equipamentos. Suas intenções não parecem tão boas e os cientistas se interpõem. Ainda restam esperanças, embora poucas. Ao ver a defesa dos equipamentos, o invasor cai de joelhos e começa a chorar, enquanto implora: "Façam alguma coisa". Eu me ofereço para falar com ele. Começo a tentar consolá-lo até que ele fica mais tranqüilo.
Faltam apenas cinco minutos. Os cientistas desligam as chaves. Não resta mais nenhuma esperança. As pessoas saem das ruas para suas casas. Todos tristes esperam o fim. Algum tempo atrás uns poucos cientistas abandonaram o laboratório para ficar ao lado de suas famílias. Outros fizeram ligações telefônicas. A questão é que os que não partiram, estávamos na sala principal. Aquele outro civil que chegara tão nervoso estava bem mais calmo agora.
Faltam três minutos, quando um barulho maltrata nossos nervos. Um dos cientistas fala: "É ela. Já deve ter chegado." O teto é arrancado por alguma força desconhecida. Alguns pensaram se tratar de um furação negro, formado pela nuvem radioativa. Contrariando nossas idéias pessimistas, nossos olhos avistam um enorme veículo interespacial. Um disco voador. Através de um raio de tração, somos levados para dentro, onde há alguns humanos.
Mesmo sem tentar nada fomos salvos, talvez por nossa vontade de que não acontecesse, talvez por sorte. O importante é que fomos salvos, e hoje vivemos em BS-VI, o mais novo planeta BS. Somos alguns dos primeiros colonizadores. Agora há fiscalização intença quanto ao uso de energia em larga escala. Não sei se será assim no futuro, mas nosso pesadelo passou. E, se tudo der certo, nunca mais se repetirá.
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