- Que droga é aquilo!?
- Nossa! Quanta gente! Bora ver?
Os dois vão até aquele aglomerado de pessoas, debaixo do prédio da Igreja de Cristo Senhor. Vão por perceberem que não são só fiéis que estão ali, tão perto do cursinho.
- Que houve, hein Cida?
- É o Henrique. Tá lá em cima, olha!
- Caramba, é mesmo!
- Que doido! O que tá fazendo? Vai pular?
- Só pode. - Cida balança a cabeça, mascando chiclete. - Tão dizendo que é a pressão dos pais. Disseram que não tem como pagar faculdade particular e ele tem que passar de qualquer jeito em Medicina.
- Medicina!? Pô, nada a ver com ele!
- Pois é... Ele queria fazer Arquitetura, né?
- É, ele desenha bem.
- Não sei se ia dar certo desenhando casa. Ele só desenha estilo desenho animado!
- Desenho animado!? No caderno!?
- Tá, quero dizer aqueles desenhinhos engraçadinhos.
- Sei.
- Que merda, né? Ainda bem que meus pais deixam eu fazer o que eu quiser.
- E essa greve então?
- Pois é. Quando é que vai ter turma de novo começando? Ai que saco!
- Olha!
- Não...
- Ele pulou?!
O povo corre para perto na ânsia de ver o corpo no chão.
- Está morto!
A altura nem foi tão grande, mas para ele bastara.
- Gente, eu não acredito! - Cida começa a chorar, abraçada com um dos rapazes. - Bora sair daqui. Tenho que ir pra casa. Eu... Eu não...
Não consegue terminar a frase. Os dois saem ajudando a colega, enquanto todos rodeiam o corpo sem vida. Críticas e impressões; verdades e invenções; a pauta das fofocas da semana inteira vai se formando ali, nascendo daquele trágico momento.
Os três caminham pelas ruas que levam à casa de Cida. A menina ainda em choque apenas ouve a conversa dos dois.
- Esses professores deviam parar de brincar.
- E o Governo? É o Governo que está querendo privatizar tudo.
- Pobre Henrique. A gente jogava muito junto antigamente.
- Jogavam o quê?
- Sei lá... Worms, CS... Ele gostava mais de RPGs.
- Que pena.
- E lembro que ele queria ser designer de pokémon...
-- Cárlisson Galdino
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