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Sermão para Eros

Ó Eros, desce aqui, faz uma força
Que te procuro tanto tempo atrás
Não é bem que nossas vidas distorça
Pára com isso, não agüento mais

Eros, me dá o arco e agora ouça
Te ensino agora como é que se faz
Atire a flecha d'ouro nessa moça
Agora, outra da mesma no rapaz

Veja, meu caro, sem dificuldade
Basta apenas que preste atenção
E lance as flechas sempre, sempre aos pares

Mas caso assim não aja por maldade
Com flecha para um, a outra não
Maldito seja tu, por onde andares!

Retrato no Porão

Na parede o retrato a pouca luz
Ri das plásticas, ri da hipocrisia
Ri das máscaras, ri da fantasia
Ri do mundo letal que te seduz

Que lá fora teu rosto e olhos nús
Sempre ostentam perfeita harmonia
Sempre ostentam pureza, noite e dia
Que teus atos por si não fazem jus

Em teus lábios, o crime e o insensato
Se camuflam em voz de nobre jeito
Ilusórias virtudes, não de fato

Mas por mais que contra isso tenhas feito
Haverá no porão sempre o retrato
Te expondo em podridão, cada defeito

P. S.: Soneto inspirado na obra O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

Eternas Víboras

Que grite, corra, chore ou se flagele
Não basta pra esse mundo que te abate
A Noite não vai recuar no berro
No berro teus imigos te ouvirão

Que importa a eles se és feliz ou não?
Te querem ter por boi marcado a ferro
Se acharem jeito, querem que se mate
Pra vender rins e um abajur de pele

E a sociedade oculta aquele velho
Costume desumano e mal eterno
De criar prazer dos outros a sangria

Não te anime, porém, c'o novo Dia
O anjo que te espera co'ar fraterno
Esconde a espada a gotejar vermelho

Coração de Leão

Uma euforia toma conta da arena
É o grande Xebazum quem entra em cena
O Sol ofusca co'asas estendidas
Porém menos que exaltadas torcidas

O famoso herói pra seus fãs acena
Ergue os braços, mostra a espada pequena
Retumbantes vivas vêm da cidade
Menores que o estrondo da aberta grade

Da jaula surge tão bizarra fera
Mas nada que amedronte o herói, que espera
Parte o inseto gigante em investida
Calmo está Xebazum de espada erguida

Os golpes sacodem o coliseu
A luta é feroz como prometeu
Mas um segundo cala a multidão
É o gládio de Xebazum lá no chão

É o corpo, do ar ao chão vem conduzido
É o sangue no chão, do herói tão querido
É o povo que estava vibrante outrora
Que agora triste só lamenta e chora

O maior herói que a arena pisou
Grande ídolo de todo gladiador
O sangue corre do corte em seu peito
Quem pensou que morresse desse jeito?

A arena toma um silêncio completo
De costas, se afastava o grande inseto
No começo passou despercebida
Mão deslizando rumo a arma caída

Num golpe voraz, uma cabeça ao chão
Nosso adorado "Coração de Leão"
Co'a mão no peito - que o título valha
Mesmo morrendo vence sua batalha

Tripotente

Armas capazes de o céu rasgarLágrima Lunar
Socos que rompem as águas do mar
Destroem qualquer montanha da Terra
Mas seus corações só tinham a guerra

Eram três os guerreiros proclamados
Juntos capazer de apagar o Sol
Não conheciam sequer a amizade
Foram um espectro à humanidade

Seus sonhos: sonhos que não eram seus
Seus olhos: negros para fora e dentro
Passos a esmo, à destruição

Seus corpos: sonhos de um semideus
Seus corpos: imponentes monumentos
Seus corpos: corpos sem um coração

-- Cárlisson Galdino

Special: 

O Vampiro no Espelho

Se o espelho me mostrasse o lado errado
E ao encarar-lhe a face, visse a nuca
Que mal isso teria a me causar
Se a insânia - não é de hoje - me vigia?

Se o espelho me mostrasse um outro mundo
Tão estranho e de horror indescritível
Se já não me sentisse logo em casa
É que esse bom demais pra mim seria

Se o espelho me mostrasse um eu-rival
Seria por acaso o horror menor
Do que esse que hoje enfrento dia a dia?

Se o espelho me mostrasse qualquer coisa
Talvez eu não tivesse que lembrar
Que hoje sou uma besta horrenda e fria

Falsos Poetas

Pra falar do que não sei, não me meto
Pra fazer o que não sei, eu não gosto
Mas tem gente que faz, isso eu aposto
Há quem quer ser poeta a qualquer jeito
Sem saber rima ou métrica direito
Bota só pensamento e desengano
Uma frase no meio vai quebrando
Na esperança que vire um soneto
Mas talento pra isso, nem tem jeito
Quanto mais prum martelo alagoano

Há "poetas" assim pra todo lado
Todo canto se encontra, é só buscar
Se quiser esses identificar
É só ver o por eles trabalhado
É sem vida, sem graça, mal passado
É sem tema, é sem mote e é profano
Chamar de poesia é um engano
É só monte de verbo amontoado
Não dão pra fazer verso, é provado
Quanto mais prum martelo alagoano

E os concursos de arte de hoje em dia
Idolatram esse tipo de escrita
Que quem dera fosse ao menos bonita
Pra compensar não serem poesia
E se esconde tão triste em agonia
O artista de Dom puro e ufano
Porque há tempo que a História foi mudando
Hoje em dia é fácil ser notado
Não há espaço pro Soneto falado
Quanto mais prum martelo alagoano

Pedido

Todos os traços da tua bela face
São armadilhas postas com cuidado
Prestes a me prender em teus mistérios
Por que me expõe à tão doce tortura?

Teus olhos falam tão ambíguas frases
Teus lábios dizem, mas não posso ouvir
Longos, teus cabelos auto-contrastam
Com cada gesto me põe a sonhar

Tu és completa uma beleza exata
E não há nada que cintile mais
Nem existiu até presente data

Por tudo isso que você me faz
A liberdade me angustia e mata
Me prenda ou devolva minha paz

Monstro

Dela, a pele tirada à carne viva
E lá se multiplicam, embreagados
E dançam sobre o sangue derramado
Como uma horda cruel e tão nociva

Só mantém com prazeres, escondida
A sensação de que tem algo errado
Em transe rasgam o couro já rasgado
Mas findo o transe volta a dor sentida

Consumismos, cervejas e mais festas
Amores inventados compõem estas
Doses contra remorso a cada dia

E quando terminar a anestesia
Nesse deserto aos poucos irá ver
Que o monstro desumano era você

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