poesia

O Surfista do 5G e as Setilhas Piratas

Este meu novo cordel traz muita coisa interessante. Vamos por partes.

A história do Surfista do 5G é uma representação simbólica do que a Huawei vem passando, com boicote à sua tecnologia 5G pelos Estados Unidos. No cordel, em um futuro hipotético, os Estados Unidos foram separados, de modo que cada estado se tornou um país. Após isso, nasceu um novo Estados Unidos, que não era mais um país e sim um bloco com as nações americanas (todas, não só as do norte).

O praticante de kitesurf (aquele surf com uma pipa) havaiano Shui View criou uma manobra que vai bagunçar as competições nas Olimpíadas, então o Comitê Olímpico se reune para decidir o que fazer.

A outra grande novidade diz respeito à forma. Este é o primeiro cordel que publico com uma poética variante que eu planejei e chamei de setilha pirata.

Quem conhece o galope à beira-mar sabe que seus versos não são apenas em 11 sílabas poéticas. Além disso, o ritmo de galope marca a 2ª, a 5ª e a 8ª sílabas poéticas, de modo a se dar o ritmo de galope. Pois bem, a setilha pirata tem 2 métricas, uma para os versos 5 e 6 (métrica em 5) e outra para os demais (métrica em 8), mas tudo no ritmo do galope, como se fossem versos quebrados de um galope à beira-mar.

O resultado finalo é uma setilha diferente, que tem um ar de aventura quando declamada, que lembra cantigas de piratas, por isso escolhi esse nome.

Em dois, mil cento e dezenove
Dez anos depois do ocorrido
Que gerou diversas nações
Partindo os Estados Unidos
De suas raízes
Cinquenta países
Em um mundo mais dividido

Um novo "Estados Unidos"
Nasceu como parte da ideia
Unindo os países da América
Até mesmo a parte plebeia
Para fazer frente
De forma eficiente
À imensa União Europeia

No esporte desses novos tempos
Que animava a população
Havia duas Olimpíadas
Dois tipos de competição
De forma correta
Separando atleta
Quem era ciborgue e quem não

Quando o Comitê Americano
De surf, skate e asa delta
Se juntou no país da Flórida
Em uma reunião secreta
Pra turma dali
Poder discutir
Um tema que muito os afeta

O cordel já pode ser comprado a mim fisicamente ou obtido na Amazon!

Poesia Assimétrica

Poesia é formada essencialmente por versos (ou linhas). Elas podem ser agrupadas em estrofes. A técnica poética envolve principalmente a rima, a métrica e o ritmo, que está relacionado à métrica.

Na maioria das vezes, sinto que se espera da poesia uma estrutura simétrica, pelo menos daquela poesia que não chutou modernamente o pau da barraca. Especialmente em poesias mais longas e/ou mais técnicas mesmo, como ocorre na Literatura de Cordel.

Na verdade, não devíamos estar tão preocupados com a simetria. O provável gênero poético mais famoso do mundo, o soneto, é assimétrico: tem duas quadras (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). Meus cordéis costumam ser muito simétricos, mas já vi cordéis assimétricos muito bacanas.

Outra "regra silenciosa de simetria" diz respeito à métrica. Quanto a essa, já escrevi sonetos (e outras poesias) que chamei à época de heterométricas, mesclando duas métricas em uma mesma poesia. Por exemplo, em O Duelo da Estrela:

A espada pesa, o ombro
Não é o aço
Mais um passo, um tombo
E outra reza

Ou no Cárcere da Arte:

Você pelas margens do meu caderno
Não te quero
Em juras e loucuras sem sentido
Como uma musa d'além desse mar

O estilo de cantoria popular Toada Alagoana também oferece essa dupla métrica. Partindo de uma sextilha, se intercalam três versos menores, que funcionam como eco (rimando inclusive) com os versos que não teriam rima, caso se mantivesse como sextilha. Para entender melhor:

O cordel é poesia
Todo dia
Tem um poeta nascendo
MC, tem repentista
Sonetista
A arte desenvolvendo
Nossa arte e cultura
Traz a cura
Pra um mundo quase morrendo

A estrutura de certas estrofes pode servir também para demarcar capítulos, para determinar momentos e climas da poesia, recurso que pode ser bem útil em uma poesia mais longa. Letras de música também costumam ter pegadas diferentes, nem que seja apenas para diferenciar o refrão do restante.

Ah, e a poética assimétrica está na Literatura de Cordel há muito tempo, é só ver uma peleja antiga.

-- Cárlisson Galdino

Special: 

A Régua da Poesia

Poesia não são só palavras colocadas num papel. Quer dizer, os dadaístas podem até defender essa concepção de poesia... Mas poesia envolve algumas técnicas e artimanhas. A mais conhecida, claro, é a rima. Classicamente tem também a métrica.

Acontece que a métrica não é presente em todos os tipos e poesia, nem funciona sempre do mesmo modo quando saímos da Academia para o mundo real. O que venho percebendo nesse ponto é que poesia geralmente tem uma régua, uma medida para a declamação. A medida clássica é a métrica, mas não é a única.

  • Métrica: a medida tradicional da poesia é feita contando-se as sílabas poéticas, que são sílabas nem sempre coincidentes com as sílabas gramaticais, terminando na sílaba tônica da última palavra do verso. Atrelado à métrica vem também o ritmo, que determina como os versos devem ser declamados.
  • Batida: música de modo geral tem sua preocupação de "encaixe" da letra. Os versos têm que encaixar no ritmo ou na melodia. Para isso, a métrica é um bom ponto de partida, mas há alguns malabarismos do intérprete que permitem fugir da métrica sem nenhum prejuízo, pelo contrário, enriquecendo ainda mais a música. Aquelas aceleradas para várias sílabas caberem em um tempo onde antes couberam poucas, ou aquela vocalizada que estica algumas sílabas por um período mais longo.
  • Teatral: quando a poesia é declamada de forma teatral, ela usa uma outra medida, que é a da dramatização. Pode ter versos meio cantados, versos gritados, versos soltos como pensamentos... A encenação tem que conseguir tirar o máximo de sentimento daquela poesia. E a poesia sem métrica (e muitas vezes também sem rima) pode ser assim por ter sido pensada em uma declamação desse tipo.

Então o resumo da Ópera é que hoje eu percebo a poesia como algo dependente de uma régua, mas que aceita várias réguas diferentes. Quer saber se uma certa poesia ficou legal? Ouça a declamação de quem a criou. Se ele conseguiu declamar bem, te convencer, está valendo! Pode ser uma música, um cordel sem métrica ou uma poesia pós-moderna com 41 versos de tamanhos variados presos em uma só estrofe. Funcionou? Tá valendo.

Ah, tem também a poesia concreta, mas esse já é um outro assunto...

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Cretense Dissecada

Se você quer conhecer os bastidores da poesia Cretense, aqui está. Explicando passagens da poesia e também a estrutura de ritmo, métrica e rima. Tentei fazer o mais didático possível.

Quem vir, comente depois dizendo o que achou, tá?

Vo

é

o

pa

ra

fu

so

que

cor

roi

as

mi

nhas

cha

ves

Vo

é

u

ma

lem

bran

ça

que

de

vo

ra o

meu

ju

i

zo

Vo

é

Pan

do

ra

lou

ca,

sol

ta o

mal

num

gran

de

ri

so

Vo

é

o es

cor

pi

ão

que

per

sis

te em

me

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ro

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Vo

é

foi

ce en

con

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da

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chão

em

bri

ga

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bar

 

Vo

é

u

ma

bi

gor

na

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pi

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u

ma es

pa

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Que

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cer

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a

ca

be

ça

quan

do

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ço

to

da es

ca

da

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vo

é

o

la

bi

rin

to

com

seu

bri

lho e

seu

pe

ri

go

Vo

é

a

bor

bo

le

ta

que

en

tra

pe

la

ja

ne

la

Pe

la

por

ta

vai

em

bo

ra

sem

que eu

mal

o

lhe

pra

e

la

Vo

é

a

bi

os

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den

tro

do

meu

guar

da

rou

pa

Vo

é

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mos

ca

ver

de

dan

çan

do

na

mi

nha

so

pa

Vo

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jus

ti

ça

ce

ga

e

sem

na

da

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di

ção

 

Sem

pre

vem

me im

por

cas

ti

gos

sem

que eu

sia

ba a

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ção

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vo

é

a

voz

tão

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ce

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me

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Vo

é

ga

to

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min

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tro

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ço

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que

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é

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pi

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me

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te

ver

 

Vo

é

um

li

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cri

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Vo

é

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sa

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pi

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por

mim

 

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nan

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Pro

ta

go

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zan

do a

tra

gi

co

dia

da

mi

nha

vi

da

Acima você vê a poesia Cretense (de Cárlisson Galdino) dissecada.

O ritmo é dado pelas sílabas poéticas em fundo amarelo (e uma cor diferente, conforme a rima, na décima quinta sílaba).

Separação de sílabas poéticas difere da separação de sílabas convencional.

As sílabas poéticas são unidades sonoras, ou seja, muito dependentes da forma de declamar.

A estrutura tem 3 estrofes de 7 versos cada, com rima XAABBCC.

As sílabas em cinza escuro são “mudas”, não contam na métrica.

As sílabas em cinza claro servem para mostrar que esta métrica pode ser entendida como a fusão de dois

versos em redondilhas menores (sete sílabas poéticas) em um só verso, com ritmo pa-pa-PA-pa-pa-pa-PA.

Cada verso tem exatamente 15 sílabas poéticas. São classificados como versos bárbaros.

Special: 

Martelo Alagoano

O Martelo é uma construção peculiar da poética nordestina: é composto por estrofes de dez versos decassílabos, com estrutura de rima e ritmo bem amarrada. É, lembra um pouco Os Lusíadas, mas no caso de Os Lusíadas há sextetos (seis versos) e a estrutura de rima muda um bocado. Os martelos também têm um mote, um verso que se repete ao final de cada estrofe.

O Martelo Alagoano, por sua vez, é um martelo cujo verso final de cada estrofe termina com martelo alagoas.

Acabei de publicar um martelo alagoano de minha autoria, composto por três estrofes, para apreciação dos que gostam de cultura nordestina. :-)

O exemplo mais acessível de martelo alagoano talvez seja a música cantada por Alceu Valença chamda justamente Martelo Alagoano.

Special: 
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