De cima do poste ela sorri. É madrugada e se veria a Lua Minguante a observar a cidade vazia, mas o céu está nublado. No fim das contas, a noite está até mais clara do que estaria sem as nuvens. Sem essas nuvens avermelhadas...
Seus olhos são o que mais se destaca na noite. Se você achar normal aquela cauda e os pequenos chifres que ressurgem tímidos sob cabelos negros.
Olhar firme e olhos vivos e bem desenhados. E ela sorri com seus lábios carnudos. De cima do poste, com seu corpo feito milimetricamente para o pecado. Cada pequena fração a despertar libido de quem a vê.
Não, ninguém a observa neste instante. Mas todos que a observaram passaram pela mesma cascata de desejo. Fosse homem ou mulher. É assim desde que se pode lembrar, o que leva a não menos que duzentos anos. Insanidade, crime, descontrole... A que não levam seus olhos?
Unhas afiadas e sorriso de quem tem tudo, absolutamente tudo, inegavelmente tudo sob controle.
Seus olhos não estão mais lá. Como se nunca tivessem estado, o poste já vazio. Ou ela não é mais visível, ou se foi ou nunca existiu?
Esses desaparecimentos de fato contribuem para seu poder sobre todos. Porque ela se vai, mas os efeitos de sua visão permanecem. E outros efeitos também. Para onde ela terá ido? Certamente corromper mais alguém, por prazer ou necessidade. Seus olhos são um perigo.
E agora já não há dúvidas de que ela esteve mesmo ali. Ventos não balançam postes...
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