Ela passa mais uma vez com a camisa do Santos. A camisa 10, provavelmente uma alusão a Pelé. Talvez nem mesmo torça para o Santos. Talvez nem mesmo goste de futebol tanto assim... A filha do Belarmino, a Lisa. De cabelos curtos e castanhos, quase loiros, com os lábios exibindo um marcante batom vermelho, Lisa caminha até a loja de celular.
"Essa cidade é uma droga, não vale nada. Essa loja, pior ainda. Mas já que é a que tem, fazer o quê, né?"
- Boa noite.
- Boa noite. Queria um celular com câmera e MP3.
"Só quero um celular que preste. Mas ou é caro demais ou não presta. Essa vida é uma droga!"
Lisa sai da loja com cara de raiva. Sem o celular, o que talvez justifique seu humor. Se bem que, vendo com um pouco mais de atenção não é difícil perceber que ela já havia entrado assim naquela loja.
"Esse pessoal não sabe atender direito. Se eu fosse dona dessa loja mudava esses vendedores na hora!"
Segue preocupada com o trabalho para a universidade. Mais uma vez ficou numa equipe de escorões e terá que fazer todo o trabalho sozinha.
"Aquele Max pensa que não tenho o que fazer na vida. Nunca vi ele fazer nada na equipe, trabalho nenhum. Sempre sobra pra mim. Um dia eles me pagam!"
De noite a volta da Universidade e uma chuva infernal a pega no caminho. Lisa passa do outro lado da rua, perto da lanchonete, vista por dois pares de olhos.
- Conhece ela? - Uma ruiva pergunta apontando para Lisa, ao homem do seu lado, no balcão da lanchonete onde comem pastéis com guaraná.
- Conheço sim. É a Lisa, estuda comigo.
- É estressada ela, não é?
- Mais ou menos. É uma pessoa legal, apesar de às vezes ser meio chata é bem divertida.
- Ela esteve lá na loja hoje pra comprar um celular.
- E foi? Ela disse mesmo que precisava mudar que o dela estava muito velho.
- Pois é, só que ela não gostou de nenhum. Ofereci todos que tinha com MP3 e câmera como ela queria, mas ela sempre achava um defeito. E ainda me culpou por não ter um que ela gostasse lá.
- É, ela é assim mesmo... Já me acostumei. Quando cisma com uma coisa... Você acredita que ela não deixa mais eu ajudar nos trabalhos da faculdade? Teve uma vez que a gente tirou oito em um trabalho e ela diz que a culpa foi minha: queria um dez. De lá pra cá não deixa mais eu fazer nada.
- Então aproveite, já que ela quer fazer tudo sozinha...
- Mas é chato isso. Ontem eu só faltei implorar pra ela me dar uma parte pra fazer, porque não é justo. Sabe o que ela me disse?
- O quê?
- Deixe que eu faço que se você fizer não vai sair nada que preste.
- Então deixe! Pra que se aborrecer com isso?!
- É, né? Pelo menos tem um lado bom. Se eu tivesse fazendo esse trabalho não podia passar a noite com você...
- Que história é essa, Max?!
- Ué, vamos! A gente dá uma esticadinha até ali. Conheço um motel bem bacana...
- E o que fez você pensar que eu iria?
- Ué, não quer ir?
- Tá, eu vou.
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