A Ilha do Tirano

- Eu vim para matá-lo!

- Você deve estar cansado. Não quer um pouco de vinho? O jantar já vai sair. Fique à vontade.

- Não, seu imbecil! Eu vim te matar!

- Hmm... Certo. Já disse que é uma honra para mim que tenha vindo de tão longe só para me ver.

- Te ver não, te matar! Entende?!

- É, você é mais obstinado que os outros. Tudo bem, deixemos o vinho pra lá por ora. Por que exatamente quer me matar?

- Que pergunta! Todos sabemos o mal que representa. Qualquer um já ouviu falar seu nome!

- Que interessante... Pois eu não sei que mal represento. Que mal represento?

- Não me confunda! Eu vim para matá-lo!

- A pedido de quem, se é que posso saber?

- Dos sábios de Cedonqb. Pensa que não sabem do regime de escravidão que você impõe aos seus trabalhadores?

- Escravidão... Você tem um conceito interessante para escravidão. Sempre penso que trabalhar duro por pedaços de metal capazes de comprar apenas as refeições do mês se aparenta muito com escravidão. Não é o que fazem por lá?

- Então reconhece que não paga seus trabalhadores. Isso facilita as coisas.

- Sua lógica é hilária. Se não dou pedaços de metal, logo não pago. Aposto que te disseram, como a outros, que eu sou um tipo de fantasma que mata criancinhas recém-nascidas e o povo vive o terror quando estou por aqui...

- ...

- Precisa aprender uma lição importante, caro amigo: é preciso conhecer os outros bem antes de julgar. Não se julga por tabela.

- O que queres dizer, tirano? Que todos da minha terra são mentirosos?

- Todos não, mas se surgiu tudo isso sobre minha terra por lá, certamente alguém de lá é mentiroso sim. Por que não dá uma volta por aí para conhecer minha terra? Em dois dias nos vemos de novo. Que me diz?

- E se fugires?

- Bem... Há quatro dias contornasse as ilhas das aves. A tripulação passava fome. Encontraram na ilha dos sabiás algumas ovelhas. Sete ovelhas. Mas as ilhas não são habitadas por ovelhas.

- Que quer dizer?

- Há dez dias sei da sua aproximação. Ordenei que deixassem 10 ovelhas naquela ilha para vocês. Como não sabem procurar direito, tivemos que enviar pela manhã um barco para resgatar as três restantes.

- Tudo bem. Pode ser assim então. Em dois dias volto, mas não pense que pouparei sua vida.

- Espere. Leve consigo esta carta branca. Esses metais não têm tanto valor por aqui.


- Bem, estás de volta. O que descobriste nestes dois dias?

- Estou bem, obrigado. Estavas certo em alguns pontos. As pessoas parecem felizes. Mas não pagas teu povo.

- Vocês e seus metais...

- Sim, descobri que homens trabalham em mineração. Também está construindo navios e armas.

- Claro! Precisamos de metais. Para coisas úteis como utensílios.

- ...e armas! E os navios?

- São rápidos e eficientes. Precisamos deles para termos contato com o mundo. Afinal, vivemos em uma ilha.

- E as armas...

- Cada cidadão é livre para ter as armas que quiser.

- Isso não parece razo...

- A educação que damos na Academia instrui as pessoas. Elas nunca usam as armas e só as guardam por segurança.

- Mas e o restante do metal? O que faz com ele?

- Trocamos pelo que nos é útil.

- Sei... Não paga os trabalhadores e negocia com outros países...

- Melhor seria então que as pessoas não tivessem alimento, academia, biblioteca e festivais e ao invés disso recebessem umas moedinhas por mês, não é mesmo?

- E onde fica todo o dinheiro?

- Por que me pergunta ainda essas coisas? Já tem todas as respostas. Ou nem ao menos tocou nesses assuntos com os cidadãos?

- É verdade... Eles dizem que são felizes. Que estudam, trabalham e se divertem... Que você faz reuniões à Lua Nova, onde diz o que está havendo e pede opiniões.

- E então?

- Não acreditei muito, mas tudo o que descobri nesses dias leva a crer que falam a verdade.

- Que bom. Então podemos jantar. Pode ficar alguns dias antes...

- Não, obrigado. Preciso ir.

- Vamos jantar...

- Jantaremos a caminho de casa.

- Bom, então o que mais? Boa viagem. Agora que já conhece minha terra sabe o que dizer sobre nós e nosso povo.

- Sei sim, mas também tem algo que preciso te dizer.

- O quê?

- Eles já conhecem essa ilha. Você é um tirano que comete atrocidades e nada vai mudar isso, entende? É para eles uma questão de fé.

- E essa arma de pólvora? Então o que pretende? Não sabia que existiam pessoas de tão fraco caráter...

- Fraco caráter... Não é isso. São as regras dos novos tempos. A História já foi escrita. Você é um tirano que foi vencido pelo Império em ascenção. Como tantos outros tiranos. Eles só precisam de um nome para o papel de "destruidor do mal". O meu nome. Afinal, como eu disse há dois dias: eu vim para matá-lo.

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