Jogos Perigosos

Belo Horizonte, 17 de janeiro de 2000. Um veículo estranho tentou abraçar um poste no centro. Um pouco grande. Parece um Santana Quantum, só que mais arredondado, muito mais. Parece... É, não parece tanto um Santana, olhando bem. Na verdade entendo quase nada de carro.

De cor escura, parado no poste. Não sei a cor, afinal, de noite todos os gatos são pardos.

No interior, ninguém. No caminho, duas pessoas mortas. O motorista desapareceu.

Garanto que se não tivesse saído de casa hoje para trabalhar eu poderia morrer sem conhecer esse veículo ou mesmo o fabricante.

- Chrysler, é isso?

- Chrysler.

- Foi o que falei.

- Hã?

Casos assim têm razões parecidas. Geralmente são veículos roubados ou conduzidos sob efeito de álcool. Nas duas razões se pode encontrar motivação para fugir de cena. Este Chrysler em especial foi roubado, o que não livra de ser um caso razão dobrada.

- Senhor? Nossos amigos estão chegando.

Que saco, a imprensa! Não devo reclamar, eles até que demoraram dessa vez. Não são poucas as vezes em que eles chegam mesmo antes de nós.

- O que temos hoje, Joaquim?

- O que você vê.

- Hmmm... Deviam acabar de vez com esse negócio de bebida.

- Ha! Não me faça rir. Que diversão teremos no fim de semana? - Detesto essa mentalidade de tratar adultos como crianças.

- E o motorista?

- Fugiu.

- Não deve ser difícil encontrar. Não se vê muitos carros desses por aqui.

- Veículo roubado. Fabio Carneiro Valle é o dono. Prestou queixa hoje mesmo. Não é da cidade.

- Bem... Pronto? Vamos rodar.

Deixo a imprensa fazer seu trabalho. Hora de deixar o local. É bom ajudar a imprensa, que ela nos ajuda quando precisamos. Uma mão lava outra, é como se diz.

E assim termina esse caso. Sem testemunhas, sem provas de crime, somente um retrato falado feito pelo senhor Valle. Se morássemos num filme americano poderíamos investigar isso mais a fundo, mas por aqui? Quem quer saber? Os presídios já estão cheios e a podridão anda por todo lado. Que autoridade tem interesse em investir em aparato para investigação? Eles mesmos contam com essa escassez quando for conveniente para eles sujar as mãos...

- Continuar a ronda?

- Vamos mais um pouco. Depois a gente volta pra DP.

Isso pra mim tanto faz, afinal sempre foi assim. Tenho medo é do futuro, dessa turma jovem. Ficam nesses jogos de tiro no computador. Por enquanto a gente tem pego criminoso e alguns riquinhos rebeldes com carência de tapas, que os pais não suprem. Tenho medo de um dia, graças a esses jogos – esse... Armagedom, é isso? - chegarmos num dia em que a maioria dos presos com arma na mão sejam jovens que poderiam ter futuro, como o filho de qualquer um de nós.

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