O primeiro encontro de Mandros com o padre

Special: 

Mandros

- Padre, eu só vim aqui pedir algum dinheiro. Eu preciso.

- Para que, meu filho? Para comprar mais bebidas e logo ficar sem nada?

- Eu preciso, padre. Eu preciso deixar a cidade! Claro, eu preciso beber também, mas isso nem é o principal.

- Pois pode ir embora, que eu não tenho dinheiro pra vagabundo. E eu tenho que levar os cristãos para a capital.

- Padre, padre... Eu não estou pedindo dinheiro.

- Ah, não?

Ele se levanta de cabeça baixa, com os dedos da mão direita sustentando a testa.

- O que quis dizer foi que isso não era um pedido.

O padre treme na cadeira espantado quando o homem estranho pega a faca que estava na mesa, uma faca de serra.

- O que está fazendo, meu filho?

- Estou pensando em suas palavras.

- Você está nervoso, meu filho, se acalme e passe aqui semana que vem que a gente vê o que pode fazer a seu respeito.

- De fato... É uma proposta interessante, mas o que você diria se eu lhe dissesse que não gostei muito dela?

- Olha, meu filho, eu...

- Senta aí!

Ele empurra o padre de volta no momento em que ele tentava se levantar. Enquanto o padre olha para ele ofegante, ele gira o olhar através da sala.

Há um oratório num dos cantos, com imagens de santos diversos e um crucifixo no topo. Do outro lado, perto da porta do banheiro, uma estante parecida com aquele oratório, com um espelho, com um terço suspenso por um prego. Pelo espelho se vê parte da parede que leva à porta da escada, que leva à rua. Então olha novamente o padre.

- Meu filho, eu já estou bem velho, tenho idade para ser seu avô, me deixa em paz por favor, em nome de Deus!

- Paz... Paz... Padre, esse pedido seu não é prático, não é realizável. Já olhou o mundo lá fora? Ah, mas o que eu estou falando? Você ouve! As pessoas se confessam, não é, padre? Você sabe muito bem que não dá pra ter paz nesse mundo. A não ser... Por acaso o padre estaria me pedindo mesmo para te deixar em paz? Na paz do Senhor?

- Meu filho, o que é isso? Vamos, volte a si, você é um homem bom!

- Bom? Hahahahaha! Claro que sou bom! Nunca vi ninguém fazer isso melhor do que eu!

Com a mão direita, ele tapa a boca do padre, que se debate na cadeira com os olhos arregalados. Com a esquerda ele manuseia a faca que havia sobre a mesa, em direção ao pescoço do pobre sacerdote.

Lá fora cinco pessoas esperam, perto do pequeno e velho ônibus. Esperam por quem os leve até a capital. Esperam que seja o padre, mas quem surge é um outro homem, recém-saído do banho. Ele desce aquela escada e fecha a porta à chave. Então fala para os presentes, com um sorriso estranho no rosto.

- Quem vai comigo pra capital?

- Não era o padre que nos levaria?

- O padre, o padre! Eu lá tenho cara de padre!? Vamos, estou trabalhando para ele hoje. Ele está, como diria, meio indisposto.

Eles entram no veículo receosos enquanto aquele estranho prepara para partida. Alguns ainda olham pra janela do primeiro andar antes que o pequeno ônibus vire a esquina.

-- Cárlisson Galdino

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