- Oi, filha! Como foi no cursinho?
A mãe recebe a adolescente, ainda arrumando a cozinha, quando atenta para a jovem.
- Nossa, filha! O que houve!? Você está pálida!
- É que... - Cida corre pro quarto e se deita na cama chorando. Não quer falar sobre isso. Não agora. Prefere poder aproveitar a segurança do seu ninho, sua fortaleza.
- Ei. - ...mas a mãe não deixa. - Me diz o que houve, vai filha? Fizeram alguma coisa com você?
Tudo o que ela consegue é fazer sinal de negativo com a cabeça, com o rosto ainda afundado no travesseiro.
- Vai, filha! Tá me deixando preocupada! É a faculdade? Tá com medo de não passar dessa vez, é isso?
Mais um sinal de negação.
- Mãe... - Ela fala com esforço. - Lembra aquele menino que veio aqui semana passada?
- Aquele dos deseinhos?
- É...
- O que foi que houve? Ele te deu um fora? Você gostava dele, não gostava?
- Ele morreu... - As palavras saem e são seguidas por um choro desesperado.
- É... Filha? Como assim morreu?
A vontade de Cida era de gritar “Morreu, sabe não!? Morrendo! Pulou da igreja! O Henrique morreu! E eu vi!”. Ao contrário, não conseguia produzir mais do que soluços.
- Como ele morreu? Ele estava doente?
“Não, idiota! Claro que não estava doente! Ele se matou!”
A mãe tenta tirá-la carinhosamente do travesseiro e revela seu rosto vermelho e molhado. É quando ela consegue falar:
- Ele pulou...
- De onde!? De um prédio!?
Cida faz que sim com a cabeça e abraça a mãe, em lágrimas.
- Calma, filha... Isso acontece. Ele devia ser uma pessoa perturbada mesmo.
“Era um idiota, isso sim!”
- Tem gente que não aguenta essa pressão toda perto do vestibular. Mas não vai acontecer com mais ninguém. Seus colegas vão superar isso.
“E eu com isso!? Por que o Henrique pulou!? Ele não tinha o direito de se matar! Eu gostava dele...”
-- Cárlisson Galdino
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