Miragem, a Saga

Não sei. Será...
Que um dia saberei o que aconteceu, será?
Mas não faz mal
Já sei o que alcancei, sei o que é a pedra filosofal

Eu tinha casa, tinha carro, tinha esposa
Geladeira, lava-louças, telefone e frigobar
Eu tinha emprego, tinha vergonha na cara
Ia lá pra Pajuçara todo dia trabalhar

O meu trabalho não era lá do melhor
Eu era só um vendedor em uma loja à beira-mar
Vendia roupa, mas não era roupa fina
Só biquini pra menina: roupa só pra se molhar

Mas mesmo assim aquele tempo era massa
Do trabalho via a praça, via carro, via o mar
E no trabalho tinha a Bruna e o Pereira
Tudo gente de primeira pra brincar e conversar

Mas teve um tempo que a coisa 'tava danada
Até a Marta, aperreada, só falava em separar
Mas foi qlue veio um Zé de terno e falou rouco
Me tirava do sufoco se eu fosse lhe acompanhar

Não sei. Será...
Que um dia saberei o que ocorreu, será...
Pois eu fiz mal
Não devia ter deixado a minha terra natal

O tal sujeito era mesmo importante
Só não era bem falante: foi um tédio pra valer
A gente foi pra todo canto de avião
Só não pergunte a razão: isso eu não pude saber

E era Egito, era Cuba, era China
Patagônia, Palestina, cada canto pude ver
Mas era só pra procurar coisa enterrada
Cada cova mal cavada que a gente foi se meter...

Mas numa dessas achamos um troço estranho
Uma caneca de banho com um pó de sei-lá-o-quê
Mas foi então que, pra me deixar só no mundo
O sujeito vagabundo resolveu de vez morrer

No enterro, um enterro diferente
Ele não tinha parente, nem da terra, nem ET
E ainda mais que no buraco, um acidente
Aquele pó, de repente, começou a me envolver

Não sei. Será...
Que um dia saberei o que aconteceu, será?
Nesse local
Achava que minha vida ia mudar e coisa e tal

E o engraçado - ou seria assombroso -
O tal pó misterioso tinha vida e se movia
E foi assim que aquele pó me envolveu
Depois desapareceu e até lá nada sentia

Mas não tardou e notei algo diferente
Pelo pó, provavelmente, um poder em mim nascia
Um poder que achei que fosse de verdade
De trazer à realidade um pouco de fantasia

Imagine, sem saber do poder ganho
Todo vampiro é medonho, mais ainda o que eu via
Mas descobri que era fumaça à minha vista
Eu era um mago-ilusionista a partir daquele dia

Então vaguei por essas terras tão sofridas
Das coisas mais divertidas, as melhores escolhia
Com tal poder eu tanta coisa construía
Que negava o que dizia toda vã filosofia

Não sei. Será...
Que um dia saberei por quê que aconteceu, será?
Mas não faz mal
Já sei o que encontrei, sei o que é a pedra filosofal

Preguei um susto num coitado dum vaqueiro
Fiz um verme carniceiro ressurgir na sua frente
Mas era uma lapa de verme-coliseu
E tanto susto ele sofreu que até hoje está doente

Eu saí nessa travessura desmedida
Desenganado com a vida, minha sina era somente
Ir pelo mundo todo mundo assustando
Quem quer que fosse encontrando, gente ruim ou inocente

Alguma coisa em mim pedia pra parar
Chega um tempo que não dá, a gente meio que sente
Mas não se muda, por mais que a consciência berre -
Foi quando, numa BR, provoquei um acidente

Não sei. Será...
Que um dia saberei por que aconteceu, será?
Nenhum sinal
Não tive instruções pra usar esse dom anormal

Depois revendo tudo aquilo que fizera
Tendo com cada quimera, como uma prova dos nove
Vi: não devia agir com tanta crueldade
Já que tudo que é maldade quase sempre nos envolve

E pelo mundo, qual como até hoje estou
Troquei truques sem valor pelo que ajuda e comove
Daí passei a buscar qualquer sofredor
Pra conjurar uma flor, mostrar o Sol quando chove

Já faz tempo que eu tô nessa jornada eterna
Já não sei se são as pernas ou se é o chão que se move
Contei milênios, mas o tempo é uma ilusão
Viajo contra a solidão, mas só não sei se resolve

O mundo é um sonho e meus olhos não podem enxergar
Verdade e mentira são coisas que não sei mais como juntar

Que posso fazer? Minha vida é trazer alegria
Tirar um sorriso num truque ou em uma história vazia

Não sei. Será...
Que um dia saberei o que vai ser de mim, será?
E no final
Quem sabe um dia eu possa novamente ser real

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