setilhas

O Fantasma da Opera

O Fantasma da Opera

Falo hoje, camaradas
De uma história assombrosa
De uma bela donzela
Jovem, linda como a rosa
E um monstro como a peste
Aconteceu no agreste
O causo da nossa prosa

A história aconteceu
Só lembra o povo mais velho
Foi lá no nosso teatro
Do lado do Bom Conselho
Quando ainda funcionava
Muita coisa se escutava
Até dentro do colégio

Lá faziam muita peça
De teatro musical
Que o gringo chama de ópera
Aqui era mais normal
Cantavam em português
Vamos pra 93
Quando existiu esse mal

Cristina, a moça donzela
Que era de Coité do Nóia
Vivia nesse teatro
Falava com a Lindóia
"Que bom anjo, amiga, há
Que me ensina a cantar!
Me diga se isso não é jóia!"

E ela dizia: "Ô amiga
Mas que maluquice é esta?
Gente que mente merece
É um cascudo na testa!
Apague isso da mente!
Anjo que fala com gente...
Tá pensando que eu sou besta!?"

"Mas amiga, é verdade!
Ouço sua voz de explendor
Ainda digo mais: que o anjo
Foi o meu pai que mandou!"
"Cristina, ele morreu
Ai que susto ocê me deu!
Valei-me Nosso Senhor!"

Logo mais era o ensaio
Enquanto calçava a bota
Cristina viu que entrava
Sem sequer bater na porta
Sua amiga Lindóia
Gritando: "Vem, fía, óia!
Caiu um troço em Carlota!"

"Como assim caiu um troço?"
Carlota era a grande estrela
Cristina saiu correndo
Com a amiga para vê-la
Carlota gritava irada
"Eu não vou ensaiar nada!"
Ninguém pôde convencê-la

"Isso é coisa do fantasma!
Aquele espírito ruim!
O teatro é assombrado!
Vocês sabem que é assim!
Valei-me Nossa Senhora
Pois eu vou é dar o fora
Isso aqui já deu pra mim!"

Enquanto ela ia embora
Se sentava o diretor
Arrancando os cabelos
Dizendo: "mas que horror!"
O dono desse lugar
Chega então pra perguntar
"O que se desenrolou?"

"Caiu a tábua na diva
E ela gritou de dor
Caçamos por todo lado
E nada ninguém achou
Carlota se foi virada
Diz que a tábua foi jogada
E que o fantasma jogou"

"Com fantasma ou sem fantasma
A peça tem que ocorrer
Já vendemos os ingressos
Até o prefeito vem ver!
Trate de suar camisa
Faça tudo o que precisa
Pra essa peça acontecer!"

E foi virado na gota
E o diretor lá chorando
Lindóia deu um sorriso
E disse se aproximando
"Substitua a menina!
Por que não bota a Cristina?
Ela canta que é um espanto!"

E ele se espantou "É mesmo?
Pois quero ver a cantiga
Você já conhece a letra?"
E ela disse envaidecida
"Conheço sim, meu senhor"
E quando ela começou
A história foi resolvida

Cristina iria cantar
Já que não ia a Carlota
Foi todo mundo pra lá
Seu Manoel o seu Mota
Foi povo jovem e idoso
E o diretor bem nervoso
"Se der sorte, ninguém nota"

Mas todos viraram fãs
Quando a menina deu fé
Cristina foi aplaudida
Por todo mundo de pé
E na platéia avistou
Alguém com quem já brincou
Quando era de Coité

E saiu pro camarim
Perseguindo a atriz
Mas nem pôde olhar pra ela
A perdeu, que infeliz!
É que ela corre e some!
E era Raul o seu nome,
Da Fazenda São Luis

Como sumiu pelo mundo
Ele não viu outro jeito
"Parecia minha amiga
Mas se está feito, está feito
Já que a persegui em vão
Aproveito a ocasião
Vou conversar com o prefeito"

Cristina estava espantada
Mal conseguia respirar
Trancada no camarim
Começou a escutar
Uma voz que lhe chamava
Uma voz bem afinada
E se pôs a conversar

"Cristina, você foi 10
E não tem pra mais ninguém
Você aprendeu direito
Viu como eu ensinei bem?"
E ela resolveu dizer
"Mas eu nunca pude ver
Meu anjo que é do além"

Ele a chamou para o espelho
Ela olhava e ele dizia
"Eu sempre estive aqui
Te observo todo dia"
O espelho então girou
E ligeiro ele a levou
Para onde ele se escondia

No esconderijo ele mostra
Um violão bem antigo
Toca chorinho e bossa
No arranjo mais bonito
Ela olha bem ligeiro
Era quase um mundo inteiro
Sabiamente escondido

Cristina vendo o seu rosto
Com uma máscara branca
Num momento indefeso
Com uma mão ela arranca
Pra ver o que tinha atrás
Mas ao ver diz: "Satanás!"
Pois ligeiro ela se espanta!

E ele diz: "Você é louca?
Não repita isso, está bem?
Eu te trato com carinho
E é assim que você vem!?
Pois então vou te prender
Só deixo ir se prometer
Não gostar de mais ninguém!"

Ela concorda e se vai
Com o coração pulando
Mas lá fora ainda nervosa
Por tudo o que está passando
Ela encontra um aliado
Que a abraça emocionado
Era o Raul esperando

E eles conversam por horas
Sobre os tempos de criança
Logo ela se apaixona
Por seu amigo de infância
E conversam todo o dia
E Cristina, quem diria
Nele encontra uma esperança

Então Cristina e Raul
Falam e fica combinado
Vão fugir e se casar
No lugar mais afastado
Vão fugir depois da peça
É essa mesma a promessa
Do casal apaixonado

E começa a encenação
Na história divertida
Ela, o mulher do padeiro
No Auto da Compadecida
Mas quando vem o major
Acontece o pior
É uma figura escondida

Que fala: "minha querida
Até agora peguei leve
Mas você é uma safada
Tanto o padeiro me deve
Que se não pode pagar
É você quem vou levar
Se não paga, você serve!"

A plateia se animava
Ria até não poder mais
Da mudança inusitada
Na peça que lá se faz
Nisso o fantasma fugia
Mas a real Raul via
E foi perseguindo atrás

Debaixo desse teatro
Sem ninguém desconfiar
O mascarado fugia
Com a Cristina a gritar
Pelo caminho secreto
Mas Raul soube o trajeto
Só de parar e escutar

Perto de uma fogueira
O fantasma gargalhava
Quando Raul lá chegou
Com sua cara mais brava
Mas logo notou que a trilha
Levava pra uma armadilha
Logo preso ele estava

Raul preso numa corda
E o fantasma bem feliz
Com a Cristina do lado
Olha para ela e diz:
"A vida desse bundão
Agora está na sua mão
Ele veio porque quis"

"Ou você casa comigo
E vai morar na Alemanha
Ou eu enforco esse cabra
Para ele deixar de manha
Decida como vai ser
E não vá se arrepender
Vida ou morte ele ganha?"

Cristina pensou bastante
E disse "ó mascarado
Já gostei tanto de ti
E hoje veja esse estado
Hoje és um monstro rude
Mas por causa da atitude
Não pelo rosto estragado"

"Você é um infeliz
Seu coração só tem gelo
Viver casado contigo
Seria um pesadelo
Mas Raul tem que viver
Mesmo triste, que fazer?
Se é preciso, vou fazê-lo"

O fantasma então gargalha
"Pois você tá libertado!"
Enquanto Raul se solta
Rola um fato inusitado
O fantasma escorrega
Que peça o destino prega!
Cai na fogueira o danado

Cai já cortando a cabeça
Cristina grita de horror
Raul corre até ela
"Parece que ele dançou
Olha o sangue pelo chão
Foi fazer tal confusão
Que prêmio que ele ganhou?"

Voltando para o teatro
Eles ouvem gargalhadas
Olham pro lado assustados
Só que não enxergam nada
Não foi o primeiro dia
Depois disso quem diria
A casa estava assombrada

Foi assim que nunca mais
O teatro funcionou
Dizem que o fantasma vive
Em fantasma se tornou
Pra assombrar qualquer vivente
Que ande inconsequente
Na terra que ele pisou

Quando o fantasma sumir
Nem tudo pra sempre dura
Talvez o teatro reabra
Tem gente que diz e jura
Que isso é lenda, isso só!
Pois um fantasma pior
É não querer ter cultura

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Cordel dos Aplicativos

Cordel dos Aplicativos

Quem usa computador
Ou seja, um tantão de gente,
Sabe que o que o transforma
Nesse bicho inteligente
É esse tal de programa
Mas existe uma gama
De programas diferentes

Tem programa que funciona
Sem você atinar nisso
Ele não mostra a cara
Mas cumpre seu compromisso
Daemon é o nome em inglês
Mas aqui em português
Se conhece por serviço

Outro tipo de programa
É como uma forrageira
Para uma ação instantânea
Que só faz seguir roteiro
É uma ordem singular
Se pede pra executar
Executa e sai ligeiro

São assim vários programas
Como todos tradutores
Que convertem os arquivos
Para ter novos sabores
Como os que convertem vídeo
E são desse mesmo estilo
Os tais dos compiladores

Mas hoje nós falaremos
De programas de outro tipo
Aqueles que a gente usa
Olhando com olho vivo
Programas de interagir
Que mostram a cara ali
São eles aplicativos

Quando foram aparecendo
Aplicativos na praça
Eles eram primitivos
Com uma cara sem graça
E até a interação
Só por teclas de função
Pro usuário era uma desgraça

Para editar um texto
Não era moleza não
Não tinha fonte nem cor
Nenhuma formatação
Imagina só que treta
Era uma tela preta
A interface de edição

Imagine a presepada
Imagine o desastre
Se de vídeo ou de desenho
Ou de foto precisasse
Até tinha uma maneira:
Letras pela tela inteira
Desenhando em ASCII Art

Era negócio de doido
Uma vida como aquela
Se tu voltasse no tempo
Não acostumava com ela
Tela preta noite e dia
Nem o mouse existia
Pra movimentar na tela

Quando veio a evolução
E o mouse desembarcou
Trazendo pro aparelho
A fuga praquela dor
Trouxe também as janelas
E as coisas eram mais belas
Na tela do monitor

No início, em tons de cinza
De pouquinho ganhou cor
E com essas novidades
Muita coisa se criou
Pouco a pouco o equipamento
Virou o que nesse momento
Chamam de computador

Desse tipo de programa
É que nós vamos falar
Aplicativo em janela
Para a gente utilizar
Com seus menus e botões
Amados por multidões
De quase todo lugar

São programas bem diversos
Programa para ler livro
Calcular, saber se chove
De internet, texto e video
De jogos à medicina
Tem que tu nem imagina
O que há de aplicativo

Era um monte de programa
Cada vez mais se produz
Como ajeitar a bagunça?
Procuravam uma luz
Atalhos foram criados
Em ordem e agrupados
Organizando menus

Um atalho era somente
Um arquivo bem nanico
Dizendo qual o programa
Com um ícone bonito
E assim quando eu desejar
Esse programa chamar
Procuro o atalho e clico

Atalhos são colocados
Pela área de trabalho
Ou na barra de tarefas
Só os mais utilizados
Mas os menus que falei
Sei que são até onde sei
O lugar mai adequado

No GNOME os menus
Se arrumam com maestria
Agrupando os programas
Sempre por categoria
De Internet, de Escritório
Ciência, Jogos, Acessórios...
Facilitando o seu dia

Desse jeito fica fácil
Cada programa encontrar
Pense no que você quer
Só estará num lugar
E o danado do GNOME
Ainda altera os nomes
Pra ainda mais facilitar

O que seria Firefox
Vira “Navegador Web”
O nome é substituído
Pela descrição, que serve
De guia mais que perfeito
Para o usuário leigo
Ser feliz como se deve

Falamos de aplicativos
Você não deve ter medo
O GNOME é bom de usar
Não há não qualquer segredo
Basta então você deixar
Ele vai te acompanhar
Será seu novo brinquedo

-- Cárlisson Galdino

Special: 

A Saga de um Encanador

A Saga de um Encanador

Se você pensa que é fácil
A vida de encanador
É melhor pensar de novo
Pra ver se dá mais valor
Os canos trazem perigos
Desafios e inimigos
Pro corajoso transpor

Veja o exemplo do Mario
Bigodudo sem esmero
Que enfrentou desafios
Andou por quantos castelos?
Foi com coragem e presteza
Procurando a princesa
Do Reino dos Cogumelos

Hoje vamos conhecer
Uma grande aventura
Na qual Mario se envolveu
Pra ver como a vida é dura
Sem preconceito, vê bem
Encanador também tem
Lugar na Literatura

Andando pela floresta
Um cogumelo lhe aumenta
Entrando num cano verde
(Sem cano azul ou magenta)
Há moedas lá embaixo
E após a escada que acho
Uma bandeira se sustenta

Depois pelo subsolo
De novo entrando no cano
Há tartarugas e blocos
Um mundo escuro e profano
Mas tem que ficar esperto
A vida corre no teto
Sem blocos, fácil a pegamos

No alto verde das montanhas
O perigo só aumenta
Quando as tábuas vão e vem
Queda é morte violenta
Mario não para por nada
Nem tartarugas aladas
(É pouco o que não se inventa)

Saltando pelas montanhas
O castelo é encontrado
De lava e fogo que gira
O Kopa cai com o machado
"Agora sim, com certeza!
Vou encontrar minha princesa!"
Mas não encontra, o coitado

A busca então continua
Nova floresta à frente
O céu azul lá em cima
Nada muito diferente
No cano há plantas plantadas
Com dentes, sempre enfezadas
Mas o Mario é persistente

E o nosso herói vai pro mar
Perigo aumenta ainda mais
Tem peixe cinza e vermelho
Tem lula que vai atrás
Difícil locomoção
Contida a respiração
E vai sem olhar pra trás

Depois do rio uma ponte
Enorme é o lucro encontrado
Além do risco da queda
Tem peixes pra todo lado
Peixes vermelhos saltando
Piranhas loucas em bando
No rio que não dá pra nado

Depois da ponte infinita
O herói encontra afinal
Um novo mundo sombrio
Novo castelo do mal
Com pressa corre, e firmeza,
Querendo achar sua princesa
Mas não está no final

Tudo continua escuro
É noite naquela terra
As tartarugas e plantas
Quanto perigo o espera!
E há tartarugas - mistério -
Que estão jogando martelos!
Que bichos que não dão trégua!

E o mundo segue no escuro
E nosso herói vai na luta
Por sua princesa querida
Pula num casco e chuta
Cuidado: depois tem cano!
Se o casco volta: que dano!
Sua vida bem logo encurta

E eis que aquelas montanhas
Altas de grama no topo
Com criaturas nocivas
Também existem de noite
De novo lá, quem diria?
E como é grande a alegria
Quando se escapa por pouco!

E o herói chega de novo
De coração tão singelo
Buscando sua princesa
Encontrando um cogumelo
Que diz: desculpa, beleza?
Mas é que nossa princesa
Está em outro castelo

E vê que vida de cão!
O encanador se refez
E continua a procura
E nem que termine o mês
Seguirá mesmo sozinho
Mesmo ouvindo do baixinho
Aquilo a terceira vez

Saindo em nova floresta
O encanador sem igual
Logo depois de uma planta
Tem que correr pro final
Ele chega ao fim por sorte
Maldita nuvem-transporte
Que lança ouriço infernal

No submundo de lá
O Mario vive os apuros
Uma flor lhe dá poderes
Mas mesmo isso não é seguro
As bolas de fogo batem
E nenhum dano elas fazem
Nos bichos de casco escuro

Para que servem roldanas?
Para atrapalhar a vida!
Elevador ou gangorra?
É o que nesse céu se abriga
Se pula em um lado e espera
O outro lado se eleva
Que construção esquisita!

Ficará preso pra sempre
Mesmo sem bicho e sem casco
Pois esse quarto castelo
É amaldiçoado, eu acho
Primeiro passe por cima
Depois de mudar o clima
Deve passar lá por baixo

Tudo pra quê, se a princesa
Não espera aflita, nem dorme
Não está ali de novo
E de novo à floresta corre
E tem que enfrentar perigos
E além dos tais inimigos
Fugir de balas enormes

Mais balas e desafios
E agora um trampolim
Ajuda Mário a saltar
Que perigoso jardim!
Um cano leva pro mar
E ele vai lá por pensar
Que será mais fácil assim

E preso num Dejavu
De novo pelas montanhas
As antigas plataformas
São pequenas, tão estranhas
Balas rasgando o ar
Vamos deixar o lugar
Senão a morte nos ganha!

Novo castelo parece
Um desafio passado
Língua de fogo gigante
E chamas pra todo lado
É que tornam diferente
Depois do chefe lá em frente
Um cogumelo é encontrado

De noite é tudo sombrio
Mais outra nuvem, que droga!
Jogando tantos ouriços
Essa nuvem não dá folga
Com sacrifício, derruba
A nuvem, mas na sua fuga
Vem outra nuvem que joga...

Ainda é noite e agora
É uma plantação de canos
Tem cano pra todo lado
E plantas tem outros tantos
Plantas bem cheias de dente
Daquelas que comem gente
Mas não o Mario, garanto!

E agora a terra da neve
Como ele escapará ileso?
No céu, escuro e deserto
Como se sente indefeso!
Difícil achar um lugar
Há poucos onde ficar
E alguns não suportam o peso

Outro castelo pequeno
Esconde o monstro horroroso
Pois mesmo sendo pequeno
Não é menos perigoso
O Kopa desse reinado
Joga milhões de machados
Depois das línguas de fogo

Depois é dia de novo
(Já tava sentindo falta)
E as balas são disparadas
De todo canto na mata
Mas falta pouco e ele vai
Da sua princesa vai atrás
E corre e se abaixa e salta

E cai de novo no mar
É tudo bem parecido
Mas a festa já tá boa
O mar tá cheio, entupido
De peixes e lulas brancas
Ó cano verde, onde andas?
Vê se aparece, maldito!

Enfim o cano o carrega
À ponte imensa de antes
Com piranhas saltitantes
E milhares de passantes
Tartarugas bem sortidas
Se o Mário atento não fica
Se acaba tudo num instante

E nesse novo castelo
Um labirinto bem quente
Dividido em dois momentos
Preste atenção no repente
Por baixo, meio e por cima
Por cima, meio e por cima
E o Kopa espera lá em frente

Já foram sete castelos
Só cogumelos, que jeito?
De novo pela floresta
Como se nada foi feito
Ele chega ao fim por sorte
Aos saltos perto da morte
Nesses lugares estreitos

E na floresta prossegue
Nosso herói encanador
Entre balas e criaturas
De todo tipo e de cor
O risco já é sem noção
Ai que saudades de chão
Mas logo acaba essa dor

Já está do lado de fora
De um gigantesco castelo
Deve estar lá a princesa
Pelo menos é o que espero
Mario dispara por lá
Ele tem que se virar,
Desviar de bala e martelo

E no castelo final
É mesmo o último castelo?
Mario consegue chegar
Quando acaba o pesadelo?
O Mario já está cansado
Buscar princesa, que fardo,
E só achar cogumelo!

Um labirinto de canos
Até por água passou
O Mário e no fim, o Kopa
Joga martelos e fogo
Mas enfim, ó que beleza
Mario resgata a princesa
Que diz: sua busca acabou!

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Palito Amigo de Freud

Palito Amigo de Freud

O meu nome não importa
Pois me chamam de Palito
Essa terrinha danada
Desde que eu nasci habito
Sou surfista dessa praia
Surfo até que a noite caia
Nesse pôr de Sol bonito

Tá ligado na parada
Lá da praia do Francês?
Você anda assim de jipe
Mais duas horas ou três
Com a praia acompanhando
E vai terminar achando
A praia do Pequinês

Perto da velha cidade
Chamada Nova Nemeia
Não está em nenhum mapa
Pode esquecer essa ideia
Tou falando, eu sou daqui!
Na praia eu sempre vivi
É uma praia bem véia

Sou surfista de pequeno
Não sei se cê tá ligado
Mas a praia é frequentada
Tenho um monte de chegado
Que nas ondas se exercita
Que você não acredita
É um povo procurado!

Aqui não tem telefone
A gente fala na cara
Carta só pra quem tá longe
Linha mesmo só na vara
Da turma que vai pescar
Mas é show esse lugar
E tem uma turma mara

Mas vou confessar um troço
Eu me amarro nisso aqui
A praia do Pequinês
É o canto onde eu nasci
Às vezes lá por abril
É que me dá um vazio
Dá vontade de partir

Nessa vida de interior
Na parada da Natura
A gente se sente náufrago
Longe da verdade dura
Desse povo do dinheiro
Que esmaga o mundo inteiro
Na ganância, na secura

Claro que é melhor estar longe
Desse comboio de esperto
Longe chegam as consequências
Imagina estando perto!
Por isso que eu saio pouco
Gosto daqui, não sou louco
Mesmo quando está deserto

Quando a praia tá sem gente
E vem as ondas chegando
Elas vem de muito longe
Há tempo que estão andando
Então surfo mais ainda
Para dar as boas vindas
Pras águas que andam em bando

Mas pra falar a verdade
Quase nunca eu tou sozinho
Tou sempre trocando ideia
C'os cabeças, meus vizinhos
E sempre na molecada
Tem um que é mais camarada
Vou falar dele um pouquinho

Ele é mais velho que eu
Tá ligado? Mas é broth'
Sempre tem uns zé roelas
Que dizem que é debiloide
Não entendem o que ele fala...
Ele é gente fina, cara
O nome do bicho é Freud

Passa a semana falando
O povo vem pegar ideia
E ele vive é só disso
Num ponto em Nova Nemeia
Pagam uma fortuna imensa
Só porque o povo não pensa
As cabeças de geleia!

Freud até me convidou
Pra ajudar lá na cidade
Atendendo alguns clientes
Mas não dá, pô, de verdade
Só dele contar dos casos
Dá agonia o nível raso
Eu digo: eu não, amizade!

"Atender essa galera
Resolvendo seus problemas
É pra quem é paciente
Eu não dou pra esse esquema
Prefiro falar com mar
E a turma desse lugar
Não me encaixo no sistema"

Mas Freud é mesmo o cara
Paciência tem de sobra
Diz que está tendo umas ideias
Vai escrever uma obra
Mas se vem surfar com a gente
Fica zen, e a sua mente
Só se liga nas manobras

Ele tá com umas pesquisas
Pra entender nossa mente
Dividindo o indivíduo
Em três partes diferentes
E escreve, pra publicar
Já disse: se for lançar
Tem que convidar a gente!

Diz ele que todo mundo
Tem no centro do seu ser
Uma peça que é essência
Que ele chama de ID
Voz do desejo imediato
Como um bicho do mato
Que quer se satisfazer

Por viver em sociedade
Que se aprende o que é certo
Essa parada todinha
Fica no tal superego
Ele conflita com o ID
Pro conflito resolver
É que existe o tal de ego

Ego guarda as lembranças
Da vida de um vivente
Aprendizado, experiência
O Freud diz simplesmente:
"O ego é a camisa
Que esconde a cara lisa
Pra se expor a toda gente!"

Eu nem falei para ele
Mas tenho uma impressão
Que o brother bolou a história
Quando eu falei de Platão
Que também na sua vez
Dividiu a mente em três:
Homem, monstro e leão

Ele diz que na cidade
Numa zona como aquela
Ele diz que o problema
Quase sempre se revela
Por um ego já cansado
Que já ficou dominado
Lá na sua clientela

Quase sempre o problema
Que ele estuda no final
Tem a ver alguma coisa
Com o lado sexual
Superego e ID são brabos
É o tema mais complicado
Pro ego julgar legal

Pois é, véio, cê vai ver
Freud é um cara da hora
As paradas que ele estuda
Manda bem, e vai embora
Sei que vai ficar famoso
Pois essa vida é um osso
Pra tanta gente lá fora!

E agora cê dá licença
Que o Sol já está deitando
Vou ali na saideira
Da onda que vem chegando
Um abraço do Palito
Desse galego bonito
Até outro dia, mano

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Os Índios e o Monstro do Espaço

Os Índios e o Monstro do Espaço

Os índios olhavam o céu
O céu sempre esteve por lá
Mas a noite trouxe ao lugar
Espanto que ninguém sonhou
Brilhando à luz do luar
Viram um navio baixar
Na floresta o barco atracou

Peri, corajoso, saltou
Correu, galopou para o "cais"
Correu o coração ainda mais
O barco era mesmo tamanho
Junto a força dos ancestrais
Correu com seu povo atrás
O barco tinha um brilho estranho

"Que barco gigante! Medonho!"
Peri via o barco dormir
Logo que chegaram ali
O suor corria da testa
Juntou seus irmãos o Peri
"Como veio o barco até aqui?
Do céu no meio da floresta?"

E o barco mostrou que não presta
Barulho calou seus ouvidos
Pancadas, fumaça, rugidos
"E agora o que será de nós?!"
Os índios olhavam aturdidos
Desacreditando os sentidos:
O barco era um monstro feroz

E o barco gritou logo após
A forma não era de barco
A ilusão passou, viram o casco
De uma tartaruga de aço
E Peri se sentiu tão fraco
Diante do barco - que barco? -
Diante do monstro do espaço

Num giro de pata, um pedaço
Da floresta foi pelos ares
Os índios rolavam aos pares
Fugindo dos golpes da fera
"São fortes as bestas lunares"
Logo não houve mais lugares
Protegidos dessa quimera

Depois do cansaço a espera
Do golpe que finda essa vida
Os índios viram em despedida
Com dor e tristeza no olhar
A fera ainda enlouquecida
Olhando com a pata erguida
Foi quando ele quis chegar

Chegando de qualquer lugar
Disparou com o canhão do braço
Bolas de luz no ser do espaço
Era um ser de aço também
Tiros deixam o monstro em pedaços
E o menino azul dá um passo
E diz se chamar Megaman

E a criança volta pro além
E a tribo respira em paz
Mas essa noite foi demais
Louca demais pra um ser humano
A noite em que seres fatais
Corrompem as regras normais
Com aço animado profano!

Pois viram debaixo do pano
Que o mundo é muito maior
Como podem dormir sem dor?
Como será a noite que vem?
Essa noite um monstro chegou
Na noite que um robô salvou
Quem não esperava ninguém

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Planeta dos Vampiros

Vou te contar uma história:
Um dia olhando o espaço
Eu acabei visitando
O símbolo do fracasso
Um planeta esquecido
Vagando no céu perdido
Como um cadáver sem braço

Girando em torno de um Sol
Era um planeta sombrio
Era vermelho e azul
E aquele calor febril
Só de noite se acalmava
Mas nem sempre ele era frio

Havia dias no ano
Que de noite era normal
Vários banhos, muita água
Mesmo no escuro total
Debaixo de um céu cinzento
O calor era brutal

Pra compensar, outros dias
Chegava a chover granizo
Caia um frio de morte
Um dia assim, sem aviso
Gelando toda a cidade
Pedrando até o juízo

Era um planeta distante
De continentes e mares
De clima louco, inconstante
Poluição pelos ares
Poucas cidades gigantes
Deserto em todos lugares

Nesse planeta inteiro
Sonhos jamais tinham fim
Quando um sonho se cumpria
Já vinha outro e assim
Sempre sonhando, sem paz
Vivam uma vida ruim

Esses desejos que tinham
Cada sonho mais profundo
Era uma caixa na loja
Um pacote vagabundo
Os sonhos eram vendidos
Em qualquer shopping do mundo

É a TV que revelava
Ambições pré-fabricadas
Não conseguiam pensar
Além daquilo em mais nada
Só nos sonhos por comprar
É o que movia a manada

Eram pessoas vampiras
Que não saiam de dia
No túmulo de seus lares
De qualquer luz se escondia
Só de noite iam pro mundo
Trabalho, estudo e boemia

Eram pessoas vampiras
Não uso a palavra à toa
Quem conhece essa gente
Jamais dirá que são boas
Pra prosseguirem vivendo
Matavam outras pessoas

Vampiros sem ter família
Nem moral, nem coração
Quando caminham em grupo
Dividindo o mesmo chão
É só por conveniência
Por orgia, ou ambição

Nesse planeta distante
Que o dia é sempre tão quente
Só existiam vampiros
Nenhum tipo mais de gente
Eles matavam uns aos outros
Sem punição, livremente

Crianças que eles achavam
Atraiam com sorvete
Pra materem e ferverem
Em sopa como um banquete
A Lei de todo lugar
Pedia que isso se aceite

Mas veja que esses vampiros
No fundo não eram maus não
Se eles matavam uns aos outros
Era pra alimentação
Pois não havia mais gado
Galinha, nem plantação

Se eles não iam de dia
É pela fúria infernal
O Sol queimava sua pele
Até o Sol matinal
Os raios ultravioletas
Tinham passagem total

Toda a Terra poluída
Mares sem ter peixes mais
Poluição sem medida
Fumaça e gases letais
Terra de tantas doenças
De sofrimento, sem paz

E tudo o que lhes sobrava
Contra o sofrimento todo
Era a fé no consumismo
Era a esperança do povo
Que os fazia dormir
E acordar vivos de novo

Sem perceber que foi isso
Essa ganância sem igual
Que garantiu a ruína
De um lugar natural
Transformando o planeta
Numa cova espacial

Nem sempre foi desse jeito
Esse planeta foi vivo
Hoje morre pelo espaço
Cheio de verme nocivo
É o que as pessoas viraram
Eis que destino maldito!

Esse planeta já foi
Terra bem rica e feliz
Os mares cheios de peixes
Terra de plantas, perdiz
Animais de todo tipo
Terra que o homem não quis

Esse planeta vampiro
De crueldade no escuro
Não é uma novidade
Com canibais em apuros
Esse planeta de morte
É a Terra no futuro

-- Cárlisson Galdino

O Gênio

Na cidade de Rio Largo
Bem perto de Maceió
Havia um tal sujeito
Que vivia sempre só
Estudava e trabalhava
E de noite descansava
Na casa da sua avó

Ele se chamava Leo
Neto de Dona Maria
Quando ele desocupava
Sempre ele refletia
Sobre sua condição
O que diz seu coração
Era louco por Talia

Talia, moça mimada
Morava na capital
Cursava arquitetura
Tinha um jeito fatal
Voz suave e bem pausada
Mas dele, lembrava nada
Se visse, nem dava xau

Mesmo assim o pobre Leo
Recordava todo dia
Quando a viu em uma festa
Na praia, e alguém dizia
"Ela não é linda, homem?
Talia é o seu nome"
Desde então ele sofria
 
Talia era colega
Da irmã de Bastião
Esse amigo de Leo
Que falou na ocasião
Ela veio e depois
Ele apresentou os dois
Leo lembra, Talia não

Mas essa vida dá voltas
Como uma roda gigante
Leo sequer imaginava
Que em um pequeno instante
Seu mundo seria mudado
Tudo então transformado
Nada seria como antes

Foi numa manhã cinzenta
Daquela manhã sem graça
Dia triste e agorento
Que Leo voltava pra casa
Na parede ele viu
Um esquisito cantil
Na rua onde sempre passa

Um cantil assim antigo
De um visual rebuscado
Ele pegou e buscou
Ver se tinha anotado
O endereço do dono
Mas viu que foi abandono
O cantil tava largado

Trazia uma pirâmide
A foto de um faraó
Escrita de povo antigo
Pra entender tenha dó!
Tudo isso, é o que se via
Aquele cantil trazia
Desenhado em seu redor

Leo balançou o cantil
Uma barulheira feia
Ao invés de trazer água
Parece que tinha areia!
O Leo então curioso
Destampou logo o negócio
Sem medo, nem cara feia

Sem que Leo imaginasse
Nem passou na sua mente
O cantil caiu no chão
Num papoco de repente
Vestido de antiguidade
Um homem de alta idade
Ressurgiu na sua frente

"Meu caro cabra de sorte
Não se assuste comigo
Eu não trago sua morte
Nem sou de tu inimigo
Sou um gênio, tu já viu?
E vivo nesse cantil
Creia nisso que te digo"

"Sou um gênio muito antigo
Dos tempos mais esquecidos
Muita gente já me viu
Outros olhos e ouvidos
Mas estou na sua frente
Estou aqui simplesmente
Pra realizar três pedidos"

Recuperado do susto
Leo já estava a pensar
No que era mais importante
Que queria conquistar
Se uma casa com piscina
Dinheiro que não termina
Uma ilha particular...

"Comece pelo primeiro
Diga e está realizado!"
O gênio lhe insistia
E o Leo lá concentrado
Disse: "Tudo o que queria
Era ter aqui Talia
Tê-la sempre do meu lado"

"Pois creia que está feito
Seu pedido desejado
Não vai ser em um instante
Mas está encaminhado"
Mas naquele mesmo dia
Seu pedido, quem diria!
Seria realizado

Leo quase teve uma coisa
Ao chegar na padaria
Revirando a própria bolsa
Ali estava Talia
Linda, com sorriso incerto
De Leo foi chegando perto
Sem saber o que queria

"Oi, como vai?" Leo falou
Talia um sorriso abriu
"Oi!" e falou bem baixinho
Do problema que a afligiu
Uma amiga veio ver
Foi lanchar e que fazer?!
O seu dinheiro sumiu

Não seria diferente
Leo pagou o que ela devia
Saíram então conversando
Foi falando com Talia
Da música ao estudo
Falaram de quase tudo
Mais tempo que se podia

Para não ser assaltada
Sem ter mais como voltar
Na casa da avó de Leo
Talia a noite foi passar
Noutro dia uma greve
Nenhum carro que se pegue
Talia pôde pegar

Assim foi que nesses dias
Acaso aqui e acolá
Talia ficou por perto
Por não ter como voltar
Não dava certo era nada!
Foi deixando ela estressada
Nada estava a funcionar

Leo notando como tudo
Fugia do seu previsto
Pegou o cantil de novo
Chamou o gênio já visto
Não era pra ser assim
Chamou e pediu enfim
Pra acabar logo com isto

- Você quis tê-la bem perto
"Todo tempo, toda hora
E o desejo foi cumprido
Ela não pode ir embora"
- Mas assim ela se estressa!
"Minha Talia não é essa!
Por que está assim agora?"

- Eu cumpri com meu papel
"Nem adianta reclamar"
- Então vou pedir o outro
- Se quiser, pode falar
- Quero que desde esse dia
"Eu desejo que Talia
Me ame em primeiro lugar"

- Pois se é o que você quer
"Saiba que já está feito
Ela vai gostar de ti
Perdoar qualquer defeito
Querer tudo que for teu
Você nunca conheceu
Quem te gostou desse jeito"

Tanto foi que o gênio disse
Que logo no outro dia
Tudo estava diferente
A mudança acontecia
Era claro o sinal
Era um brilho especial
Bem nos olhos da Talia

- Como você é bonito
"Eu nem tinha reparado
Eu sou muito distraída
Mas que bom eu ter notado
Quero respirar seu ar
Te ver em todo lugar
Quero a ti, meu bem amado!"

E Talia estava perto
Sempre querendo seu beijo
E se a sós estivessem
Já se enchia de desejo
- Meu Leo, olha para mim
"Eu te amo um tanto assim!
É só a você que eu vejo"

A mudança mudou tudo
No início foi um céu
Era tudo o que queria
O apaixonado Leo
Mas o tempo foi passando
E tudo isso o irritando
De um jeito tão cruel...

- O que foi isso que eu vi?
"Não se faça assim de tonto!
Vi você olhando outra!
Não permito, eis o ponto!"
- Mas eu não olhei ninguém!
- Me perdoa então, meu bem
"É que eu te amo tanto..."

Seu quarto se encheu de fotos
Pelas paredes pregadas
Talia fotografava
Perseguia obcecada
E o pobre Leo acuado
Desde então nesse estado
Não tinha espaço pra nada

Fazia planos incríveis
Sonhos tão mirabolantes
Que Leo perdia o fôlego
Bastavam alguns instantes
Tanta pressão já sofrendo
Que o desejo foi crescendo
De tudo ser como antes

Ciúmes a toda hora
Planos de um casamento
Talia não ia embora
O tempo corria lento
Leo logo o cantil pegou
Num momento que encontrou
Chamou o gênio de dentro

- Gênio, faz alguma coisa!
"Eu quero voltar atrás!
Essa mulher não me larga
E eu já não aguento mais!
Como foi acontecer?
O que preciso fazer
Para ter de novo paz?"

- O pedido que foi feito
"Foi prontamente atendido
Não reclame do trabalho
Foi entregue o pedido"
- Eu sei como aconteceu
"Entendo: o erro foi meu
Mas já está decidido"

- O meu terceiro pedido
"Não será ele em vão
Vejo que fiz tudo errado
Agora entendo a razão
Mas uma saída eu vejo
Me sobrou um só desejo
Que será minha salvação"

- Uma vez feito o desejo
"Sumirei da tua vida
Nunca verá o cantil
Essa é uma despedida
Pense no que vai pedir
Pois pedindo eu vou sumir
Não há volta, nem saída"

- O que vou pedir, já sei
"Isso aqui já não aguento
Desejo que todo o tempo
Volte àquele momento
Que encontrei o cantil
Seja qual se ninguém viu
O cantil se vá com o vento"

"E tudo o que eu pedi
Considere sem efeito
Não encontrando o cantil
Nenhum pedido foi feito
Eu não encontrei Talia
No fim das contas, meu dia
Foi normal, de todo jeito"

O gênio compreendeu
O pedido do rapaz
E desfez todo o efeito
Voltando um tempo atrás
Mudando toda a história
E Leo perdeu a memória
Disso não se lembra mais

Não deseje ter alguém
Contra a própria vontade
O que desejamos vem
Mas não é certo que agrade
E o desejo no sonhar
Poderá se transformar
Num inferno em realidade

A vida tem sua história
Cabe a nós participar
Os deuses nos dão as cartas
Todos podemos jogar
Pra não gerar confusão
Use as cartas da mão
Não queira trapacear

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Cordel Digital

Finalmente, o Cordel Digital. E você? Já está participando da Promoção Cordel Digital?

Meus amigos, com licença
Vou falar da realidade
Desses dias de hoje em dia
Do que fez a humanidade
Desbravando com bravura
A mata da Literatura
Veja quanta novidade

Houve um tempo muito antigo
Que poeta tinha ideia
De escrever histórias longas
Fosse o leão da Nemeia
Odisseu e suas dores
Ou grandes navegadores
Era a tal da epopeia

Elas eram poesias
Enormes de se cantar
Descrevendo uma história
Que tentavam registrar
Era, eu sei o que digo,
Um costume mais antigo
Que se possa imaginar

Foi assim com o Homero
Que dos deuses recebeu
Dom sublime lá na Grécia
E desse jeito escreveu
Versos que são ouro e joia
Narrando a Guerra de Troia
E a jornada de Odisseu

Depois, entre os portugueses
Como em outras nações
Ressurgiu num certo dia
Outro poeta dos bons
Feito pra narrar o drama
No mar, de Vasco da Gama
Era Luis Vas de Camões

Desse modo, todo povo
Viu poeta inteligente
Talentoso e inspirado
Falando pra toda gente
Grandes fatos dos que viu
E assim, cá no Brasil
Não ia ser diferente

No Brasil, esse trabalho
Coerente e genial
De romancear em versos
Tem lugar especial
No Nordeste da nação
Vivo em uma tradição
Trazida de Portugal

Falando muitas verdades
Contra rei e coronel
Ou fazendo o povo rir
Só de pegar no papel
Há livros que são achados
Em um cordão pendurados
Levam nome de cordel

São livretos bem pequenos
Mas grandes em seu talento
Trazendo pra nós notícias
Ou um bom divertimento
Pequenos com poesia
Pendurados, quem diria?
Em feiras, no movimento

Tem mulher que virou bicho
Tem medroso e assombração
Tem disputa de viola,
De goela e munição
Tem relato corajoso
Do inferno endoidando todo
Quando chegou Lampião

Você encontra pelas feiras
Do Nordeste brasileiro
Sempre muitas opções
Versos narram por inteiro
Dramas e atualidades
Com mentiras ou verdades
Sempre por pouco dinheiro

Hoje já não há mais tanto
Mas antigamente havia
Pra vender esses cordeis
Que são pura poesia
Artista com emoção
E uma viola na mão
Narravam em cantoria

Mas o tempo foi passando
Tudo passa nessa vida
E essa tradição da gente
Tão antiga e tão bonita
Com as gerações mudando
Pouco a pouco foi minguando
Hoje está quase esquecida

Hoje há poucos cantadores
Pelas feiras do Nordeste
Há poucos cordéis à venda
A cultura poucos veste
Mas buscando, é forçoso
Achar um ou outro teimoso
Que na tradição investe

Hoje se acha por aí
Os clássicos do cordel
E uns que por muitos anos
Escondidos num papel
Criaram força de repente
Resolveram finalmente
Mostrar a cara pro céu

E hoje a gente olha pro mundo
O mundo está tão mudado
Todos vivem na canseira
Se matando por trocados
Numa correria louca
E a leitura, que era pouca
Foi ficando mais de lado

Com TV, rádio, Internet
Videogame, academia
Celular, computador
GPS, foi-se o dia
De moleza na calçada
E nessa vida estressada
Quem tem tempo pra poesia?

Em tudo botou o dedo
Essa Tecnologia
Disco já virou CD
PC encolheu, quem diria?
Aumentando a qualidade
E hoje já é realidade
O que o cinema previa

Hoje todos têm acesso
Ao que só teria o rei
Todos têm cartão de crédito
Celular, pelo que eu sei
Cada um tem três o quatro
Tevezona virou quadro
Filme se tornou blue-ray

E tudo foi progredindo
Como era o natural
E foram desencarnando
Do mundo material
Nessa evolução danada
Tão espiritualizada!
Tudo agora é digital

Ninguém precisa de disco
Pra música simplesmente
Converte pra MP3.
Jogo ou video facilmente
É só ter dispositivo
Player ou PC. E com livro?
Por que seria diferente?

Amazon entrou na dança
Lançando o tal do Kindle
Depois a Apple com o iPad
Que tanta gente acha lindo
Sony, Samsung e outras mais
Têm produtos quase iguais
E muitos outros vem vindo

São notebooks pequenos
Por tablets conhecidos
Pra navegar na Internet
Ver uns videos divertidos
Ver e-mail e conversar
Agendar e calcular
E também para ler livros

Ou são, mesmo parecidos,
Aparelhos diferentes
Feitos só para ler livros
Com uma tela inteligente
Para ler poesia ou crônica
A tal da tinta eletrônica
Pra ser bom de ler pra gente

Pois, amigos, desse jeito
O livro, que era papel
Hoje está só na memória
De um aparelho "do céu"
Tanto livro e saber
Vai num cartão SD
Que a gente fica pinel

E se hoje já há dicionário
Romance, HQ, mangá
Coletânea, manual
De quase tudo já há
Se tem lugar pra poesia
Revista, jornal e guia
O cordel não tem lugar?

O cordel tem que viver
É um marco dessa gente
Tem o seu lugar cativo
No coração do vivente
Do Nordeste brasileiro
E assim do Brasil inteiro
Talvez nem dele somente

Poesia gigantesca
É algo internacional
Se aqui temos cordel
Noutros cantos, tem igual
Cada povo, com efeito
Faz, na sua língua, seu jeito
Essa tradição legal

E se hoje todos falam
Da tal globalização
Por que não vir o cordel
Dar sua parte da lição?
Sair da feira do agreste
Para entrar na Internet
Qual no céu foi Lampião?

É por isso, meus amigos
- E não estranhem o fato -
Que o cordel tem o direito
De ter a turbina a jato
Que essa tecnologia
Oferece e a poesia
Cabe num livro abstrato

Hoje, nesses novos tempos
Que mudam nosso normal
Quando a vida é correria
E o consumo é sem igual
Tudo aos poucos é mudado
Que fique aqui registrado
O Cordel é Digital

E se a mudança não para
E se tudo se mistura
Pra estar no mundo global
Preservando a cultura
Quem sabe se alguém não cria
Disk-cachaça, e um dia
Download de rapadura?

Nessa era tão moderna
Marcada, pelo que sei,
Pelo compartilhamento
Que todos podem ser reis
Que a Arte humana tanto cresce
Quando será que aparece
Um repentista DJ?

E assim, meu caro amigo
É chegado o momento
De partir, já me vou indo
Grato pelo acolhimento
Até um outro cordel!
Boa sorte pra quem leu
E bons compartilhamentos!

-- Cárlisson Galdino

Special: 

Cordel Quilombola

Nossa história hoje começa
Muito além, além do mar
Numa Terra tão antiga
Terra de leão, jaguar
Elefantes e savanas
É nas terras africanas
Que tudo vai começar

Mas o que falo a seguir
Não é em nada ilusão
Este cordel é de História
Não fala de ficção
Leia tudo até o final
Este problema é real
E é causa de aflição

Mas chega dessa conversa
Vamos logo começar
A história dessa vez
Pois não gosto de enrolar
Eis o Cordel Quilombola
Tenha boa lida agora
Quem a ele se dedicar

Ó bravo povo africano
Forte e livre em seu lugar
Sim, nem sempre havia paz
Mas sabia guerrear
Com sua própria ciência
Seus costumes, sua crença
E seu modo de falar

Faziam sua própria história
Até vir um povo ufano
Trazido por águas turvas
Desse inconstante oceano
Com sua própria ciência
Seus costumes, sua crença
Diferentes do africano

Era esse o povo branco
De bravos navegadores
Orgulhosos das proesas
De suas crenças, valores
Que cegos pela vaidade
Perderam a humanidade
E empreenderam horrores

Para expandir seu império
Têm que ter trabalhadores
Os mais baratos possíveis
Mas fortes como tratores
E na ganância da ideia
Planejaram uma odisséia
De um caos viraram atores

Estimulando o combate
Entre tribos que eram amigas
Compravam presos de guerra
Das tribos que eram vencidas
Partiam barcos ligeiros
Levando um povo guerreiro
Para lhes dar nova vida

Eram navios reforçados
Orgulho de um povo inteiro
Guiado por homens maus
Desses porcos traiçoeiros
Que levavam os sequestrados
Nesses barcos lá chamados
Por eles navios negreiros

Nas colônias, povo negro
Com seu passado glorioso
Virou escravo dos brancos
Explorados até o osso
Sem ter ninguém que os salve
Ó que vida, Castro Alves!
Ó que destino odioso!

Trabalhando nos engenhos
Como fossem animais
Qualquer erro ou cansaço
Vinha logo o capataz
Se do chicote servido
Era o mais leve castigo
Pois havia muitos mais

Se o senhor daquele engenho
Gostasse de uma escrava
Levava a seus aposentos
E a agredia e estuprava
Sua família na senzala
Vendo o capataz levá-la
Não podiam fazer nada

Foi então que começaram
A testar a própria sorte
E fugir dessas fazendas
Num grande risco de morte
Por pura necessidade
Mas a tal da liberdade
Era o desejo mais forte

Fugindo só não deu certo
Podiam levar um tiro
E se escapassem com vida
Onde iriam? Que retiro?
Pois eram recuperados
E os castigos mais pesados
Eram prêmio garantido

Começaram a se juntar
Todo negro fujitivo
Numa vila independente
Para se manterem vivos
Quilombos eram chamados
Esses lugares criados
A esperança dos cativos

Quilombos foram surgindo
Combatidos com crueldade
Os senhores de escravos
Não mostravam piedade
Contra eles, que brigavam
Pois tudo o que desejavam
Era ter a liberdade

Foi mesmo um grande caminho
Pra acabar a escravidão
Por medo da Inglaterra
Proibiram importação
Punindo o navio negreiro
Capitão e o povo inteiro
Envolvido na infração

Pouco a pouco foi chegando
A liberdade sonhada
Mas para isso foi preciso
Muita luta e muita estrada
Muito sangue correu o chão
Muitos mortos sem caixão
A disputa foi pesada

Os intelectuais
Brigavam lá no senado
Eram os abolicionistas
Que lutavam de bom grado
Contra os colegas de lá
Faziam o que precisar
Pra libertar os escravos

Assim leis foram surgindo
Em auxílio àquela gente
Foi a Lei do Ventre Livre
E outras vinham mais à frente
Mesmo sendo complicado
Cobrar que fosse aplicado
O que a Lei diz tão solene

A Lei Áurea foi, por fim
A que abriu portas no céu
Lhes dando a liberdade
Tudo justo no papel
Decreta com precisão
O final da escravidão
Pela Princesa Isabel

Assim o tempo passou
Tudo passa nessa vida
E o negro hoje é igual
A vitória é conseguida
E sendo assim, desse jeito
A todos, iguais direitos
A todos, igual medida

Claro que o pior passou
Mas e tudo o que foi feito?
E a cultura violada?
E os anos de preconceito
Desde um tempo mais distante
E ainda hoje está tão grande?
Como está está direito?

Muitos negros hoje vivem
Na luta, aqui, na marra
Na nossa sociedade
Com orgulho e muita garra
Honestidade e respeito
Mesmo assim, há preconceito
Essa vida é uma barra

Outros ainda têm raízes
No passado, suas nações
E se orgulham de manterem
Seus valores, religiões
Seus costumes, seus assuntos
E se agrupam, vivem juntos
Pra preservar tradições

São estas comunidades
Quilombolas conhecidas
Por alguns, por outros não
É onde eles levam a vida
De artesanato e plantio
Há várias pelo Brasil
Mas sua luta é sofrida

É desde oitenta e oito
Pra reparar todo o erro
Cometido contra todos
No passado que o Governo
Reconheceu de verdade
Diversas comunidades
Quilombolas nesse termo

É nesses "novos quilombos"
"Aceitos" pelo Estado
Que vivem os quilombolas
Mantendo vivo o passado
A cultura e o restante
Tudo aquilo que é importante
Não dá pra deixar de lado

Mesmo a constituição
Reconhecendo o direito
Dessas tais comunidades
Nem tudo saiu perfeito
É enorme o tormento
Pra ter reconhecimento
De uma terra desse jeito

Ainda são poucos terrenos
Que estão legalizados
Esse "aceite" do Governo
Não é fácil nem folgado
De todas as formas, tentam
Mas tanto problema enfrentam
É um fim de mundo danado

O Governo tem a verba
Própria pra auxiliar
Gente de comunidades
Quilombolas, sempre há
Mas tem que pedir primeiro
Formalmente e o dinheiro
Parece nunca chegar

Pra completar esse quadro
De tanta dificuldade
Ainda há certos doutores
Que vêm da Universidade
Com projetos tão enormes
Recolhem verba e se somem
Nada chega na verdade

Alguns ainda se aproveitam
Da cultura popular
Das pessoas quilombolas
Colhem plantas do lugar
Falam com o povo local
Sobre o uso medicinal
Pra depois patentear

O que tem desses projetos
Bonitos, são quase um céu
De plantio, de benefícios
Tudo lindo no papel
Vem a verba e, então, agora
Todo mundo vai embora
Nem centavo no chapéu...

Pena que todos esquecem
Que essas comunidades
Cada uma é diferente
Tem próprias necessidades
Não se pode assim tratar
Sempre a generalizar
Não ajuda: eis a verdade

Parece que não notaram
Que toda aquela gente
São pessoas, mesmo tendo
Uma cultura diferente
E precisam de respeito
Isso é de todos direito
Mais respeito urgentemente!

O povo negro sofrendo
Pra ajudar, Governo vem
Parece que só pensaram
Num "nome bom", nada além
"Pra ficar bonito agora
Chão de preto é quilombola"
Isso enche a pança de quem?

E esses projetos fajutos
Que vêm sempre procurar
As pessoas quilombolas
Pra no fim só explorar
Criem vergonha na cara
E o Governo, olhe para
Punir quem quer enrolar!

Já passou mais de um século
Que a escravidão findou
Com ela a desigualdade
Ou era o que se pensou
Pois a ver a trajetória
Ao consultar a História
Me pergunto: o que mudou?

Special: 

Páginas

Subscribe to RSS - setilhas

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo.so' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo.so: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo_mysql.so' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo_mysql.so: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/php_pdo_odbc.dll' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/php_pdo_odbc.dll: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0