Por trás do manto de matas

Eu sou Kleber Inácio, um ecólogo que foi recentemente indicado para entrar na Floresta Amazônica para examinar espécimes. Eu aceitei. Éramos um grupo de cinco: eu, dois outros especialistas em ecologia, um fiscal e um guia. Partimos numa terça-feira, após o café-da-manhã. Entramos na floresta analisando seres e, à tarde, nos encontramos com uma tribo indígena amiga que nos convidou para passar a noite. Até esse ponto tudo correu bem, mas a tranqüilidade não durou muito...

Eram nove horas quando todos fomos dormir. Entramos, os cinco, em uma oca e nos deitamos. Isso foi logo após os rituais pós-rango. Como nunca tivesse dormido no meio de uma floresta - e talvez o chão frio, os barulhos e as lendas hoje contadas tenham ajudado um pouco -, não consegui dormir. Às dez horas, como tinha insônia, resolvi sair e olhar um pouco a floresta. No início achei interessante. Havia corujas e outros seres noturnos ativos. E foi assim até as onze e vinte e três, quando vi uma luz forte vindo do meio da floresta. Imediatamente, pensei em acordar a equipe para ir até lá, mas ao vê-los dormindo tão tranqüilamente achei que seria melhor ir sozinho. Peguei minhas armas (câmera fotográfica, bloco de anotações, caneta esferográfica e um punhal) e parti.

Depois de alguns minutos, penetrando na floresta em direção ao lugar onde a luz surgiu, parei um pouco. Não ouvia nem via nada de estranho. Estaria enlouquecendo? Resolvi continuar seguindo em frente. Minutos depois parei novamente. Já devia ter chegado ao lugar. Haveria eu tomado a trilha errada? Fiquei lá esperando algum movimento, algum novo raio de luz, mas nada aconteceu. Quando pensei em partir e comecei a me virar, ouvi um barulho nos arbustos. De repente, vi a coisa mais estranha e bizarra que já vira até hoje. Um cogumelo de dois metros de altura, aproximadamente, sai do arbusto voando de cabeça e cai no chão deslizando até bater em uma árvore. Foi aí que percebi algo inacreditável: ele tinha braços e pernas. Malfeitos sim, mas ele os tinha. Tinha também olhos e boca. Estava imóvel, ainda no chão, talvez devido à pancada. Senti uma necessidade de me aproximar dele. Dei alguns passos em sua direção quando percebi um barulho vindo do lugar de onde viera essa bizarrice. Resolvi ver do que se tratava. Aproximei-me lentamente do arbusto e o abri com as mãos, de modo que pudesse ver o que havia atrás.

Nada! Não havia nada de estranho. Mas o barulho persistia. Barulho de pancadas. Resolvi seguir em sua direção. A cada passo meu sangue fervia mais. O barulho se tornava mais e mais alto, até um ponto em que eu tive a certeza de que estava diante da última barreira: o último arbusto. Receei por alguns segundos, mas finalmente tomei coragem e abri um pequeno buraco com as mãos. O que vi foi ainda mais extraordinário do que o ser que havia visto pouco tempo atrás. Havia um ser parecido com jacaré, com cerca de quatro metros e meio de altura, lutando contra outro ser igual ao que estava imóvel lá atrás, duas aves humanóides e um humanóide de aparência bestial, castanho escuro, com espinhos dos pés à cabeça. Eles estavam a uns quinze metros de mim, mas mesmo assim fui visto. Eu só havia colocado a cabeça do outro lado quando o ser espinhoso gritou e apontou para mim. Poucos segundos depois senti um espinho furando minhas costas. Senti-me fraco e só vi, antes de cair, um homem pequeno, amarelo e preto, com asas finas e transparentes, voando perto de mim. Pareceu-me uma abelha bípede e com feições humanas.

Quando me acordei já era dia. Eu estava com a tribo e a minha equipe, naquela mesma oca. Estava deitado e tinha um pano molhado na cabeça: tinha febre e só me recuperei totalmente perto da hora do almoço. Disseram-me que um membro da tribo havia me encontrado na floresta com febre alta. Prometi agradecer-lhe mais tarde pelo resgate, mas depois do almoço não consegui pensar em outra coisa que não fosse o que havia visto ontem. Teria sido real? Pouco provável. Se me encontraram com febre alta, certamente o que vira não passara de efeitos alucinógenos. Quando estava convencido de que tudo fôra obra da febre lembrei de procurar meu salvador. Saí a sua procura, mas não o encontrava. Até que alguém disse que ele havia ido à floresta há muito pouco tempo. Pensei rápido e optei por segui-lo. Corri pela floresta na direção que me havia sido indicada e o vi de longe. Era ele mesmo. Bom, pelo menos foi por algum tempo pois, enquanto andava, metamorfoseou-se em um ser como o que vira ontem, cheio de espinhos. E mais: a meus olhos parecia ser o mesmo. Não restavam dúvidas. Tudo o que vira à noite foi real... Mas como não queria passar minhas férias num hospício, o jeito foi voltar e dizer que não vira nada...

Avalie: 
No votes yet

Comentar


Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo.so' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo.so: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo_mysql.so' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/pdo_mysql.so: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0

Warning: PHP Startup: Unable to load dynamic library '/opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/php_pdo_odbc.dll' - /opt/php56/lib/php/extensions/no-debug-non-zts-20131226/php_pdo_odbc.dll: cannot open shared object file: No such file or directory in Unknown on line 0