Prisioneiro do Passado

O Sol espalha seu brilho apagado, calmo demais. Como a luz de uma vela. Lá está, ele atrás das árvores que, embora verdes, transmitem um tom ligeiramente metálico. A faísca das espadas, a ensurdecedora explosão dos seus choques. São as lembrancas mais presentes: nao ha como fugir delas. Nunca houve... Sim, já tentei, e não apenas uma vez. Já ouviu que um anjo uma vez caído nunca se levanta? Eu nunca fui anjo, mas jamais voltarei a ser o que era.

A luz matinal do Sol, à margem de um rio, deitado em um gramado divinamente verde. Não encontro paz. O passado me atinge. Que posso fazer se o verde lembra as cavernas úmidas que já atravessei, se o Sol me lembra magia e combates a céu aberto? Se o azul brilhante do rio só me traz ela, seus olhos... Ela se foi, mesmo forte como era. A magia tomou para si o nosso brilhante mago. Todos já foram e me deixaram aqui.

Por quê, céus? Por que não fui também? Por que tive que achar no último momento o ponto fraco daquele monstro... Monstro. Não há palavra que o defina melhor: irreal, horrendo, terrível, cruel, tudo isso é pouco. Tantos perigos enfrentamos juntos...

Por que eu tinha que sair vivo? Eu conheci o heroísmo. Não posso mais viver fora dele. É como se, tentando achar a paz, eu me tornasse prisioneiro de minhas próprias lembranças... O céu não é para mim, pois, queira ou não, meu deus agora é o da Guerra. Não posso mais viver!

Droga... Por que o destino quis me salvar? Por que não morri com os outros? O que é um guerreiro sem poder empunhar uma espada? Por que os deuses quiseram me deixar vivo? O que é um guerreiro velho, maneta e doente?!?

O que será de mim daqui pra frente? Droga! Não posso mais viver assim! Nada pode me ajudar... Mas uma coisa eu posso. Ah! Ha! Eu posso sim... A doenca já teve muito tempo e não fez o trabalho direito. Ha, ha! Eu mesmo posso fazer isso. Por que não antes? O que será um guerreiro velho, maneta, doente, jogado em um rio? Ha, ha, ha! Vou descobrir agora mesmo, mas não vou te contar. Ha, ha, ha, ha...

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