No sertão de Alagoas
Morava um certo artista
Chamado Pedro Cevada
Poeta e humorista
Nem simpático nem novo
Mas querido pelo povo
E metido a repentista
Um dia ele acorda
Com Maria, sua senhora
Que lhe traz uma notícia
Que o pobre se apavora
É alguém que ela viu
Lhe fazendo um desafio
Procurando ele lá fora
- Mas Maria, tou lascado!
Vou fugir dessa cidade
- Home, é só um repentista
Tu é frouxo pra sua idade
- Ele é como tu falou?
Me confirma, por favor!
- É assim mesmo, verdade!
- Não tem jeito, vou-me embora
Que danado! Que meleca!
Como vou passar por isso?
Quase borrei a cueca
Eu sendo desafiado
Por um cabra de outro estado
Um cego com uma rabeca!
- Que vergonha, meu Pedrinho
Que enorme embaraço
Não é você que me diz
"Tudo o que eu quero eu faço
Pois só besta arruma briga
Com quem faz cordel, cantiga
É humorista ou palhaço"?
- Home, esqueça dessa história
Traz biscoito pra mim, traz?
Uma garrafa de água
Ou cachaça, tanto faz
Tou com medo e não nego
Mas um repentista cego!
Com rabeca ainda mais!
Esse povo é perigoso
Isso desde a antiguidade
Trucida qualquer rival
Sem a menor piedade
E tu ainda vem dizer
Que um desse veio me ver
Aqui na nossa cidade
- Você quer dizer, Pedrinho
Que cê vai me abandonar?
Fugindo prum canto e outro
Como um bandido vulgar?
Vou passar necessidade
Só pra sua vaidade
Poder em paz descansar?
- Pode ser, mas olha: eu volto!
Lá pra março ou fevereiro
Deixa ele ir embora
Pra ver que chego ligeiro
Não quero viver nas ruas
É uma semana ou duas
Nem carece desespero
- Pois Pedro, preste atenção
Nisso que vou te falar
Se passar daquela porta
Não precisa mais voltar
Eu arrumo outro parceiro
Volte que te quebro inteiro
Com a tábua de cortar
- Maria, minha criança
Não me dê ao urubu
Olha aqui a minha trouxa
E a janela dá pro Sul
Me perdoa, vou embora
É que o meu medo de agora
É mais dele que de tu
-- Cárlisson Galdino
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