- E então, o que vão fazer na capital?
- Nós... É... - Um jovem de vinte e poucos anos, com chapéu, de cavanhaque e camisa listrada de vermelho olha espantado para o motorista.
O veículo segue na estrada de barro com cinco passageiros, e com Mandros no volante. Todos estão nervosos desde que partiram, há 20 minutos. Todos estão nas cadeiras mais à frente do ônibus. Não por afinidade àquele estranho sujeito que veio substituindo o padre, na direção do velho ônibus. Estão ali simplesmente para ficarem mais próximos da porta. O homem de chapéu e cavanhaque está ao lado do motorista.
- Eu... Estou indo fazer compras pra livraria...
- Ah, o senhor vende livros!? Muito bem então. Por que não trouxe um para ir lendo durante a viagem?
- Não... Quer dizer...
- Ah que saco! Por que você veio aqui na frente então? Devia ter trazido a porra de um livro e sentado lá dentro, não acha?
O homem olha espantado para o motorista, que continua olhando para a pista com ar confiante.
- Preferia aquela loirinha que tá com vocês.
A adolescente se encolhe ainda mais na cadeira ao ouvir falarem dela. A mãe, a seu lado, lhe aperta a mão com força tentando passar um pouco de segurança.
- Quer saber? Por que você não vai lá pra dentro e traz ela pra cá?
O homem olha espantado ao redor, sem ação.
- Deixa a menina em paz... Olha, a gente vai... - O homem que veio acompanhado da esposa começa a frase, mas não consegue terminar ao ver Mandros se virar para ele, ainda dirigindo. - A estrada!
- Eu sei que tem uma estrada aqui! O que você estava falando?
- Não, que...
Todos em pânico veem o ônibus seguir na mesma velocidade de antes, mas o motorista parece nervoso com outras coisas.
- O que é que cês vão fazer?! - Mandros pergunta, mas não há resposta.
Os cinco passageiros estão sem voz, espantados.
- Vão fazer merda nenhuma é o que vocês vão! - Mandros conclui triunfante e se endireita no acento, voltando a atenção para a estrada. - Vocês são é uns bostas!
Ainda assustados, os passageiros suspiram com certo alívio. A mãe e a filha já estão com as duas mãos dadas. A mulher acompanhada do marido chora em silêncio.
- Tá, se ela não quer vir, que não venha! Depois a gente conversa melhor.
A viagem prossegue. As casas passando na paisagem, só o tempo que parece não passar para aqueles pobres cinco viajantes.
-- Cárlisson Galdino
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