Eu só queria tempo, mas nem sempre nos dão
Várias perguntas passeiam pela mente de Claudia. A principal é se eles devem ou não entregar o tablet. Há outras como: quem realmente está por trás disso? O que exatamente significa? Afinal, aquela história de que “tudo estaria perdido” e que tinha a ver com o bem de todos ela ainda não esqueceu. Pode ter sido conversa de um criminoso desesperado, como pensou a princípio, mas... Polícia será só um dos problemas no futuro. Isso foi uma ameaça ou uma previsão?
Herbert se animou com a conversa. Quer fazer parte disso tudo, acha que tem a ver com “Wikileaks” ou alguma ONG parecida. Claudia, como sempre, está mais cética.
Se há tanta gente assim procurando o tablet, então onde deixá-lo até resolver o que faz com ele? Claro, ela não pretende entregá-lo ainda. Aquela conversa no restaurante foi uma enrolação desnecessária. Quer mais explicações, não aquele ilusionismo com uma tabela de códigos.
Por isso ela pensou por um tempo onde deixaria o tablet. Deixar em casa seria mais seguro, mas seria o mais esperado também.
Andar com ele também não lhe pareceu uma boa ideia. Se encontrasse Caio novamente e ele estivesse disposto a lhe roubar? Achou graça ao lembrar que agora ela pratica Boxe e que Caio já deve ter mais de cinquenta anos, mas um revólver alteraria a balança contra ela.
A casa de Herbert seria outra opção, mas só quando ele voltar do trabalho.
Seu próprio trabalho, mais uma. Mas Caio sabe onde ela trabalha e isso tornaria a escola um ambiente de alto risco.
Talvez justamente por isso seja uma boa opção. Por parecer burrice, talvez seja um canto onde demorariam a procurar.
Por isso ela preferiu a escola mesmo e se aproxima da escola logo que um carro que estava parado à sua frente vira a esquina.
- Claudia? Falou com eles?
- Quem?
- Estavam procurando você. Fez alguma coisa errada?
- Não, por quê?
- Eram da polícia. Disseram que queriam fazer perguntas sobre um crime que você talvez tivesse presenciado. Tá envolvida com tráfico não, né?
- Eu? Claro que não!
- Dei o endereço a eles. Devem estar indo pra sua casa.
Perplexa, sem saber se brigava ou não com a atendente da secretaria, Clauda apenas fala antes de sair.
- Então vou lá ver o que querem.
“Eu sei o que querem. E o pior é que está comigo!”
Ela atravessa a rua e pega um mototáxi.
O lugar é estreito, com duas mesas e cadeiras. Na porta, escrito “Céu de Brigadeiro”. Atrás do balcão, uma mulher de cabelos pretos curtos e rosto arredondado sorri ao ver a chegada de sua irmã.
- Claudia! Como é que vai? Tudo bem com você?
- Tudo, quer dizer... Mais ou menos.
- O que houve?
- Estou encrencada e não sei o que fazer.
- Senta aí, vai. Quer alguma coisa?
- Aceito um suco.
- De quê?
- Qualquer coisa.
- Eu quero de manga. - Claudia se assusta com aquela voz masculina. Olha para trás e vê aquele rosto conhecido.
- Caio!? Como você me achou?
“Está me perseguindo!”
- Vi a senhorita passando de moto aqui perto. Parece assustada. Algum problema?
- Não se faça de besta! Você mandou seus homens atrás de mim!
- Hmmm... Aconteceu mais cedo do que eu previa. - Ele se senta. - Primeiro, não são meus homens. É a polícia, não é?
- E eles querem...?
- Sim, exato. Mas eles não tem certeza de que está com você. A não ser que você tenha agido de forma suspeita. Você pode fingir que não está com você e que não tem nada a ver com isso. Se eles acreditarem, vão te deixar em paz.
- E se não?
- Vão pensar que você faz parte da nossa organização. Aí vão encontrar o aparelho e vão levar você e ele. Farão tortura e outras coisas assim.
- Não se faz mais isso hoje!
- Você quer dizer “não se noticia mais isso hoje”...
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