A luz no fim do túneo quase sempre é mesmo um trem
- Já falou com eles?
- Ainda não. Eles foram na escola e devem estar na minha casa.
- Como soube deles?
- Eu vi o carro saindo. A menina da secretaria disse que estavam indo na minha casa.
- E você saiu?
- Disse que ia lá também ver o que queriam.
- Isso é mal, a menos que vá agora. Mas, como eu disse, terá que ser capaz de convencê-los de que não faz ideia do que eles estão falando quando falarem de tudo aquilo. Sabe blefar?
- Sou péssima...
- Foi o que pensei. Nesse caso, o mais seguro é ir comigo.
- Onde!?
- Maceió.
- Está doido?! E meu emprego, e o Herbert?
- Seu namorado... Bom, deixa ver. Se você demorar, eles vão falar com seus vizinhos e pegar informações sobre o seu namorado. Em seguida, vão procurá-lo no trabalho dele. Não sei o que vão dizer nem como ele vai reagir, mas terminarão sabendo de parte da história. Talvez o levem, talvez o deixem. Se deixá-lo, tenha certeza de que ele será grampeado e vigiado por um bom tempo.
- Ai meu Deus...
- Hmmm... Onde você pegou a moto?
- Em frente à escola.
- Vamos! - Ele se levanta, de súbito. Vai até o balcão. - Senhorita...
- Cyntia.
- São irmãs, não são?
Ela faz que sim com a cabeça.
- Ótimo. Se gosta dela e quer que ela viva, nós dois não estivemos aqui.
Ele estende uma nota de cinquenta.
- Está sequestrando minha irmã!?
- Não, estou protegendo. E se lembre: a polícia não vai vir para proteger.
Claudia segue com Caio até um hotel algumas quadras depois. Seu coração bate desesperadamente.
Vão partir imediatamente, ou quase isso: ele precisa pagar antes a hospedagem.
O tablet, os agentes, esse tal Caio... Tudo deixa seu coração muito apertado. A cidade de repente ficou muito pequena, pequena demais.
Um segundo de distração e ela foge, deixando Caio no hotel. Corre um quarteirão e pega um taxi até a rua dos transportes para Maceió.
- A moça está bem?
- Estou.
- Notícia de família, né? Vai dar tudo certo.
- Obrigada.
Para sua sorte, uma besta já estava saindo. Ela respira fundo, um pouco mais tranquila, e toma um assento na frente.
“Enquanto não souber o que está havendo, é melhor manter distância desse sujeito. Não faz mal ir pra Maceió mesmo. Lá é mais fácil eu me esconder. Daqui a uns dias eu volto e justifico na escola. Ou não sei...”
- Você viu que encontraram um carro com dois mortos dentro?
- Como assim? - O motorista pergunta ao cobrador.
- Meu pai que tava falando que viu no jornal hoje de manhã. Os dois queimados.
- Onde isso!?
- Lá em Bananeira!
- É, aqui tá cada vez pior. É no que dá a polícia pegar leve com bandido.
- Não é, véi! Nada a ver isso.
- Se eu fosse da polícia queria nem saber de Direitos Humanos nem de nada, queimava essa praga era toda!
- E por que não vai pra polícia então?
- Nada, tem futuro não. O cara também fica marcado...
- …
- Parece que teve acidente aí na frente. Olha os caras cortando luz.
- É nada! É blits.
- Esse povo querendo dinheiro.
- Nada, se não mudaram enquanto eu vinha é da polícia essa aí.
Claudia leva um susto e pede pra parar.
- Vai descer aqui, moça? Mas a gente nem passou do trevo!
- Não, esqueci uma coisa lá em casa.
- Pede pra alguém mandar. Eu ligo pro Paulo, que vem mais tarde, que ele leva pra Maceió.
- Não dá. Só eu sei onde botei.
- Então tá.
“Que droga! Fecharam o cerco!”
Ela caminha por ruas de barro. Mais de meia hora depois é que alcança finalmente a estrada, depois da blitz. Com medo de reencontrar Caio, espera a próxima besta passar.
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