Um erro muitas vezes nos empurra para outro
Demorou um pouco para passar outra besta. Enquanto a esperava passar, Claudia curtia um sentimento de ansiedade sem igual, de medo e desespero. Demorou, mas enfim o transporte chegou.
Na viagem ela se lembrou de que estava quase sem dinheiro. Não estava levando roupas, só uma bolsa com seus pertences habituais, além do tablet.
Passado o susto das últimas horas, ela pensa em tudo o que fez.
“É insano isso! Por que eu estou fugindo? Do que estou fugindo afinal? Eu devia ter agido com naturalidade, ter entregue essa porcaria logo e pronto! Me livrava disso! Esse stress, essa... Essa correria que não tem nada a ver comigo! Ou não era pra ter...”
“Mas agora de que adianta pensar nessas coisas? Não tem mais como voltar e dar uma desculpa. Não vai colar... No fim, eles podem simplesmente pegar o tablet e sumir da minha vida, mas podem também achar que eu estou envolvida em sei lá o quê e aí já era.”
“Foi um erro ter fugido. Foi um erro ter pego essa bomba em Salvador...”
E de repente anoiteceu.
Ainda estava muito antes de São Miguel quando um assunto na besta despertou sua curiosidade em um dejavú.
- A blitz ainda estava quando você veio?
- Estava sim. Igual a de Arapiraca.
- É estranho isso, né?
- Eles devem estar querendo pegar alguém.
- É verdade. Teve fuga lá em Arapiraca?
- Como!?
- No presídio!
- Não soube de nada não... Mas se tivesse tido fuga os bandidos não iam viajar pra fora assim tão cedo, né?
- É verdade... Mas não sei, às vezes pra ficar perto da família.
- Eu pensei que os presos fossem de Arapiraca mesmo.
- São?
- Não sei. Pensei que fossem.
- De qualquer forma, acho que deve ser algo mais grave. Talvez estejam na cola de um traficante ou algo assim.
- Sequestro?
- Pode ser.
- Espero que acabem mesmo com essa bandidagem.
- Sabe o que é curioso?
- O quê?
- Logo cedo essa blitz não tava aí, só tinha a de Arapiraca.
- Será que eles acham que fugiram de lá?
- Isso deve passar num jornal mais tarde. - Um passageiro comenta.
- Eita! Ia ser bom ver a nossa terrinha no Fantástico!
- Ia nada, só passa desgraça daqui. Cadê que passa coisa boa?
- Podem parar aqui? - Claudia pede, timidamente.
O motorista diminui a velocidade e encosta.
- Aqui mesmo?
- É.
- Não é perigoso não?
- Não, aqui está ótimo.
Ela paga e desce.
A besta vai embora e ela vê o terreno à sua frente. O medo continua igual, mas a causa é outra: o desconhecido. O risco que corre.
E se a polícia não estiver procurando por ela, mas por um assassino em série ou uma loucura assim? E se ele descer por aqui?
Com cuidado, Claudia atravessa a pista e caminha entre as ruas desertas e vazias, quase que somente de terrenos.
Caminha por um bom tempo até encontrar um galpão recuado da rua. Ela se senta, encostada ao portão e chora.
Chora de medo e por não saber o que vai ser de sua vida daqui pra frente. Por não saber o que fazer.
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