No centro da vila
De longe se vê
Uma Catedral
Mas não uma qualquer
A cidade parada
E ela a assistir
Majestosa, pergunta
O que houve aqui?
Após umas duas horas de viagem, a gente chega finalmente. Não a Paris, mas a Chartres. Recebidos desde longe pelo seu maravilhoso cartão postal, a Catedral de Chartres. É um monstro gótico no meio da cidade. Bom, mas não entramos para ver a catedral.
É certo que precisamos nos alimentar também, e precisamos mais ainda de esperança, de notícias de gente viva. Precisamos da tranquilizadora descoberta de que o inferno está só em Le Mans, já que a descoberta de que tudo era apenas um pesadelo parece que seria pedir demais.
Infelizmente quase não há carros pelas ruas, e os que há vão rápido demais. Passamos por alguns acidentes, por isso o atraso. Mas não havia sobreviventes. Tudo desanima.
Duas horas não foram o bastante pra gente descobrir quase nada sobre Richard.
- Está bem. Creio que temos uma loja de conveniência. - O professor fala, parando o carro. Conversa um pouco com Jörg.
- Vamos. Mesmo sendo uma cidade de interior, com poucos automóveis, as ruas são muito estreitas e não é seguro adentrarmos muito. É deveras arriscado ficarmos presos, acaso algo não vá bem.
- Entendo.
- Venha comigo, Fábio.
Desço do carro e vou com o professor até a tal loja. A cidade parece ter ficado no tempo. Aquele ar de idade média, prédios antigos. Na verdade, a cidade parece mesmo parada. Ao menos por aqui não parece ter havido muito caos, mas já há sinais de que estamos muito longe da normalidade. Tudo parado e alguns vidros quebrados, manchas no chão, provavelmente de sangue.
A loja está aberta, mas não tem ninguém.
- Pega!
O professor me entrega uma cesta de compras. Vamos então coletando comida e bebida. Não parece haver mesmo mais ninguém.
- De que será que os dois gostam? Levaremos um pouco de tudo.
- Certo... Professor, já pensou no que é que vamos fazer se Paris estiver assim?
- Já pensaste no que fazer se Coimbra estiver assim?
- Não!
- Também não!
Não falamos mais, mas essas palavras creio que já bastam. A resposta é simples: ele não tem um Plano B, talvez para não abalar o pouco de otimismo que ainda lhe resta.
Em pouco tempo, estamos de volta ao carro prateado. O professor fala qualquer coisa sobre pessoas vivas na cidade. Jörg parece preocupado, mas depois concorda. Richard também aceita. Então o carro segue pelas ruas paradas de Chartres.
Pouco a pouco, ouvimos um som estranho, vindo de longe.
Jörg grita alguma coisa e não é difícil entender o que ele diz. O professor para o carro e descemos. Estamos diante de uma pousada, ou é o que parece. O barulho é de algo caindo lá em cima, em um dos quartos, muito provavelmente.
Nós vamos à escada correndo. Richard vai na frente. No segundo andar nós vimos a causa de tudo. Não é surpresa a essa altura mais um corpo morto perambulando ao léu. Ao léu até nos ver, mas por pouco tempo. Em um instante ele já está caído, com a cabeça separada do restante do corpo por um golpe certeiro de Richard com sua espada de lâmina vermelha.
Jörg e Richard se comunicam e resolvemos ver os outros quartos. Só então percebo que o professor não subira conosco. Tenho certeza de que ele pensou bem e viu que precisávamos de alguém a postos lá embaixo
para não sermos pegos de surpresa por qualquer coisa desagradável que viesse das ruas.
O ar é estranho, é como se estivesse dentro de um filme de suspense. Todos esses prédios antigos e com um corpo caído no meio do corredor. Mais um quarto que olho e parece normal. Perfeitamente arrumado e vazio.
Em pouco tempo nos encontramos próximo ao zumbi derrotado. Eles falam pouco, mas nem era preciso falarem, os gestos apontando para cima deixam claro qual nosso próximo passo. Vamos às escadas que levam ao segundo andar. Silêncio ainda. De repente, algo cai. Vem lá de cima.
- Fábio! Richard! Jörg! - É a voz do professor. É bem baixa que a ouvimos, mas vem lá de baixo. Vamos voltar!
P. S.: Publicado inicialmente na Revista BrOffice.org #17
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