Um labirinto novo
O velho problema
A Igreja nos olha
Pra variar a cena
De novo na mesma
Fugindo e lutando
Zumbis sem ter fim
Zumbis, até quando?
Jörg dispara flechas em alguns mortos-vivos espalhados. Eles se dispersam um pouco após inflamarem. Richard já veio para junto de nós e, no clímax da ação do fogo, nós corremos, com Richard abrindo caminho. É bem mais fácil assim. Os zumbis parecem não saberem o que está havendo, estar desnorteados. O cheiro é que fica ainda mais desagradável.
Após dois quarteirões, parece que há menos zumbis, bem poucos.
- E agora?
- Estou cansado. - O professor reclama. - Mas temos de prosseguir.
- Por onde?
- Continuamos por aqui, que é para longe da catedral, ou seja, mais perto do lado de fora da cidade. Havemos de encontrar algum automóvel abandonado mais à frente.
- Tomara...
Jörg só tem mais duas flechas e isso é mal. Agora que parece ter encontrado uma utilidade para suas habilidades com o arco é que as flechas se acabam. E, ora, não vivemos em um mundo de guerreiros e dragões. Não se acha flechas em qualquer loja de armas. Não se acha nem lojas de armas. Ou estou enganado?
Viramos a esquina, nos afastando ainda mais da catedral. Há muitos mortos nessa rua e todos reduzimos o passo instintivamente. Corpos, roupas rasgadas... Vidros quebrados... Aqui parece que a bagunça foi mais séria. No chão, amassado, um jornal. Eu o pego.
De alguns dias atrás. A foto parece daqui mesmo. Uma praça com tudo destruído. Fala sobre destruição, mas não fala de mortos-vivos. Há sangue espalhado e pedaços de corpos ao invés de corpos inteiros sem vida. Parece um outro lugar...
- Fábio! Estás louco?
- Professor?
Olho à volta. Tudo do mesmo jeito e continuamos caminhando. O professor vinha se afastando de um pequeno carro estacionado. Provavelmente estava fechado.
- Isso lá é hora de ler jornal? Atenção que ainda estamos em altíssimo risco!
De certo modo tem razão. Seguimos. Alguns zumbis aparecem mais à frente, mas não nos preocupam mais do que a própria cidade em si. Logo eles caem, feridos pela espada translúcida de Richard.
Translúcida... É realmente interessante. É como se ela fosse de quartzo, mas ela se comporta como se fosse de metal. Ela faz barulho como se fosse de metal. De que ela é realmente? Não faço a menor ideia...
- Professor! - Aponto para o posto de gasolina mais adiante!
- Ótimo! Vamos até lá!
Contando apenas com Richard, chegamos até o posto sem muita dificuldade, apesar de ter levado algum tempo. A cada passo, é mais e mais forte o cheiro de gasolina.
Caos à volta. Um carro dentro de um ônibus se vê bem perto, por uma das ruas dali. Quase não há carros. Há um caminhão batido no prédio do posto. A porta aberta e não há ninguém. Um caminhão-baú.
- O que faremos... Vamos! Procurem um carro! We need a car! - O professor grita e gesticula, então nos separamos, sem nos perder uns aos outros de vista.
O baú está entreaberto. Vem uma certa curiosidade sobre o que pode estar lá dentro, mas depois dos últimos acontecimentos, prefiro passar a dois metros daquela porta a chegar perto e ver o que tem dentro. Do outro lado do caminhão, há um carro conversível. Um azul quase escuro e pouco brilhoso. A chave está lá.
- Professor!
- Que há, Fábio?
- Encontrei um carro! Não sei se há como tirar daqui. Ele por sorte não foi esmagado pelo caminhão, mas parece intacto!
- Vejamos.
O professor corre até ele e entra. A chave liga.
- Ainda tem combustível. - Fala, olhando logo em volta em seguida. - Como se fosse um problema... Agora temos que dar um jeito de tirá-lo daqui.
Afastamo-nos os três e deixamos somente o professor dentro do carro. Jörg fica num extremo do posto observando ao redor, como um sentinela, e Richard parte para longe do posto, derrubando mais zumbis para abrir caminho. Eu fico por perto, tentando orientar o professor nas manobras.
Esse caminhão-baú me inquieta, não sei porque.
- Está quase! Cuidado com o caminhão... Pronto!
Finalmente carro sai. Subimos e vamos na mesma sequência de antes. Primeiro o Jörg, depois o Richard, no meio do caminho. E vamos embora dessa nova cidade maldita.
Pelo menos, agora posso folhear o jornal.
P. S.: Publicado inicialmente na Revista BrOffice #20
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