Redblade #08 - Fire!

Redblade #08 - Fire!

Le Mans já mostrou
Seus corpos do além
A gente escapou
Como? Não sei bem...
Mas não acabou.
Há em Chartres também?!

Desespero. Puro desespero é o que sinto. Não há palavrais mais precisas do que esta sozinha. Zumbis vindo dos dois lados da rua, saindo das ruas transversais e desaguando na rua onde está o carro prateado. O desespero não é somente pela quantidade assustadora de criaturas de tão terrível categoria. O desespero é por eu pensar automaticamente em “rota de fuga” ao ver os zumbis e perceber que não há uma.

- Dance, Redblade!

E Richard salta para um dos lados da rua. Mais precisamente o lado de onde viemos.

Olhando agora, ele não me parece muito humano. A velocidade com que se movimenta é irreal, vertiginosa!

O barulho de carne sendo rasgada com a maior facilidade do mundo... O cheiro que vai ficando cada vez mais forte. Tudo é muito irreal.

- Come on!

Ele grita e, claro, o seguimos. O professor segue com olhar assustado, carregando a cesta com metade das coisas que tinha tirado da loja. Logo Jörg nos acompanha trazendo seu arco e umas poucas flechas. Ele para um pouco, olha pra trás. Eu paro tentando entender o que ele pretende. Uma... Farmácia?!

Por pouco não tropeço em um dos tantos corpos que agora se estendem pela rua, graças a essa tal de Redblade.

- Jörg! Ei! Danger! Come on!

Acredito que tenha sido realmente pouco tempo que ele passou lá dentro, mas numa hora dessas não existe “pouco tempo”. Qualquer espera é uma eternidade. Ele teve sorte de não ter encontrado um desses mortos lá dentro. Mas ele precisava de... não sei o quê.

Um cantil? Um frasco pendurado como um cantil, usando ataduras... Um saco de outra coisa amarrado na calça.

- Fire?

- What?

- Fire?!

Não sei o que ele quer dizer. Não faço a menor idéia. Onde diabos tem fogo?! Ele percebe minha falta de compreensão e corremos os dois para junto do professor, que já se aproximava da esquina. Ele acena e aponta para a rua lateral, a entrada à esquerda.

Como é que Richard vai conseguir dar cobertura pra gente...

Richard grita e aponta para a parede. Há uma escadinha de uns seis degraus, que leva à entrada da casa. Ele quer que esperemos ali?

O professor corre para lá e nós o seguimos. Ficamos encostados na porta, assistindo.

- Ele quer um isqueiro.

- O quê?

O professor aponta para Jörg. Então era isso que ele queria dizer com “Fire! Fire!” Se tivesse gesticulado “um cigarro” teria sido muito mais fácil...

- Não tens um, Fábio? Há anos que não fumo...

- Não...

Mortos por todos os lados... Roupas urbanas... Bolsos...

- Espera.

Eu desço da escada e me aproximo de um corpo sem cabeça. Um corpo de mulher, um corpo que parece ser de fumante.

Céus... A coisa é muito mais terrível quando estamos perto. Talvez como as catástrofes que acontecem mundo afora vez ou outra. A gente vê nos jornais e não percebe o quanto as vítimas sofrem. Quanto mais perto chegamos mais percebemos como aquilo é realmente terrível.

Um corpo humano. Era uma pessoa viva há algumas horas! E sabe-se lá como, virou uma criatura dessas... Um morto ambulante. O cheiro, a pele rasgada em algumas partes mas o sangue não é normal... Está negro e grosso de uma maneira que é bem fácil provocar enjôos só de olhar.

Volto para a escada com a bolsa verde.

- E aí?

Abro. Um celular. O professor o toma da minha mão. Batom... Maquiagem... Espelho... Não sei o que é isso... Pasta de dente? Perfume... Aqui! Caixa de cigarros! Entrego a Jörg e ele segura ansioso. Mal tiro o isqueiro e ele o toma da minha mão.

Agora é que senti cheiro de álcool.

Jörg guarda a carteira de cigarros no bolso e acende a ponta de uma flecha, enrolada com algodão, certamente úmido. Mira um dos zumbis distantes de Richard, que ainda está fazendo seu trabalho, exatamente daquela maneira incrível que eu descrevi em outra ocasião.

- Não há sinal!

- Professor?

- Já desliguei e tornei a ligar o aparelho e não há sinal algum de torres de celular!

- Talvez devêssemos esperar isso já, não?

- Talvez, mas que droga! A realidade é que o caso é muito mais sério do que me parecia.

Olho para o lado e vejo entre os zumbis distantes um caminhando com a camisa começando a inflamar. Parece não fazer muita diferença para ele...

- ...E olha que o quadro já me parecia terrível o suficiente, hein!

O fogo começa a ficar mais forte naquele zumbi e os zumbis próximos a ele começam a se afastar, mas sem deixar de vir. Ou melhor... Alguns estão voltando. É, acho que eles não sabem bem o que fazer. E daí? Nós também não sabemos...

P. S.: Publicado inicialmente na Revista BrOffice #19

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