Redblade #06 - Acidente

Redblade #06 - Acidente

Carros só correm
Mortos, parados
É a regra do mundo
Mas não levam a sério

Caminham os que morrem
Carros largados
Aqui é, no fundo
Estranho cemitério

Sem controle por apenas uma fração de segundo, mas uma fração de segundo às vezes é tempo demais. O carro desliza de lado e reencontra o trilho invisível do asfalto. Ao virar para o lado oposto tentando desviar de um carro estacionado (é, estou sendo irônico com o “estacionado”), perde novamente o contato e bate de lado. O impacto não é nada sutil.

- Todos estão bem? - O professor pergunta.

- Vamos embora daqui, professor!

- Mas esta porcaria não quer mais pegar!

Richard fala para sairmos todos do carro. Especialmente para Jörg, que está entre ele e a porta possível de se abrir. É que o carro simplesmente colou na massa de carros que havia. Jörg e eu saímos quase ao mesmo tempo. Até para que o professor e Richard consigam também deixar o veículo.

A cena é aterradora. Acho que nem é meio-dia ainda. Tudo parado, ou nem tudo. Tudo que deveria estar em movimento está parado e o que deveria estar parado se move. Carros e motos batidos nesse entroncamento. Não há mais barulho de motores por aqui. Gritos ainda são comuns, mas não de maneira contínua. Vez ou outra ouvimos um grito distante, ou o som inconfundível de mais uma batida de carro.

Carros destruídos... E um bocado de zumbis. Realmente é sorte a gente estar num cruzamento largo. Quer dizer, não sei até que ponto é sorte. Tem muito carro destruído e não sei como conseguimos chegar até aqui. Já foi uma vitória, com certeza. Vitória parcial e talvez insignificante: parece que ainda estamos no meio da cidade. E os zumbis...

- Get a car! Right now! - O Richard fala. Ou foi “catch a car”? Ou foi outra coisa? De um jeito ou de outro, a mensagem é clara. O professor Álvaro corre para o outro lado da rua e eu o acompanho.

Ele tem uma boa visão! Nos dois sentidos! Do outro lado da rua há uns dez carros estacionados. Desta vez, sem ironia. Um deles está bem atrativo, num caminho sem zumbis, e corremos até ele. À meia distância já se nota os vidros abertos. O professor entra e eu fico de sentinela.

- As chaves! As chaves!

- Não estão aí?

- Estão! É que temos tempo de sobra a perder! - O professor responde enquanto continua a procurar. Debaixo do banco, no porta-luvas...

Um grupo de zumbis se aproxima vindo do prédio. O que é aquilo? Corro até lá antes que eles cheguem. Abençoados sejam esses mortos que caminham por serem tão lentos! Será que teremos salvação?

- Professor! - Ele abre um sorriso enquanto pega o chaveiro da minha mão.

Sim, um chaveiro, carteira e uma pasta estavam jogados ali, quase na entrada do edifício. Que sorte! Certamente o dono...

- Puta merda! Não é deste!

O professor sai e vamos para o carro vizinho.

- Também não!

- Professor? Não temos...

- Rá! Deixa-me em paz! Concentração... Concentração...

Olho para o outro lado da rua e então percebo por qual razão Richard não veio nos dar cobertura: ele está abrindo a rota de fuga. Simplesmente foi embora pela rua. O que Jörg está fazendo? Tirando alguma coisa do carro onde estávamos?

- É este!

Não espero. Mergulho no carro e o professor acelera.

- Jörg!

Ele larga o extintor de incêndio que acabara de retirar e pega seu arco e suas flechas antes de entrar também no carro. Continuamos o caminho. Onde está...

- Dort! - Jörg aponta mais à frente e lá está Richard, com a espada translúcida desferindo golpes a uma velocidade vertiginosa.

Uma mistura de Kali e Shiva, um dançarino da morte. Uma imagem bela e assustadora. Dá medo e ao mesmo tempo não consigo tirar os olhos da cena, tentar entender os movimentos que derrubam tantos zumbis numa velocidade tão alta.

- Come on! - O professor grita enquanto Jörg abre a porta de trás.

Richard entra no carro e partimos novamente. Impressionante é que, derrubando zumbis nesse curto espaço de tempo, ele avançara um quarteirão inteiro!

E que alegria! Em poucos minutos deixamos a área urbana. Ainda há carros batidos e zumbis, mas numa proporção incomparavelmente menor. Paris, lá vamos nós!

P. S.: Publicado inicialmente na Revista BrOffice.org #16

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