Cidade de Stringtown, metrópole no estado da Bahia. Lá se encontra o polo tecnológico mais importante do Brasil. Diversas empresas dividem espaço tentando competir no difícil mercado internacional. Dentre elas, a PerfWay, hoje totalmente destruída. Não muito longe dali, outra empresa destruída se levanta de suas ruínas com paredes metálicas colocadas artesanalmente: a SysAtom Technology. Quatro estranhas figuras aparecem no local.
Aldebaran: Cara, meu joelho tá doendo muito! Será que quebrou, droga? Maldito Cigano!
Seamonkey: Cala a boca, chorão!
Aldebaran: Não foi você que levou martelada no joelho!
Montanha: Quer que eu ligue para um veterinério, chifrudo?
Aldebaran: Muito engraçado... Vão se lascar! Os dois!
Tungstênio: Vamos parando todos. Por que demoraram?
Montanha: Foi muito rápido, nem demoramos tanto assim.
Seamonkey: Demoramos mais no trajeto.
Seamonkey olha para Aldebaran com desprezo em um olhar denunciador.
Tungstênio: O que aconteceu lá exatamente? Deram cabo dos dois?
Montanha: Não, chefe, infelizmnte...
Tungstênio: O quê?! Vocês são idiotas! São quatro! Contra somente dois!
Seamonkey desabafa, falando baixo.
Seamonkey: Desertores não têm direito de criticar...
Tungstênio: O que disse?! Ah, não importa! Eram apenas dois! E claramente não tinham habilidades tão boas quanto as nossas! E um dos dois ainda era uma mulher!
Seamonkey: Como é?!
Tungstênio: Sim, uma mulher!
Montanha: Desculpe, realmente é humilhante.
Seamonkey: Quê!?
Montanha: Mas é burra...
Seamonkey sai da sala perplexa.
Montanha: Está ficando muito cheia de direitos, ela, não acha?
Tungstênio: Verdade... Mas deixemos a Seamonkey de lado, por ora. Conte-me o que houve exatamente. Patinhas?
Aldebaran: Sou mais Patinhas não, pô! Sou Aldebaran agora!
Tungstênio: Que seja.
Aldebaran: O Darrell estava armado, você viu?
Tungstênio: Não reparei.
Montanha: Só uma marreta de ferro, chefe. E um spray de pimenta.
Tungstênio: Uma marreta e um spray de pimenta...
Montanha: Pelo menos foi o que vimos.
Tungstênio: Quer me dizer que vocês dois, com essa força toda e com a inteligência de um engenheiro genético e um programador de computadores, foram derrotados por uma marreta e um spray de pimenta?!
Aldebaran: Bom, é... Mas ele acertou o meu joelho, olha!
Montanha: Não fomos derrotados, chefe! Estávamos controlando bem a situação.
Tungstênio: E então?
Montanha: Então eles fugiram...
Tungstênio: Como assim?! Como vocês controlam bem a situação e eles fogem?! Isso é contraditório, não percebem?
Montanha: Chefe, é que nós...
Tungstênio: É como um médico dizer “estávamos controlando bem a doença, mas o paciente morreu”.
Montanha: Eu sei, mas...
Tungstênio: Ou então um analista dizer “Estava controlando bem o projeto, mas acabou o prazo e não tínhamos feito a camada de banco de dados.”
Montanha: Tá, e então foi...
Tungstênio: Ou um motorista dizer “Eu estava conduzindo muito bem o carro, mas entrei num poste!”
Montanha: Mas, chefe...
Tungstênio: Não quero saber! Ainda temos dois bugs para tratar! E vocês três, fortes como são, não deram conta ainda. Vou ter que contratar alguém competente para fazer isso! Será possível?
Tungstênio sai, com raiva, da sala. Montanha abaixa a cabeça, enquanto o Aldebaran permanece sentado, preocupado com a própria perna. Não demora muito e Tungstênio volta.
Tungstênio: Não tenho muito o que fazer! Onde encontro gente com super-poderes assim? Estou condenado... Vocês têm que melhorar suas habilidades estratégicas! Vão jogar xadrez, videogame ou qualquer coisa que torne vocês menos inúteis!
Montanha: Nós conhecemos os dois, chefe. Não é um problema tão grave assim, é?
Tungstênio: Claro que é! Eles conhecem a gente e se colocaram no nosso caminho! Temos que dar um jeito neles! Como vamos conseguir continuar nosso plano de dominação mundial normalmente enquanto eles estiverem à solta?
Montanha: Mas eles são fracos...
Tungstênio: A qualquer momento podem aparecer de novo e nos distrair. Mesmo sendo fracos, podem nos atrasar em algum momento importante e fazer as coisas saírem dos planos. Temos que dar um jeito neles. Vão jogar xadrez!
E sai novamente da sala. Os dois se olham por um tempo, então finalmente Montanha se aproxima do Aldebaran.
Montanha: Tá, cansei da sua cara de choro. Quer o quê? Quer que eu arrume gelo pra botar na perna?
Aldebaran: Véi, valeu! Você é o cara...
P. S.: Publicado inicialmente na Revista Espírito Livre.
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