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Cavalaria Maldita

De tempos em tempos, certas idéias e ideais costumam reunir em torno de si pequenos grupos. Esses grupos defensores desses ideais costumam sofrer preconceito da maioria da população, simplesmente por não conhecerem como funciona. Ou simplesmente encontram dificuldade para promover as mudanças que desejam. Então deseja-se divulgar, que esses grupos tenham mais adeptos para assim aumentarem o entendimento do assunto e diminuir o preconceito, e conseguirem ser ouvidos. O problema é que na maioria das vezes o tiro sai pela culatra...

Aconteceu com os Hippies

O Movimento Hippie quebrou paradigmas e trazia todo um conjunto de atitudes. Nao era só falar de "Paz e Amor", era viver isso. Não era só mudar o visual, era mudar a atitude diante do mundo.

Eles chocaram e ganharam os holofotes. O que houve então? Virou moda! Receberam diversos novos "adeptos", mas adeptos modistas, não sinceros. O problema disso é que não eram hippies internamente, só esteticamente.

Mídia, Mídia...

Quando o movimento é restrito a um grupo, há uma "quase garantia implícita" de que os novatos receberão o conteúdo necessário para entender de que se trata o movimento e então decidirem se "é pra eles" ou não. Nada mais natural. Assim, o movimento continua pequeno, mas consistente. Este é o ponto positivo, a consistência. O negativo é que não dá pra fazer uma "transformação social" com um grupo pequeno demais, por isso vem o desejo de expandir os horizontes: o movimento precisa de reforços.

Um certo dia, líderes - ou os mais exaltados, ou até mesmo alguém de fora - terminam chamando a atenção da mídia. Surgem algumas matérias apresentando o movimento e aumenta a curiosidade do público em geral a respeito do tema.

Com a curiosidade, abre-se uma demanda por mais matérias. E passam a ser abordados aspectos menos importantes do movimento, até o ponto de desinformação.

Empolgados com o que viram na TV, um grupo de gente começa a "se auto-iniciar" no movimento. Compra acessórios, roupas, uns CDs, muda o cabelo e pronto! Já se sente parte do movimento. O movimento duplica, triplica, quadriplica, ou até mais, o número de "adeptos", porém com adeptos desse naipe.

É chegada a Cavalaria Maldita.

Por que Maldita?

Ora, por que acha que os primeiros adeptos daquele movimento mudaram tanto a forma de ver o mundo, de agir e se uniram? Isso não sai barato, socialmente falando! Sempre se enfrenta preconceitos da grande população ao integrar um movimento social no início. Todo movimento social traz uma mensagem e um conjunto de valores reivindicados. O principal propósito é o "apelo de valores". A cavalaria que chega não conhecerá esses valores. Pra que vai servir o tal movimento então, sem esses valores?

Por isso, tão logo chegue a Cavalaria Maldita, invariavelmente o movimento decresce e começa a fracassar em seu propósito principal. Os veteranos percebem isso desde o início e começam a se irritar com os novatos. Os novatos, por sua vez, terminam achando que os antigos são "elitistas" e não percebem que o problema está no fato de eles próprios não conhecerem a essência do movimento. O movimento se fragmenta.

A tragédia maior são os "novos líderes", vindos dentre os novatos, que ganham a mídia. E assim a cavalaria toma o lugar da vanguarda, tornando-se a parte mais forte do movimento. Pronto. Está tudo condenado. Quando passar a moda, poucos sobrarão para juntar os cacos e tentar resgatar aquilo que tinham no início...

Alguns Outros Casos

Punks e góticos são visualmente interessantes. Seus estilos são interessantes. Por isso mesmo, e pela exposição que já tiveram na mídia, é comum aparecerem "novatos superficiais" desse tipo, que mudam apenas o visual e já se sentem como parte do grupo. São chamados de "posers".

Outro caso interessante e um tanto recente é a Wicca, uma linha moderna de Bruxaria. Apesar de não ser um Movimento Social e sim uma religião, sofre do mesmo problema. Wicca é uma religião pagã centrada em um Deus e uma Deusa. Muitos novatos "se anexam" à Wicca influenciados por filmes como o Senhor dos Anéis, Harry Potter, ou por desenhos como Witch. Resultado: tem até gente que mistura deuses pagãos com anjos, santos, etc, simplesmente por não perceber que Wicca é uma "religião" e tem seu conjunto de crenças próprio. Pelos excessos no trato visual e pela forma "conto de fadas" de ver o mundo, esses novatos são tratados como "pink wicca".

Por incrível que pareça, o Movimento pelo Software Livre também sofre com cavalaria assim. Nesse caso, com um agravante: o interesse empresarial. O Software Livre foca primordialmente a liberdade coletiva de acesso, estudo e modificação de programas de computador. Simples assim. Essa foi a motivação que originou o movimento e o que criou suas bases. O problema é que muitos gostaram dos resultados, mas não do caminho, e terminaram criando conceitos derivados. Isso falando só dos esclarecidos, porque também tem muita gente novata que chega achando que defender "software livre" é defender programas de graça, o que são duas coisas distintas. Há ainda quem queira pegar carona no movimento para se promover. Lembrando que a origem do movimento pelo Software Livre foi com o projeto GNU, estes caronistas já foram taxados como "bois".

Conclusão

  1. O movimento se forma em torno de um conjunto de valores;
  2. O movimento se constrói e cria uma identidade própria;
  3. O movimento vislumbra uma chance de dar sua mensagem, mas precisa de exposição;
  4. O movimento se expõe;
  5. Chega a cavalaria maldita;
  6. Os novatos leigos se tornam maioria;
  7. O movimento se fragmenta.

Questões:

  1. Como evitar o enfraquecimento do movimento após a chegada da cavalaria?
  2. Há como criar formas de "recrutamento" para a cavalaria?
  3. No final das contas, qual a melhor postura para o grupo original, para que possa manter viva a causa e evitar a extinção do movimento? Não tenho respostas para essas perguntas, mas isso me preocupa, de modo geral. Haverá ainda alguma salvação para os que lutam por seus ideais?

Só deixo um apelo: quando se empolgar com algum movimento social (ou algo próximo disso), faça seu dever de casa: pesquise! Entenda as figuras antes de vestir a camisa! Não ajude a destruir mais um sonho coletivo...

Special: 

A Arma Secreta

Sabe aqueles jogos de videogame 2D com fases e hierarquia de chefes? Sabe aquelas situações em que chegamos ao chefe final e simplesmente é impossível derrotá-lo porque não achamos uma arma secreta no meio do jogo?! (isso é bem idiota, por parte dos fabricantes de jogos) Não temos como vencer por não termos a arma, e não dá pra voltar por estarmos no chefe. Tem tutoriais que nos deixam assim...

Tutoriais deviam seguir o Método Ciêntifico. Mais precisamente, deveriam trazer instruções claras e sempre ser testados por quem não o elaborou antes de distribuídos.

Uma das formas de centralizar informações dos usuários (login e senha) em GNU/Linux é usando o serviço NIS. Quando precisei configurar o servidor NIS no trabalho, passei mais de uma semana tentando, por vários tutoriais, nos momentos em que podia. Configurava tudo corretamente, mas nada de funcionar. Só muito depois descobri que havia um arquivo etc/defaults/nis com uma opção dizendo se o NIS é servidor ou cliente. Nenhum daqueles tutoriais falava desse arquivo e só o achei em um tutorial em Inglês, depois de todas essas tentativas.

Recentemente, o problema foi com o CUPS, o servidor de impressão. Dessa vez, entretanto, problema na origem, não nos tutoriais.

Após uma atualização no Debian Etch, o CUPS mudou tanto que a sintaxe do arquivo de configuração mudou também. Pensei "Bom, vou colocar o arquivo novo fornecido pelos desenvolvedores e depois faço as modificações necessárias". A idéia era simples, só teve um problema: a opção "Port 631" não vem por padrão (e não, a "porta padrão" do CUPS não é ativada por omissão), nem ao menos como comentário! Demorou até a gente descobrir que era isso que estava faltando...

Pois é, então, lembrem-se sempre: tem coisas que os tutoriais não contam (e nem os comentários da configuração)...

Fábula da Liberdade

Imagine alguém preso em uma jaula, vivendo a pão e água. Amarrado pelos pulsos, tornozelos e pelo pescoço, esse alguém passa seus dias trancado ouvindo apenas o barulho da praia e dos animais ao seu redor. A pessoa que a trancou às vezes aparece com sua limousine. Ela fala uma língua que o prisioneiro não entende, mas não há problema: raras vezes fala diretamente com ele.

O que você me diz sobre liberdade nesse momento? É inegável que isso é tudo o que essa pessoa que vive em uma jaula não tem, certo? Não creio haver dúvidas quanto a isso.

Agora imagine que você, homem normal, descobre a pessoa que vive sob essas condições tão desumanas. Primeiro vem o sentimento de revolta, de que o mundo está errado e isso não pode estar acontecendo. Após aceitar o que acontece como verdade, dependendo de quanto você valorize sua própria liberdade, você desejará que essa pessoa seja tão livre quanto você.

Vamos supor que você criou coragem e, inspirando-se em tanto quanto já se falou sobre liberdade nos últimos tempos, partiu rumo à libertação de tão infeliz criatura.

Após entrar no covil e furtivamente roubar as chaves, você se dirige à jaula. A pessoa o observa, assustada com o que está acontecendo. Você saca a chave e, girando-a no cadeado, começa a tentar desfazer o mal tão grande que fôra feito por outros. Entra. Solta as algemas, olha para a pessoa e diz: Você está livre. Vamos fugir para um lugar seguro. Enquanto olha ao redor, preocupado se alguém já descobriu seu intento, você ouve o barulho das algemas. Ao se virar, vê a tal pessoa se prendendo novamente, dizendo: Prefiro ficar aqui.

O que fazer diante de uma situação tão inesperada? Depois de feito o mais difícil, o prisioneiro simplesmente se nega a colaborar. O que se deve fazer? Deixá-lo e ir embora se lamentando por esse alguém não dar valor à própria vida ou, já que veio até aqui, levá-lo à força? Você ama a liberdade e quer libertá-lo. Mas se ele não quiser e escolher ficar, você é capaz de lhe dar liberdade de escolha? Afinal, há liberdade ao se escolher a não-liberdade? Se podemos chamar isso também de liberdade, o que é a liberdade afinal?

Acredito que haja quatro padrões básicos de reação quanto à liberdade:

  • há quem simplesmente desconhece que está em posição desfavorável, não conhece a liberdade e tudo aquilo que lhe foi furtivamente retirado;
  • há os que sabem o que perderam, odeiam essa posição, mas não sabem como deixá-la de uma vez, pois não conhecem opções;
  • há os que sabem o que perderam, mas que se conformaram depois de um tempo. Acomodados, preferem ser escravos mesmo, muitas vezes por estarem nessa posição há muitos anos;
  • há os que descobrem a liberdade, conhecem alternativas à sua vida acorrentada e lutam com todas as forças pelo que é mais precioso. Alguns perdem a vida na batalha, mas outros saem, muitas vezes sem saber quão difícil será viver assim. Outros conhecem as responsabilidades da nova vida, mas não fazem disso obstáculo e vão em frente.

Sempre que lutamos muito por algo para uma outra pessoa e essa não se mostra interessada, passamos a ter duas opções: podemos deixar as coisas como estão ou forçá-las. Ambas são problemáticas e parecem pôr em cheque todos os ideais que o levaram a mover toda a longa luta.

Em situação tão inesperada, penso que a maioria de nós agiria quase prontamente, movida apenas por ódio ou algum outro sentimento súbito. Como esta cena não está realmente acontecendo com você - assim espero -, podemos então discutir um pouco o problema, que parece bem complexo.

Abandoná-lo, deixando que fique preso pra aprender ou se dizendo que ele não merecia ser libertado parece, a princípio, ser a melhor saída. Acontece que a liberdade é algo bom demais para ser assim rejeitada. Sempre há um ou outro maluco masoquista que não deseja a liberdade, mas creio que, na maioria das vezes, abdique-se de liberdade por algum fator externo. Há os seguintes, e talvez ainda outros:

  • ignorância sobre o que é liberdade e o que é escravidão;
  • desconhecimento sobre como agir e forças que podem atuar em conjunto;
  • comodismo;
  •  medo de mudança;

Independente de quais exatamente sejam os motivos que levam uma pessoa a preferir uma posição de não-liberdade à outra, podemos agrupá-las em dois blocos: a ignorância/medo e o comodismo. O primeiro grupo tem um caminho fácil de se resolver, embora às vezes trabalhoso. Já o segundo é muito mais difícil de ser trabalhado.

Sabemos que um pássaro preso em uma gaiola por toda a sua vida e acostumado a ter a comida e a água sempre ao alcance quando necessário se habitua de tal forma a isso que, quando liberto, vem a morrer em pouco tempo, pois não está acostumado às responsabilidades da vida livre. Da mesma forma agem os humanos. Quando presos por um longo período, por ignorância não sabem se virar sozinhos e, se libertos, precisam de ajuda. Aí entra a informação. Precisa-se esclarecer completamente o que está havendo, porque está havendo, as vantagens e desvantagens que a nova vida trará. Tudo que possa lhe dar retorno tem um risco associado e há coisas na vida que, mesmo mais difíceis, valem muito mais que outras mais fáceis.

Há os que temem a mudança. Estes precisam de apoio. Devemos mostrar até que ponto será difícil e pedir que decidam. Devem encarar isso como um grande desafio de vida ou morte. Quando o assunto é liberdade funciona mais ou menos assim mesmo: ou você vence o medo e vive, às vezes enfrentando dificuldades, mas cada vez mais forte; ou simplesmente desiste e aceita a possibilidade de ser um fracassado pesando para o resto da vida. às vezes há pressão em torno do aprisionado e isso deve ser visto com atenção.

Não acho que aconteça com pássaros, mas há espécies de animais que voltam após serem libertas, pois preferem a vida presa. Aqui temos o comodismo em ação. Há pessoas também que agem desta forma e quanto a elas não há muito o que ser feito. São os piores aqueles que não querem deixar o conforto de onde vivem, mesmo sabendo que há um lugar melhor. Aliás, melhor para essas pessoas significa menos complicado. Muitos desta categoria nem ao menos conhecem o sentido da liberdade em teoria (o que já se deve considerar pouco frente à sua vivência), nem querem ser instruídas. Com esses, o dilema anteriormente mostrado (ir embora ou forçá-lo) se torna inevitável.

Mas o que é a liberdade afinal? Poder escolher entre ser livre ou não é liberdade? A resposta para esta pergunta pode levar a uma possibilidade de contradição e as duas possíveis respostas nos levarão a esta contradição se assumimos que um dos pre-requisitos para a liberdade é a tomada de decisão e que a liberdade só existe quando unimos capacidade para isso e procuramos sempre decidir por nós mesmos.

O que acontece é que às vezes uma decisão inicial pode impedir que outras decisões possam ser tomadas futuramente. Por exemplo, quem decide permanecer preso não poderá decidir aonde ir, o que comer e coisas tão triviais quanto estas. Liberdade exige responsabilidade e não pode, em momento algum, ser confundida com viver sem preocupações. Alguém livre poderia ser entendido como alguém que faz o que quer da vida e a ambigüidade que o termo traz (devido ao tom com que é dita) retrata bem a possibilidade de ser entendida de forma errada. Para reparar o erro, podemos completar com: e tem responsabilidade para decidir o que quer da vida.

Parte II

Tentando abordar o termo liberdade da forma mais genérica possível, percebe-se a princípio que cada indivíduo vê a vida de acordo com um _mini-mundo_ que lhe foi sendo criado a partir do meio externo.

O que diferencia os indivíduos é a amplitude do mini-mundo em que eles vivem. Existe o mundo real, completo e complexo em suas mais diversas esferas de atribuições, e nós nos enquadramos em uma parte dele. Alguns têm uma visão um pouco mais ampliada e outros menos, o que depende apenas do meio externo e das características da própria pessoa.

É normal que o índivíduo se acomode ao seu mini-mundo, sentindo-se confortável e não sentindo necessidade de mudanças, mas as pessoas mais críticas correm atrás e ampliam o escopo de conhecimento, e aos que têm a visão mais ampliada surgem questionamentos que são relevantes, mas que para os menos conhecedores não são, e a liberdade pode ser um deles caso seja aplicável ao seu contexto, seja social ou profissional. Ao se adquirir mais conhecimentos, surgem novos horizontes.

A liberdade pode ser caracterizada pelo seguinte: sempre que alguma coisa impede nosso crescimento pessoal ou livre arbítrio (mesmo que não se note), podendo ser caracterizada como restrição, surge a necessidade de quebra deste obstáculo para que se alcance uma "liberdade provisória" e conseqüente crescimento, afinal num mundo tão instável não sabemos quantos obstáculos mais vamos encontrar.

Aí surge o questionamento citado anteriormente: será que todos estão prontos para reconhecer a necessidade da liberdade ou, se reconhecer, saber lutar por ela? Definitivamente, eu acho que não. Aos que têm apenas medo de romper os obstáculos basta estendermos uma mão amiga e dizermos "o caminho é este, é difícil, mas vamos juntos!", fornecendo o apoio necessário. Porém, aos acomodados com sua situação, deve-se mostrar o caminho e perguntar "veja o que te espera, tem certeza que está satisfeito aí?". Então esperar uma mudança de atitude que com certeza virá, para que possamos dizer a primeira afirmativa a esta pessoa e trazê-la conosco.

Todos nós vivíamos em um mundo ilusório, a nossa realidade, nosso mini-mundo. Mas do outro lado existia um outro universo, embora caótico, que contemplava o nosso e muito mais coisas. A princípio surgia um pouco de confusão com a nova situação, pois deixava-se de lado um modelo de vida em detrimento de outro. E mesmo voltando ao modelo antigo, este te parecia artifícial e o desejo era de voltar para o novo modelo e assumir as novas "responsabilidades". Isto é o que acontece com a minoria das pessoas, assumir mais compromissos que o de praxe é realmente difícil e a liberdade te força a isso.

O típico exemplo do comodismo era o do tripulante revoltado da nave que queria voltar à "Matrix". Não preparado para assumir a "responsabilidade" de um "papel" no seu novo contexto, queria voltar a uma vida ilusória.

Um diálogo bem interessante é o que se procede entre "Morpheus" e "Neo", onde Morpheus pergunta a Neo se ele não sente algo de diferente no ar, uma necessidade de coisas que ele não sabe o que são, um desejo interno de mudança. Pergunta também se ele não sente que falta algum sentido na vida e se esta não lhe é restrita. É esse tipo de percepção que as pessoas acomodadas têm que adquirir, seja a fonte que restringe a liberdade algo sutíl ou uma coisa bem definida. Basicamente deve-se adquirir uma postura mais crítica das coisas.

A maioria das pessoas é assim: se puderem manter a sua comodidade, não importando os meios, ótimo!!! Mas se forem pegos de surpresa e não puderem ter mais esta falsa liberdade, ficarão sem uma alternativa verdadeira e sucumbirão.

Aos que se esforçam pela verdadeira liberdade, será garantido que esta não sumirá num estalar de dedos, pois foi baseada em esforço verdadeiro.

Portanto a liberdade é algo que todos podemos adquirir, porém requer mais atitude, personalidade e responsabilidade em virtude dos diversos caminhos que surgirão diante de nós e que poderemos escolher. Aos que não estão preparados cabe uma orientação no sentido de abrir a mente destas pessoas e mostrar-lhes que têm chance de desempenhar um papel neste novo contexto.

-- Alex Müller e Cárlisson Galdino

Special: 

Estão Sabotando o Computador para Todos

O projeto Computador para Todos foi lançado pelo Governo Federal como um projeto de Inclusão Digital que tenta facilitar a aquisição de computadores por famílias de baixa renda.

O projeto inicial exige - por méritos - uso de GNU/Linux, ainda assim seguindo alguns critérios. Agora, a proposta de dual boot pode levar tudo a perder.

Computador para Todos

O projeto foi pensado de modo a definir hardware, software e serviços mínimos para o fabricante que desejar fazer parte do projeto.

Assim, há toda uma definição de hardware mínimo e de conjuntos de software não por marca, mas por categorias (ver adiante). Também é necessário que a empresa ofereça suporte em português para o software em questão.

A vantagem do Computador para Todos envolve redução de impostos e concessão de financiamento. Uma outra restrição para o projeto é que o computador deve ser vendido a até R$ 1.400,00.

Por que GNU/Linux

Ficou definido pelo ITI que o Computador para Todos deveria apresentar software das seguintes categorias:

  • Sistema Operacional;
  • Editor de texto;
  • Planilha eletrônica;
  • Ferramenta de presentação;
  • Navegador Web;
  • Anti-vírus;
  • Firewall pessoal;
  • Cliente e-mail;
  • Compactador/descompactador;
  • Gerenciador de download;
  • Gerenciador de FTP;
  • Atualização automática;
  • Assinador de certificados;
  • Discador;
  • Visualizador de imagens;
  • Leitor de arquivos PDF;
  • Calculadora;
  • Cliente-chat;
  • Mensageiro instantâneo;
  • Video-conferência;
  • Reprodutor multimídia;
  • Jogos;
  • Editor de áudio;
  • Editor de imagem;
  • Editor de desenho;
  • Editor de HTML;
  • Gravador de CD.

Não é difícil ver que tal conjunto de programas sendo obtido como software proprietário encareceria demais o produto (só o conjunto de software ultrapassaria - e muito - o teto de R$ 1.400,00).

Foi por isso que distribuições GNU/Linux entraram no projeto e a Microsoft não. Porque conseguiram atender perfeitamente aos requisitos a um custo acessível para os fabricantes de computadores (que contratam distribuições GNU/Linux em estilo OEM). Mesmo incluindo suporte, foi possível entrarn no projeto. E as ferramentas têm sim qualidade. O OpenOffice/BrOffice é um dos exemplos de ótimas ferramentas distribuídas como Software Livre.

Além desse aspecto técnico, temos um outro ponto. Considere que:

  • a Microsoft detém alguns monopólios de mercado (é até ilegal isso, mas detém): Sistema Operacional, Suíte de Escritório...
  • o lucro do Windows para a Microsoft é de cerca de 85%, um valor absurdo fruto do monopólio;
  • todos esses benefícios do Governo Federal não vêm de graça. Têm um custo para nós: é nosso dinheiro.

Então, vale a pena tirar impostos de uma empresa que detém monopólio do mercado e 85% do valor obtido vai para realimentar esse ciclo de dependência?

Com GNU/Linux, várias empresas podem oferecer o conjunto de aplicativos e o suporte a um preço justo. Além disso, não nos tornamos dependentes de tais empresas. Se por acaso a empresa que faz a distribuição que você usa chegar a falir, qualquer empresa do ramo terá condições técnicas e legais para prestar serviço equivalente.

Diga-se de passagem: o fato de o computador vir com GNU/Linux não impede o comprador de pagar por uma licença de Windows e instalá-la, caso seja sua vontade.

E assim, o Computador para todos se tornou realidade.

Pirataria

Segundo pesquisa divulgada pela Positivo, 75% dos compradores de computador pelo projeto Computador para todos instalam Windows em até 3 meses.

Essa pesquisa curiosamente confirma o que o mercado achava que iria acontecer e não traz muita informação a respeito (pelo menos, eu não vi).

Mas deixemos isso de lado e perguntemos: "Ah, tá, computador com GNU/Linux o pessoal instala software pirata por cima, mas até que ponto isso não acontece com Windows?"

Pergunto isso por uma razão simples: muitos computadores têm vindo com uma versão altamente limitada do Windows, que permite apenas 3 janelas abertas de um mesmo programa e apenas 3 programas abertos ao mesmo tempo, dentre outras limitações. Quantos compradores instalam um Windows sem limitação, mas ilegal, no lugar desse? E quantos instalam um MS Office irregular? De quem é a culpa nesse caso? De os computadores não já virem todos com Windows completo e Office?

O problema da cópia ilegal é a cultura que impera hoje. As pessoas não acham suficientemente errado copiar um software a ponto de se privarem de seu uso. Mas claro! Uma mudança de GNU/Linux para Windows é bem mais explícita que uma de Windows Starter para Professional! Então, que se apontem os indicadores para o pinguím!

No caso do Computador para todos, faltou treinamento dos vendedores. Em uma loja aqui em Maceió, o vendedor sequer sabia o que era "o Linux" que vinha, o que oferecia exatamente e que havia suporte incluído. Isso somado à cultura da ilegalidade termina gerando frases de vendedor do tipo "Você compra e depois instala o Windows por cima, de graça".

Esses pontos os fabricantes não querem perceber, pois não lhes trazem vantagens...

O Golpe do Dual Boot

Veja bem: o Computador para Todos é um aparelho informático completo com tudo o que é necessário para usos comuns de um computador: ferramentas de escritório, suporte a impressora, navegador web... Tudo perfeitamente configurado para funcionar naquela máquina, atendendo ao requisito de aplicativos que é estabelecido.

Agora os fabricantes estão querendo fornecer computadores do projeto com Windows instalado adicionalmente, um golpe trapaceiro sem limites. Por quê?

  1. Um sistema desnecessário para o funcionamento do computador, já que viria como uma alternativa pré-instalada ao GNU/Linux. Mais, com um custo adicional para isso;
  2. Não precisariam se preocupar em atender aos requisitos técnicos quanto a softwares necessários para Windows, pois aqueles softwares já estão no GNU/Linux. Ou seja, uma trapaça pra colocar o Windows irregular (sem os softwares necessários) pegando carona no Linux.
  3. O Computador para Todos não é um projeto visando os fabricantes, mas um projeto de Inclusão Digital. E Inclusão Digital não se faz com Software Proprietário por uma série de razões (procurem a respeito, se não acharem textos digam que eu escrevo um outro artigo tratando disso).

O Serpro já se posicionou sobre a irregularidade que é o dual boot no Computador para Todos, mas infelizmente o Ministério da Ciência e Tecnologia disse que é regular porque a portaria não fala explicitamente de dual boot.

Mas eles estão infringindo explicitamente a Portaria ao colocar dual boot sim! Conforme apontado por Alexandre Oliva na lista PSL-Brasil, a Portaria restringe sim a Software Livre:

a) REQUISITOS MÍNIMOS PARA TODOS OS PROGRAMAS DE COMPUTADOR:
[...]
a.8) Software livre de código aberto com permissão de uso, estudo, alteração, e execução e distribuição;
a.9) Os aplicativos não poderão ser versões de demonstração e nem possuir restrições de funcionalidades, artificialmente implantadas.

Mais a respeito

eyeOS - Seu Sistema Operacional na Web

Quem nunca ouviu falar que um dia as aplicações todas de que precisamos estariam na Web? As coisas foram acontecendo e hoje temos webmail pra todo lado. E começam a ganhar força, formando a Web 2.0, aplicações mais e mais interativas. São editores de texto online, planilhas eletrônicas... E agora o próprio Sistema Operacional.

A bem da verdade, não seria exatamente o Sistema Operacional, mas sim o Ambiente de Trabalho, ou Desktop. Ainda assim, a idéia é muito interessante. Falo do EyeOS, que chegou à sua versão 0.9.

O site do serviço do eyeOS nos permite conhecer o sistema bem. Recomendo testes. É bem interessante e já tem algumas aplicações prontas.

Editor de textos ricos, com suporte a formatação e tabelas:

Navegador web (estranho isso de um navegador dentro do outro, mas tudo bem):

Até um leitor de notícias RSS já tem. Note que o eyeOS suport temas:

E há bem mais aplicativos além destes. Jogos, agenda, lista telefônica... E cada usuário pode escolher quais aplicativos quer ver na barra de ícones de forma bem simples:

Qual a utilidade de um sistema desses? Imagine uma empresa com 100 máquinas que trabalha basicamente com edição de texto e navegação web. Você instala o sistema em um servidor possante, cadastra todo mundo e libera acesso:

  • os arquivos ficam centralizados, e cada funcionário pode acessar seus arquivos de qualquer máquina;
  • os sistemas ficam centralizados e quando houver atualização, basta aplicá-la em um local;
  • novos sistemas podem ser criados e disponibilizados automaticamente em toda a empresa;
  • cada máquina precisa apenas de uma instalação GNU/Linux (pode ser Windows, mas se tudo que é importante estará na Web, pra que usar um sistema menos confiável?) com apenas modo gráfico e o firefox abrindo automaticamente (é, não precisa nem de gerenciador de janelas).

Realmente gostei da idéia. O projeto apresenta algumas pequenas imperfeições, mas já parece muito bom. Aguardemos os próximos capítulos.

Relato do Primeiro Encontro Nacional BrOffice.org

Ocorreu ontem, 2 de junho, o Primeiro Encontro Nacional BrOffice.org, um encontro em videoconferência usando a Infovia do CNI. O ponto central da transmissão foi em Fortaleza. Tudo correu muito bem. Alagoas também fez parte, e teve cerca de metade dos inscritos presentes em nosso auditório. Aqui segue um breve relato do evento.

Novidades do BrOffice.org

Após o Pronunciamento de Abertura, transmitido de Fortaleza, de lá mesmo tivemos a palestra do Claudio Filho sobre as novidades do BrOffice.org.

O BrOffice.org teve que adotar esse nome como um nome diferenciado de OpenOffice.org devido a uma complicação envolvendo patente de marca e uma empresa brasileira. Além de mudar o nome, foi criada também a ONG BrOffice.org, da qual o Claudio é o presidente.

O novo logotipo foi feito por Daniel Confortin, que já foi bastante elogiado. Ele falou que a "estilização das gaivotas" terminou visualmente similar a um pássaro da fauna brasileira, o Trinta-réis. A foto neste post é de um trinta-réis (Sterna fuscata) e se quiser, você pode ver mais fotos do pássaro.

O Corretor Ortográfico foi citado também, que já contém mais de 1.400.000 palavras graças ao trabalho de equipe coordenada pelo sergipano Raimundo Santos Moura. E aí há um outro projeto, o Corretor Gramatical, financiado pelo FINEP e liderado por Paulo Menezes, que já está funcionando. O CoGrOo (Corretor Gramatical) é um software à parte que, ao ser instalado, se integra automaticamente ao OpenOffice.org 1, 2 ou ao BrOffice.org.

Só um parêntese: como o próprio Claudio falou na apresentação, correção ortográfica diz respeito à escrita de cada palavra: "nóiz fomus" tem erro ortográfico; já correção gramatical diz respeito a concordâncias e corretude das construções de orações: "nós foi" não tem erro ortográfico nenhum, mas tem um erro gramatical de concordância verbal.

Claudio também citou Edidoc, um Gerador Automático de Documentos que é mantido por Gustavo Pacheco; e o Escritório Aberto, do Sincero Zeferino Filho, que está reunindo modelos para uso no BrOffice.org.

Dentre as novidades anunciadas, temos:

  • OpenOffice.org 2.0.3 será lançado na próxima semana. Desta vez, o BrOffice.org 2.0.3 será lançado ao mesmo tempo que a versão internacional;
  • Projeto Invista Nessa Idéia servirá para criar um canal de interação entre a ONG BrOffice.org e empresas;

Um aspecto também interessante foi que o BrOffice.org já permite uso de assinatura digital em seus documentos. Há interesse que permita assinatura digital também nos PDFs gerados pelo BrOffice.org, mas no momento é apenas uma idéia.

Open Document Format

Salomon, do BrOffice.org, falou sobre ODF. ODF é um conjunto de padrões abertos para documentos de escritório. É mantido pelo consórcio OASIS e já foi aprovado adotado pela ISO como padrão. É o ISO 26300.

"Padrões são abertos, formatos são fechados"

O que chamou a atenção foi o número de softwares que já suporta ODF. Dentre eles, temos, além do OpenOffice.org e do BrOffice.org:

  • IBM Workplace
  • Lotus Notes
  • Abiword
  • KOffice
  • WordPerfect
  • Editores online

Sobre a Microsoft, apesar de falarem de interoperabilidade, eles teimam em não querer adotar o ODF. Mas não há problemas, pois um plugin para adicionar ao MS Office suporte completo ao ODF já está pronto e será testado em breve em Massachusetts.

Suporte a Idioma

Um Dicionário de Sinônimos está sendo feito de modo a permitir interação através da Web e importação da web para o BrOffice.org.

Sobre o CoGrOo, já citado no início deste relato, foi feito de modo a reduzir ao mínimo o número de falsos positivos, que é quando a ferramenta classifica como erro uma passagem correta. Foi traçado um comparativo do CoGrOo com o Regra (usado pelo MS Office) e a qualidade na correção gramatical já está bem superior. Só quando se trata de erros estilísticos é que ainda não há suporte no CoGrOo, mas já está previsto para a próxima versão.

Erros estilísticos são mais simples do que erros gramaticais. São ocorrências como: tem que haver um espaço depois de vírgula, não pode haver espaço antes da vírgula, e por aí vai...

Atualmente, para o CoGrOo funcionar é preciso suporte a Perl e JDK da Sun. Isso é relativamente simples de se conseguir em GNU/Linux (apesar de a dependência de uma implementação específica de Java não ser algo tão bom), mas em Windows complica um pouco. Felizmente para todos, além do tratamento de erros estilísticos, a versão 2.0 do CoGrOo será inteiramente em Java e provavelmente funcionará também com as implementações livres de Java. Deve ser lançada até o final do ano.

Macros

O pernambucano Noelson Duarte apresentou o recurso de Macros do BrOffice.org, inclusive com alguns exemplos.

O mais interessante é que para macros, tem-se um mapeamento de recursos da ferramenta e várias linguagens possíveis para lidar com isso:

  • Java
  • Bean Shell
  • JavaScript
  • Python
  • BrOffice.org Basic

Dá pra fazer rotinas que modifiquem o documento, criem partes, acessem arquivos, escrevam janelas de diálogo para interação com usuário... Enfim, é um recurso bastante poderoso.

Projeto OpenOffice.org

Louis Suarez-Potts, do Canadá, falou sobre a importância do ODF. A tradução foi feita por Salomon.

A idéia principal é que no passado, quando escrevíamos documentos precisavamos apenas de papel e tinta, e de conhecimento da língua e da escrita. Quem quisesse ter acesso a este documento, bastava ter conhecimento da língua e da escrita e ter acesso ao papel, ter a leitura autorizada.

O que acontece hoje é que, quando escrevemos um documento no computador, nós adicionamos uma outra variante: o formato do arquivo. Se esse formato é de alguma empresa, secreto, significa que todos estamos dependentes dessa empresa. A partir desse ponto, dominar a língua e a escrita, e ter autorização para ler o documento não bastam mais, pois passamos a precisar de uma ferramenta específica. Os documentos que você escreve não são tão seus quanto você pensa.

O ODF surge para se tornar um padrão aberto, permitindo que qualquer programa implemente acesso perfeito a documentos que seguem esse padrão. Assim, deixamos de depender de uma empresa, já que vários programas e serviços serão capazes de ler corretamente os arquivos.

Em especial, falou-se de Governo. Governos democráticos devem colocar informações disponíveis para sua população. Utilizar um formato proprietário para isso é restringir de maneira injusta aqueles que terão acesso a tais informações. Por isso é tão importante que Governos adotem ODF, como o Governo do Estado de Massachusetts o fez formalmente.

Cases e Mesa Redonda

Foram apresentados os casos de migração para BrOffice.org que foram levados adiante pelo Banco do Brasil, pelo Exército Brasileiro e pelo Sistema FIEC.

Também tivemos uma Mesa Redonda bem interessante. Ponto de destaque: cobrança por retorno para a Comunidade. Estão migrando e economizando muito dinheiro, mas e a Comunidade? E sobre a dificuldade de contratação para pequenas empresas e profissionais autônomos? Claudio perguntou sobre possibilidade de convênios entre entidades do Governo e a ONG BrOffice.org. A representação do Banco do Brasil afirmou que iria informão quem lida com esse assunto, já que não era de sua própria competência.

Sobre cases e mesa redonda, mais assuntos foram tratados, porém não anotei nada. Complementos nesse sentido seriam úteis. Alguém mais que participou que falar a respeito? É só deixar um comentário.

Conclusão

O evento foi muito bom e inaugura na comunidade brasileiro do Software Livre uma nova modalidade de "Evento distribuído". Há empolgação e certamente teremos uma segunda edição no próximo ano.

Às 20h deixamos a transmissão foi encerrada e deixamos o local. Agradecimentos à organização do evento, em especial ao Claudio Filho e ao Marcus Diogo, do SENAI-CE.

Localmente, agradecemos ao apoio do SENAI-AL e ao Escritório de Advocacia Motta & Soares pelo patrocínio local.

Obrigado à equipe: Jalves Nicácio (do SENAI-AL, que liderou a organização), Pascale Maliconico (também do SENAI-AL), Antônio Luiz (do nosso grupo Guerreiros pelo Software Livre) e Fernando Carlos (da Motta & Soares).

Agradecimentos também aos que compareceram e até a próxima!

Opiniões de um Gnú Chato sobre o Xiitismo Linuxista

O tempo passou e o GNU/Linux continua sendo chamado só de Linux... Mas evoluiu bastante! E está brigando pelo Desktop também. O problema é que para essa briga há um número muito grande de pessoas que ouvem falar do negócio. E o efeito telefone sem fio termina por distorcer, truncar ou anexar informações a respeito dos conceitos de Software Livre, GNU/Linux e etc.

Vi ontem um post do Monthiel sobre uma análise do Ubuntu pelo 1/2 Bit. O problema? O título: Não! a divulgação negativa. Isso não seria censura?

Hoje vejo no Contraditorium, do Cardoso, um post em defesa da Bia, Garota Sem Fio. Uma defesa mais do que justa, pelo que consta, mas um tanto generalizada.

Tá bem, pára tudo! Vamos por partes! Tem muita coisa mal compreendida nessa história toda.

Conceitos e Definições

Primeiro, os termos.

Linux é um Núcleo de um Sistema Operacional tipo Unix. É quem se comunica com os dispositivos internamentes. Não é o Sistema Operacional. É um Software Livre.

GNU é um Sistema Operacional mínimo Unix, sem núcleo. Combina-se com o Linux quase sempre, gerando o Sistema Operacional GNU/Linux, mas pode se combinar com um núcleo chamado Hurd ou mesmo o núcleo do BSD (gerando o GNU/Hurd e o GNU/kBSD, respectivamente). Note que não se incluem interface gráfica e outros softwares na definição do Projeto GNU, mas eles podem ser utilizados e distribuídos junto com o GNU/Linux (ou GNU/outro-núcleo).

Software Livre é um pouco mais complexo. Vamos lá... Pode se referir ao programa de computador que dá certos direitos a todos os usuários. Ou pode se referir ao Movimento pelo Software Livre, do qual tratarei mais adiante.

Open Source pode ser um semi-sinônimo de Software Livre ao se referir ao programa de computador, mas pode ser também o Movimento direcionado a empresas, que foi criado a partir do Movimento pelo Software Livre, ignorando sua carga ideológica e ressaltando seus valores práticos na tentativa de despertar interesse no Mercado.

Devido à grande semelhança entre Software Livre e Open source quando software e diferença quando ideologias, é preferível hoje - embora ainda pouco praticado - o uso de termos como FLOSS (Free/Libre/Open-Source Software) ou FOSS para se referir ao programa de computador que, coitado, pouco tem a ver com as disputas entre os dois movimentos. Se todos fizermos isso, os termos "Software Livre" e "Open Source" sobrarão para os Movimentos propriamente, evitando-se confusões.

Conhecimento Livre

Os ideais do Software Livre têm a ver com Liberdade do Conhecimento, não "liberdade individual completa". Isso é um tanto confuso, é verdade. Por isso, pararei um pouco para um exemplo simples:

João é livre. José é livre. Juliana é livre. José vê os dois e mata ambos por ciúmes de Juliana. Ele é livre para fazer isso?

Não, não é. Por quê? Em um ambiente 100% livre ele poderia fazer isso, oras! Mas ninguém em sã consciência prega um ambiente 100% livre. A nossa liberdade individual deve ser limitada em função do "Bem Social", em favorecimento da "Humanidade" como um todo. É como aquele velho ditado popular: "Nossa liberdade termina onde começa a do próximo".

"Legal, mas o que isso tem a ver com Software Livre?" Software Livre é um Movimento que tem "sã consciência" e, assim sendo, não prega nossa liberdade completa no âmbito de que trata, restringindo-a em nome da nossa Liberdade Coletiva.

"Como?!" Software Livre é liberdade para o Conhecimento. Liberdade nossa total é Domínio Público. Por que a diferença? Bem, as duas liberdades se chocam em um momento: quando alguém tenta exercer sua liberdade individual para privar os outros de direitos sobre aquele conhecimento.

Para o Movimento pelo Software Livre, software é conhecimento e, como o tal, deve estar disponível para toda a Humanidade, para que todos possamos nos beneficiar dele. Mais que uma opção interessante, o Software Livre é o software ético. E isso não é uma decisão arbitrária. Nós o consideramos assim porque ele zela pela disponibilidade do conhecimento para que assim a Humanidade possa evoluir.

Estas são as bases do Software Livre. E não me falem de comercial... Software Livre pode muito bem ser utilizado para gerar receita, só muda a fórmula. Mas isso é outra história. O importante é que Software Livre se refere à acessibilidade do Conhecimento por qualquer de seus usuários, não nossa liberdade irrestrita.

Comunidade

A Comunidade do Software Livre é heterogênea, como é comum em comunidades extensas. Aqui nós temos diversas categorias de indivíduos, desde usuários até desenvolvedores de Softwares Livres.

Uma categoria que tem se destacado - mais pelo tipo de seus atos que pela quantidade - são os chamados "radicais livres". Porém, radicais não no sentido de "seguir o movimento muito à linha" e sim no sentido de "querer impor seu ponto de vista a todos, de forma intransigente e mal-educada em muitas ocasiões". Estes em geral são levados por entusiasmos e não são raras as vezes em que seus argumentos "não batem".

Muitos me considerariam radical, mas creio que não neste sentido e sim por seguir à risca nossa Ideologia. Aproveito a ocasião para, em nome de minha casta, me separar dos ditos xiitas. Chamem-nos - esse tido de radical que é idealista e educado - de Gnús Chatos! Que tal?

Já escrevi muito até aqui, mas meu objetivo era deixar claras as motivações ideológicas dos Gnús Chatos e mostrar que, algumas vezes apenas, os xiitas têm razão em seus argumentos (e na maioria delas estão equivocados).

Ainda que tenham razão em seus argumentos, como Gnú Chato considero importante:

  • explicar educadamente aquilo em que acreditamos, os conceitos, sempre que notarmos má compreenção;
  • tratar bem os usuários novatos, tirando suas dúvidas quando não-triviais e possíveis, e indicando documentação adequada e dicas de como conseguir informações de que precisa sem depender de ninguém. Claro, sempre de maneira educada. Nada de RTFM ou coisas do tipo. Listas de discussão e fóruns não fazem parte do dia-a-dia dos leigos e a Netiqueta infelizmente não é conhecida. Puní-los por isso soa muito mal.

Em suma é isso. Posso falar por mim e por alguns poucos que conheço, mas creio que este quadro retrate com certa aproximação o perfil Gnú Chato, que seriam os verdadeiros idealistas, não os xiitas que se revoltam quando um Software Livre não é gratuito ou com uma crítica negativa qualquer.

Parabéns ao 1/2 Bit e à Bia por suas análises, mesmo apontando erros. Não temam xiitas. Qualquer participante de projeto livre sabe muito bem que não dá pra corrigir um erro quando ele não é conhecido.

Impressões sobre o I ENSOL

Durante o evento estive desconectado da rede. Após voltar, mais problema com conexão... Finalmente apresento aqui minhas impressões sobre o I Encontro de Software Livre da Paraíba.

Primeiro, foi muito bom ver tanta gente interessada em Software Livre por lá. João Pessoa é uma cidade bastante aconchegante, de clima agradável, apesar de um pouco quente (certo, é minha opinião apenas. Se você vive abaixo do Nordeste ou um bocado acima do nível do mar, favor desconsiderá-la...).

Não foi possível ver muitas palestras, até porque como o evento usou três salas, o meu limite humano para "palestras completas" era de apenas 1/3 do total, sem contar os encontros paralelos. No final, o número de palestras que vi ficou bem baixo.

Especial destaque para a do Júlio Neves sobre comandos shell de apenas uma linha; do Hugo Cisneiros sobre compartilhamento do conhecimento; e do Sérgio Amadeu, que só pude ver o final, mas o pouco que vi já valeu a pena.

Sexta-feira, Salão Azul: encontro de Prefeituras. Lá tivemos representantes de prefeituras discutindo sobre uma forma de integração de esforços. Nisso, dois nomes se tornaram fortes:

  • Via Digital: projeto com verba do FINEP para criar um repositório de aplicações livres inter-operáveis para uso em prefeituras;
  • Console: este, que eu não conhecia, é um consórcio de municípios. Foi ameaçado pela saída do Marcos Vinícius de Rio das Ostras, mas está prestes a ser reativado sob a liderança de Luis Felipe, de Recreio-MG.

Corinto, que também participou da reunião, deixou claro que a aproximação entre as prefeituras deve vir das próprias prefeituras. Ou seja, tudo isso são estruturas para permitir uma comunicação mais integrada, mas não garante essa comunicação: vai depender de as prefeituras terem ou não interesse em usar esses meios.

Sobre adoção de Software Livre, o que parecia consenso é a necessidade de se institucionalizar cada passo dado no setor público na forma de decreto. Isso não garante que, em uma mudança de gestão, os projetos sejam desfeitos. Mas ao menos dificulta um pouco que isso aconteça.

Sábado à noite teve confraternização no Posto 6 (ou era "Ponto 6"?), ali na praia. Houve uma pequena confusão com as orientações dadas pelo Paulino, mas ao final estávamos lá, na praia. O pessoal foi chegando aos poucos e tudo foi bem. Conversas interessantes. Foi onde a maioria de nós ficou sabendo daquele artigo ofensivo e covarde daquele panfleto de opinião disfarçado de revista. Boa parte dos palestrantes e da organização do evento estava lá. Amadeu apareceu e foi embora um tempo depois. Ah, foram também testadas algumas arquiteturas diferentes de arrumação das mesas...

Domingo, Salão Azul: Primeiro Encontro Nordestino de Software Livre. Este encontro é uma reunião entre representações de grupos de fomento ao Software Livre em cada estado nordestino. Na reunião - onde apenas dois estados nordestinos faltaram - ficou decidido que o ENSL do próximo ano será em Aracaju-SE. Além disso, tratou-se de um site para o ENSL/CNSL, que servirá a princípio para divulgar os eventos de Software Livre no Nordeste e manter o histórico do que foi discutido nos encontros anteriores.

Para concluir, o evento foi muito bom! Foi bom conhecer o figura Anahuac, o Hugo - e saber que The Linux Manual está de volta -, conversar um pouco com Aurium. E é isso aí! Quem perdeu... Tem mais três eventos nordestinos esse ano ainda! Mas ENSOL e ENSL de novo só ano que vem... (ENSOL em João Pessoa e ENSL dessa vez em Aracaju).

Veja, um negócio que chamam de revista

Na edição mais recente da Veja veio mais uma matéria tendenciosa. Desta vez pude sentir quão tendenciosa foi a matéria, pois trata de um assunto técnico que acredito dominar bastante: Software Livre.

O ataque, ou melhor, a matéria, se chama O grátis saiu mais caro. Nela, a Veja prossegue em seus ataques contra o Governo e coloca na linha de fogo todo o esforço que tem sido feito em prol do Software Livre. E ela dispara. Dispara seus tiros dolorosos e covardes.

Não há muito mais o que falar a respeito. Sérgio Amadeu no PSL Brasil publicou uma boa resposta. o Sérgio, o Élcio, o Fábio, CIPSGA e Web Insider também se posicionaram a respeito. Sem contar o BR-Linux, que organizou uma resposta em número à revista.

Agora, com a resposta do ITI, que obviamente desmascara toda a trama, não há muito o que dizer. Exceto que é uma pena que tão medíocre e covarde panfleto de opinião seja tido por tanta gente como fonte confiável de informação...

--Cárlisson GaldinoAtualizado: Resposta do SERPRO revela mais lama da Veja.

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